Coluna Fragmentos: A TFP e o conservadorismo católico no Brasil | aRede
PUBLICIDADE

Coluna Fragmentos: A TFP e o conservadorismo católico no Brasil

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Em 05 de junho de 1975, no auge da ditadura militar brasileira, a TFP publicou nota no JM expondo o seu posicionamento sobre a realidade política nacional
Em 05 de junho de 1975, no auge da ditadura militar brasileira, a TFP publicou nota no JM expondo o seu posicionamento sobre a realidade política nacional -

João Gabriel Vieira

@Siga-me
Google Notícias facebook twitter twitter telegram whatsapp email

A década de 1960 se caracterizou, no Brasil, como um período marcado por uma efervescência sociocultural constante. O avanço de vários movimentos sociais – como as Ligas Camponesas lideradas por Francisco Julião e o movimento estudantil capitaneado pelas jovens lideranças da UNE –, o fortalecimento de uma literatura e de uma produção musical dita engajada, a chegada de João Goulart à presidência após a renúncia de Jânio Quadros, deram um tempero bem característico àquele momento. 

Em resumo, naquele decênio o Brasil assistiu a um avanço dos movimentos populares, algo, até então bastante incomum na história do país. Ao mesmo tempo diversos grupos conservadores se articularam na sociedade brasileira no sentido de reagir e de conter os avanços desses movimentos populares. Em julho de 1960, Plínio Corrêa de Oliveira, um dos principais expoentes do catolicismo conservador brasileiro, fundou uma sociedade civil que tinha por objetivo recuperar valores da doutrina tradicional da Igreja Católica que ele e seus pares consideravam em declínio em nossa sociedade. Assim nasceu a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a TFP. 

Quanto a sua doutrina, a TFP estava associada ao ultramontanismo católico, movimento que nasceu em Roma no começo do século XX e que se espalhou pelo mundo tendo como diretrizes fundamentais o combate aos valores da modernidade e, principalmente, a negação absoluta a ideia revolucionária (especialmente o ideário marxista). No Brasil a perspectiva ultramontana teve como um de seus marcos iniciais a criação, em 1922, do Centro Dom Vital, um núcleo que congregou católicos leigos liderados por Jackson de Figueiredo, um defensor aguerrido do catolicismo conservador. Desde então, tal pensamento se reproduziu a partir de diversos movimentos e instituições que se dispuseram a levantar a bandeira do conservadorismo social, defendendo a ideia de que a sociedade brasileira carecia de um choque de moral, de ordem e de hierarquia. 

Nos anos 60 do século passado, a TFP se tornou a principal referência do catolicismo conservador no país e teve atuação destacada no processo que levou a queda de João Goulart e ao golpe militar de 31 de março de 1964. As “Marchas da Família com Deus pela Liberdade”, que reuniram centenas de milhares de pessoas nas principais capitais brasileiras nas semanas que antecederam ao golpe, foram organizadas pela TFP e demonstram a força que tal instituição possuía no Brasil naqueles tempos. 

Durante a ditadura militar, a TFP e seu criador – Plínio Oliveira – viveram o seu auge em termos de popularidade e de prestígio religioso e político. Com o fim do regime e com a volta da normalidade política os tefepistas perderam espaços, contudo, o pensamento católico conservador ainda sobrevive em nosso país. Além da própria TFP, outras organizações que se pautam em premissas similares se estruturam no país, defendendo os valores tradicionais do catolicismo e a ideia de que os princípios presentes na Igreja medieval devem ser retomados pelas sociedades contemporâneas.

.

O fundador

Plínio Corrêa de Oliveira Nascido em São Paulo (1908), iniciou sua militância no movimento católico na década de 1920, tendo destacada atuação na fundação da Ação Universitária Católica da Faculdade de Direito de São Paulo e na criação da Liga Eleitoral Católica (partido que, na década de 1930, reunia leigos e clérigos de tendência conservadora). Eleito deputado constituinte em 1934, preocupou-se com a inserção de valores católicos na Constituição promulgada naquele ano. Antes de fundar a TFP (em 1960), contribuiu na criação do jornal O Legionário e da revista Catolicismo, ambas publicações que tinham como princípio a disseminação de valores associados ao catolicismo conservador.

.

Embates entre tefepistas e os católicos 

A TFP defende, com veemência, a contraposição aos católicos progressistas, os quais, segundo os tefepistas, adaptaram a doutrina e as práticas pastorais aos “novos tempos” e, assim, traíram a essência do catolicismo. Tal postura radical muitas vezes gerou, desde a sua criação, um mal estar e, até mesmo um embate, entre os militantes tefepistas e outros segmentos mais liberais vinculados a Igreja Católica.

.

O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 10 de abril de 2011.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

PUBLICIDADE

Participe de nossos

Grupos de Whatsapp

Conteúdo de marca

Quero divulgar right

PUBLICIDADE