Antes de planos de contingência, Ponta Grossa precisa reduzir vulnerabilidade social | aRede
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Antes de planos de contingência, Ponta Grossa precisa reduzir vulnerabilidade social

Conselheiro, urbanista explica que cidade necessita de uma política pública que una adaptação climática + justiça territorial

Henrique Wosiack Zulian é conselheiro na área de Urbanismo
Henrique Wosiack Zulian é conselheiro na área de Urbanismo -

Rodolpho Bowens

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O conselheiro da área de Urbanismo do Grupo aRede, Henrique Wosiack Zulian, acredita que Ponta Grossa precisa reduzir sua vulnerabilidade social, antes de construir planos de contingência contra desastres naturais - o debate faz parte de uma reportagem especial, onde se questiona se Ponta Grossa está preparada para esses eventos. Além disso, ele reforça a necessidade de políticas públicas que unam adaptação climática + justiça territorial.

Confira abaixo a opinião na íntegra de Henrique, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pós-graduado pela Escola da Cidade e mestre na área de Projeto Arquitetônico pela Universidade de São Paulo (FAU-USP). Ele também tem dezesseis premiações em concursos de arquitetura pelo Brasil, inclusive em Ponta Grossa:

"Ponta Grossa possui mais de 1,6 mil pessoas vivendo em 11 áreas de risco, sujeitas a alagamentos e deslizamentos. A Prefeitura tem planos de contingência, monitoramento e estrutura de resposta - o que é fundamental - mas a análise urbana revela que o grande desafio não é apenas reagir ao desastre, e sim reduzir vulnerabilidades sociais e territoriais.

Ponta Grossa tem um centro em posição elevada, largo e aberto, exposto aos ventos que chegam dos Campos Gerais.

Já a população mais vulnerável se concentra historicamente nos vales, que poderiam ser ambientes mais protegidos, mas que, pela forma como foram ocupados, acabaram se tornando regiões de maior risco.

VÍDEO
Assista à opinião do conselheiro de Urbanismo | Autor: Colaboração.
 

Essas áreas de risco não surgem por acaso: geralmente são territórios onde famílias de baixa renda se instalam por falta de alternativas de moradia próximas ao trabalho, à rede social e aos equipamentos urbanos. Por isso, simplesmente remover comunidades e enviá-las para conjuntos habitacionais distantes tende a reproduzir o problema, gerando ruptura social, aumento do tempo e custo de deslocamento e, muitas vezes, abandono das novas moradias.

Os projetos mencionados pela Prefeitura - como contenção de cheias, criação de novas áreas verdes ao longo das bacias e a APA de Olarias - são passos importantes, mas precisam ser acompanhados de uma política habitacional que requalifique o território existente, e não que expulse seus moradores.

Isso significa:

1: Planejamento climático com foco social:

Os planos de contenção para os próximos 100 anos são essenciais, mas precisam dialogar com quem vive nesses territórios. Planejar adaptação climática não é só engenharia - é política pública que considera habitação, transporte, mobilidade, serviços, emprego e pertencimento;

2: Liberar e renaturalizar o térreo das áreas de risco:

Nas faixas de inundação, a solução não é ocupar ou murar - é abrir espaço para o rio: parques de contenção, áreas verdes drenantes, equipamentos públicos em nível elevado e zonas de convivência que funcionam como áreas de retenção nos períodos de chuva intensa;

3: Transformar risco em infraestrutura pública:

Parques lineares, bacias de retenção, áreas esportivas permeáveis e corredores verdes reduzem alagamentos, aumentam a segurança e melhoram a qualidade de vida;

4: Construir habitação social próxima à origem das comunidades:

Quando famílias são transferidas para longe, perdem vínculos, empregos e serviços. A alternativa é produzir moradias no próprio bairro, em terrenos seguros, com arquitetura de qualidade e garantindo que as pessoas não sejam removidas para periferias distantes;

5: Reflorestamento como proteção climática:

Reflorestar as bordas do município - especialmente nas áreas mais altas, onde o vento ganha força - funciona como barreira natural, reduzindo a velocidade dos vendavais antes que atinjam o tecido urbano. A vegetação densa diminui o impacto do vento, retém solo, reduz erosão e melhora o microclima.

Assim, Ponta Grossa pode avançar para um modelo onde ninguém precisa morar em áreas de risco, não porque foi removido, mas porque o território foi readequado e as famílias receberam alternativas reais para permanecer onde suas vidas já aconteciam.

Ou seja, a cidade precisa de uma política que una adaptação climática + justiça territorial".

CONSELHO DA COMUNIDADE

Composto por lideranças representativas da sociedade, não ocupantes de cargo eletivo, totalizando 14 membros, a iniciativa tem o objetivo de debater, discutir e opinar sobre pautas e temas de relevância local e regional, que impactam na vida dos cidadãos, levantados semanalmente pelo Portal aRede e pelo Jornal da Manhã, com a divulgação em formato de vídeo e/ou artigo.

Conheça mais detalhes dos membros do 'Conselho da Comunidade' acessando outras notícias sobre o projeto.

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