Coluna Fragmentos: Catedral de Sant´Ana: símbolo da história e da religiosidade ponta-grossense | aRede
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Coluna Fragmentos: Catedral de Sant´Ana: símbolo da história e da religiosidade ponta-grossense

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Notícia publicada pelo JM em 11 de junho de 1978 tratando da demolição da Catedral de Sant´Ana
Notícia publicada pelo JM em 11 de junho de 1978 tratando da demolição da Catedral de Sant´Ana -

João Gabriel Vieira

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No século XIX diversos pintores, botânicos, engenheiros e geógrafos europeus passaram por nosso país e registraram em textos e imagens suas impressões sobre as gentes, a natureza e a sociedade brasileira.

Entre esses estrangeiros que tentaram descobrir um pouco mais sobre a “exótica” ex-colônia portuguesa estavam o alemão Karl Philipp Von Marthius, o inglês Thomas Bigg-Wither, o suíço Johann Von Tshubi e os franceses Robert Ave-Lallemant, August de Saint-Hilaire e Jean Baptiste Debret.

Debret era um pintor e desenhista que chegou ao Brasil em 1816 e, durante 15 anos, registrou cenas do cotidiano rural e urbano brasileiro, os habitantes da terra e as diversas paisagens nacionais.

Em 1827 Debret visitou os Campos Gerais do Paraná e, ao passar por Ponta Grossa produziu o primeiro registro visual de nossa cidade. Provavelmente postado nas proximidades de onde atualmente se localiza a Santa Casa de Misericórdia, o pintor francês retratou a parte onde se iniciou o povoamento princesino. A imagem mostra a existência de seis ou sete casas rústicas aglomeradas ao redor de uma pequena igreja de madeira que viria a se tornar (em 1940) a Catedral de Sant´Ana.

No início dos Novecentos, com o crescimento da cidade, foi construída uma nova igreja nesse mesmo lugar. Como Ponta Grossa vivia um momento de acentuado progresso urbano e econômico, fazia-se necessário um templo que se enquadrasse a realidade local. O trabalho foi coordenado por Nicolau Ferigotti, um arquiteto italiano com experiência na construção de igrejas. Pode-se dizer que o projeto de Ferigotti foi bastante ousado e inovador, pois, apesar do ecletismo (mistura de estilos arquitetônicos) ser algo comum naqueles tempos, as igrejas ocidentais eram predominantemente construídas no estilo greco-romano.

Essa construção passou a integrar a identidade ponta-grossense de forma “natural”. Situada na área central da cidade e inserida no rico conjunto de edificações locais, a Igreja de Sant´Ana tornou-se um patrimônio arquitetônico e, principalmente, cultural de nossa cidade.

Sua demolição no final da década de 1970 pode ser considerada como um dos maiores crimes já cometidos contra a história de Ponta Grossa. Apesar de compreender que a construção do início do século não mais comportava o volume de fiéis, sua demolição foi uma agressão que atingiu católicos, protestantes, espíritas e, até mesmo, os ateus ponta-grossenses. Mais do que um espaço de cultos religiosos, a antiga Catedral nos remetia as histórias vividas por nossos antepassados e nos falava diretamente sobre o processo histórico pelo qual nossa cidade passou para chegar até os dias de hoje.

Talvez a derrubada de construções históricas – como a Catedral de Sant´Ana, o Palácio Episcopal, a Casa Osternack, o prédio da Cervejaria Adriática – e a transformação de espaços como a “antiga” Estação Arte em comércio de frutas e verduras (nada contra ao atendimento as famílias carentes, mas tudo contra o espaço escolhido para tal fim) nos ajude a entender porque enquanto as cidades históricas mineiras são reconhecidas como “Patrimônio da Humanidade” e recebem turistas (e receitas) do mundo todo, Ponta Grossa – mesmo sendo o pólo principal dos Campos Gerais – tem dificuldades de integrar minimamente as rotas de turismo cultural na região. 

Como não podemos prever o futuro, resta-nos torcer para que ninguém resolva demolir a atual Catedral de Sant´Ana com a alegação de que ela não é bastante grande ou imponente para atender os “novos tempos”, tal qual argumentou D. Geraldo Pellanda há cerca de 30 anos!

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 01 de fevereiro de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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