Coluna Fragmentos: Ilex Paraguaiensis
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 04/09/2023, 00:17
Originária da América do Sul, a Ilex paraguariensis – ou a erva-mate como é popularmente conhecida – é encontrada em quantidade no Paraguai, na Argentina, no Uruguai e no sul do Brasil. Os nativos da região já a conheciam e a consumiam desde antes da chegada dos colonizadores portugueses e espanhóis. No século XIX, com a ocupação mais efetiva do sul brasileiro, teve início a produção e a comercialização em larga escala desse produto para o mercado europeu. Foi a partir dessa atividade que a economia do Paraná – enquanto ainda pertencia a Província de São Paulo – entrou em uma fase comercial.
Até o início dos Oitocentos as atividades econômicas desenvolvidas no território paranaense limitavam-se as práticas extrativas e agrícolas de subsistência. Segundo o historiador Carlos Roberto Antunes dos Santos (UFPR), desse período em diante é possível afirmar que a economia do Paraná se estruturou a partir de dois eixos: a produção ervateira e o tropeirismo.
Em nosso estado, a produção da Ilex paraguariensis surgiu no primeiro planalto, mas se expandiu pelos Campos Gerais, exercendo um peso considerável nessa região, sobretudo na virada do século XIX para o XX. Inicialmente a erva-mate beneficiada era acondicionada em surrões (invólucros produzidos com o couro do gado), sendo exportada nessas embalagens até o século XIX. Por volta da década de 1850, os surrões deixaram de ser utilizados e foram substituídos por barricas de pinho fabricadas na serrarias que começaram a surgir no estado.
Esse novo método de acondicionamento possibilitou uma melhor conservação da erva e também a gravação da marca do produtor, o que passou a corresponder em um diferencial no que respeita a disputa de mercados pelos ervateiros paranaenses. No caso de Ponta Grossa, tanto o comércio da erva-mate quanto as ervateiras – indústrias que beneficiavam o produto – ocuparam um lugar de destaque na economia local. Detentora de um comercio atacadista pujante que, nas décadas iniciais dos Novecentos, atendia todo o interior paranaense, Ponta Grossa contava com diversas casas comerciais que vendiam a erva-mate beneficiada em grande escala, como, por exemplo, a Casa Juca Pedro, a Loja André Justus e a Casa Villela.
Já entre as ervateiras, o principal destaque ficou por conta da Hervateira Pontagrossense, pertencente a José Pompeo. Inaugurada na primeira década do século XX e localizada na Rua Conselheiro Barradas, nas cercanias do complexo ferroviário, a indústria teve rápido crescimento. A maior parte da erva-mate ali beneficiada era embarcada na ferrovia e vendida nos estados do centro-sul brasileiro e também na Argentina. A erva-mate ocupou a condição de principal produto da economia paranaense até o início da década de 1930, chegando a representar 85% da economia do estado. A crise mundial deflagrada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque (1929) – que fez despencar a venda do produto no mercado internacional – resultou na retração de sua extração e de seu beneficiamento em todo o Paraná.
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Entre os indígenas
A Ilex paraguariensis era consumida pelos índios Guaranis que habitavam a região localizada nas bacias dos rios Paraguai, Uruguai e Paraná. Eles costumavam beber infusões feitas com as folhas da erva. Foi a partir dessa prática que surgiu o hábito corrente até os dias atuais do consumo do chimarrão (bastante comum no sul do Brasil) e também do chá mate.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 29 de maio de 2011.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.