Antes de planos de contingência, Ponta Grossa precisa reduzir vulnerabilidade social
Conselheiro, urbanista explica que cidade necessita de uma política pública que una adaptação climática + justiça territorial
Publicado: 18/11/2025, 20:30

O conselheiro da área de Urbanismo do Grupo aRede, Henrique Wosiack Zulian, acredita que Ponta Grossa precisa reduzir sua vulnerabilidade social, antes de construir planos de contingência contra desastres naturais - o debate faz parte de uma reportagem especial, onde se questiona se Ponta Grossa está preparada para esses eventos. Além disso, ele reforça a necessidade de políticas públicas que unam adaptação climática + justiça territorial.
Confira abaixo a opinião na íntegra de Henrique, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pós-graduado pela Escola da Cidade e mestre na área de Projeto Arquitetônico pela Universidade de São Paulo (FAU-USP). Ele também tem dezesseis premiações em concursos de arquitetura pelo Brasil, inclusive em Ponta Grossa:
"Ponta Grossa possui mais de 1,6 mil pessoas vivendo em 11 áreas de risco, sujeitas a alagamentos e deslizamentos. A Prefeitura tem planos de contingência, monitoramento e estrutura de resposta - o que é fundamental - mas a análise urbana revela que o grande desafio não é apenas reagir ao desastre, e sim reduzir vulnerabilidades sociais e territoriais.
Ponta Grossa tem um centro em posição elevada, largo e aberto, exposto aos ventos que chegam dos Campos Gerais.
Já a população mais vulnerável se concentra historicamente nos vales, que poderiam ser ambientes mais protegidos, mas que, pela forma como foram ocupados, acabaram se tornando regiões de maior risco.
Essas áreas de risco não surgem por acaso: geralmente são territórios onde famílias de baixa renda se instalam por falta de alternativas de moradia próximas ao trabalho, à rede social e aos equipamentos urbanos. Por isso, simplesmente remover comunidades e enviá-las para conjuntos habitacionais distantes tende a reproduzir o problema, gerando ruptura social, aumento do tempo e custo de deslocamento e, muitas vezes, abandono das novas moradias.
Os projetos mencionados pela Prefeitura - como contenção de cheias, criação de novas áreas verdes ao longo das bacias e a APA de Olarias - são passos importantes, mas precisam ser acompanhados de uma política habitacional que requalifique o território existente, e não que expulse seus moradores.
Isso significa:
1: Planejamento climático com foco social:
Os planos de contenção para os próximos 100 anos são essenciais, mas precisam dialogar com quem vive nesses territórios. Planejar adaptação climática não é só engenharia - é política pública que considera habitação, transporte, mobilidade, serviços, emprego e pertencimento;
2: Liberar e renaturalizar o térreo das áreas de risco:
Nas faixas de inundação, a solução não é ocupar ou murar - é abrir espaço para o rio: parques de contenção, áreas verdes drenantes, equipamentos públicos em nível elevado e zonas de convivência que funcionam como áreas de retenção nos períodos de chuva intensa;
3: Transformar risco em infraestrutura pública:
Parques lineares, bacias de retenção, áreas esportivas permeáveis e corredores verdes reduzem alagamentos, aumentam a segurança e melhoram a qualidade de vida;
4: Construir habitação social próxima à origem das comunidades:
Quando famílias são transferidas para longe, perdem vínculos, empregos e serviços. A alternativa é produzir moradias no próprio bairro, em terrenos seguros, com arquitetura de qualidade e garantindo que as pessoas não sejam removidas para periferias distantes;
5: Reflorestamento como proteção climática:
Reflorestar as bordas do município - especialmente nas áreas mais altas, onde o vento ganha força - funciona como barreira natural, reduzindo a velocidade dos vendavais antes que atinjam o tecido urbano. A vegetação densa diminui o impacto do vento, retém solo, reduz erosão e melhora o microclima.
Assim, Ponta Grossa pode avançar para um modelo onde ninguém precisa morar em áreas de risco, não porque foi removido, mas porque o território foi readequado e as famílias receberam alternativas reais para permanecer onde suas vidas já aconteciam.
Ou seja, a cidade precisa de uma política que una adaptação climática + justiça territorial".
CONSELHO DA COMUNIDADE
Composto por lideranças representativas da sociedade, não ocupantes de cargo eletivo, totalizando 14 membros, a iniciativa tem o objetivo de debater, discutir e opinar sobre pautas e temas de relevância local e regional, que impactam na vida dos cidadãos, levantados semanalmente pelo Portal aRede e pelo Jornal da Manhã, com a divulgação em formato de vídeo e/ou artigo.
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