Coluna Fragmentos: A pompa dos bailes de debutantes | aRede
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Coluna Fragmentos: A pompa dos bailes de debutantes

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

No dia 22 de julho de 1962 o JM anuncia a chegada do baile dos Vestidos Brancos
No dia 22 de julho de 1962 o JM anuncia a chegada do baile dos Vestidos Brancos -

João Gabriel Vieira

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Apesar de já não ser uma prática tão comum, obviamente grande parte da sociedade já ouviu falar ou já presenciou um baile de debutantes. E quando da referência a este assunto todo o encantamento e magia de clubes decorados, meninas “embonecadas” e ansiosas, familiares orgulhosos e um público curioso vem à tona, juntamente com toda a pompa, característica deste tipo de acontecimento.

A palavra debutante, de origem francesa, significa estreante ou iniciante. Em seu significado original sugeria a passagem da infância/adolescência, de uma vida reclusa e de brincadeiras para a vida em sociedade, para o ser mulher. A partir deste momento, a moça estaria apta a frequentar as festas, a namorar e normalmente, a casar.

A origem dos bailes de debutantes é remota, talvez por esta razão este esteja tão arraigado em nossa memória. Mais do que uma simples festa em comemoração a troca de idade, os quinze anos, o baile representava uma demonstração do capital simbólico da família e da moça. Era uma ocasião para a exibição do status social de cada sobrenome no interior de uma complexa rede de interesses, conhecimentos e representações. 

O baile era a ocasião adequada, aguardado e planejado, com requinte e nos mínimos detalhes, para a apresentação da moça em idade casadeira ao meio social ao qual esta pertencia. Era a oportunidade perfeita para a exibição e manutenção do prestígio da família e ocasião adequada para que boas possibilidades de casamento fossem feitas. 

Adaptado dos costumes europeus para o nosso país, representava, acima de tudo, um acontecimento social, visto a sua ocorrência em grande parte do Brasil e em todas as nossas cidades, fossem elas grandes centros ou interioranas, como é o caso de Ponta Grossa, que sempre apresentou uma tradição de valorização deste tipo de eventos.

Para a imensa maioria das meninas, principalmente as de classe alta e média, até os anos 60, o baile de debutantes representava, talvez, o maior acontecimento festivo e social de suas vidas, já que a estas estava reservado o padrão social típico de seu contexto: concluir os estudos iniciais, encontrar um bom marido, casar, ter filhos e serem donas do lar.

Para o cientista social José Machado Pais, em seu estudo sobre os debutes em uma região de Portugal, estes se caracterizavam por serem de ser uma solução simbólica, oportunidade para que certos grupos já estabelecidos na sociedade mantivessem contatos com os “novos ricos” não inclusos em uma linhagem aristocrata sem grandes tensões sociais. Era o momento adequado, para que, através de ritos de etiqueta e hábitos normatizadores, jogos de interesse e negociações fossem travados.

Segundo o mesmo pesquisador, o sabor romântico das festas (as luzes, os vestidos brancos, a música e os smokings) era contraposto ao espírito de competição entre os participantes. Dessa forma, havia, mesmo que velada, uma busca por pequenos deslizes que davam origem aos “falatórios, às invejisses e às intriguisses”. Assim sendo, uma preocupação pormenorizada como todos os aspectos, principalmente aos que tangiam ao comportamento e vestimenta femininos eram observados.

Juntamente a estes ritos de etiqueta, que eram expressões de estilos de vida e de valores de grupos sociais, estava a subjetividade da jovem debutante. A preparação e o acontecimento do baile representavam a afirmação e consolidação de uma nova fase, de uma nova identidade. Era uma espécie de metamorfose. Além disso, devem ser considerados e desejo de ser vista e reconhecida em seu meio.

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Bailes na atualidade

Apesar de não mais com o mesmo significado, principalmente para as jovens, ainda é possível verificar a existência de bailes de debutantes, talvez atualmente resignificado como “festas de quinze anos”. Mesmo não mantendo fielmente as mesmas características do primeiro, as famosas festas de quinze anos ainda apresentam muitas características de seu predecessor, o debute. O rito de passagem ainda é valorizado e a festa como um espaço de sociabilidade, manutenção de prestígio e intensa rede de interesses continua como no primeiro.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 12 de dezembro de 2010.

Coluna assinada por Amanda Cieslak Kapp, historiadora e professora da Unibrasil e do Instituto Federal do Paraná/Campus Pinhais.

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