Novas conexões urbanas geram debates sobre desenvolvimento e sustentabilidade
Com investimento de R$ 95,2 milhões, projeto de mobilidade urbana transforma tráfego em Ponta Grossa
Publicado: 10/11/2025, 15:16

Projetos de mobilidade urbana, como os executados pela Prefeitura de Ponta Grossa, têm pautado novas discussões sobre o crescimento da cidade. Embora representem o avanço da urbanização e o atendimento a demandas sociais, essas obras também despertam questionamentos sobre os impactos estruturais, sociais e ambientais decorrentes. Leia o dossiê completo clicando aqui.
O diretor de Urbanismo da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), Fabiano Gravena Carlin, atribui o crescimento urbano aos investimentos da atual gestão. “Acho que a cidade tem crescido bastante. O Plano Diretor, recentemente aprovado e revisado, balizou o crescimento da cidade em termos de regiões - para onde Ponta Grossa vai, onde pretende verticalizar e em que direção deve se expandir. Vejo que a Prefeitura tem investido maciçamente em pavimentação", explica à reportagem.

Fabiano também aponta desafios estruturais para o futuro da cidade. “Na Souza Naves, na Presidente Kennedy e na Senador Flávio Carvalho Guimarães, que hoje são rodovias que passam dentro da cidade, há um tráfego pesado muito grande, mas que deixará de existir com o Contorno. Assim que a concessionária entregar a obra, o próximo passo será pensar o que fazer nessas regiões - o destino do comércio, as prioridades urbanas, possíveis alterações viárias e até corredores exclusivos de ônibus que transformem essas rodovias em avenidas", relata.
O diretor defende ainda a descentralização do comércio. “Por que não pensar em um novo Centro em outra região de Ponta Grossa? Descentralizar o comércio do Centro para os bairros é fundamental. E, mais do que isso, é importante criar polos regionais. Isso já vem acontecendo naturalmente. Na região da Siqueira Campos, por exemplo, o comércio tem se desenvolvido bastante. Mas o poder público pode incentivar ainda mais, estimulando a criação de centros comerciais e de serviços nos bairros, para que a população não precise se deslocar até o Centro", acrescenta.
Para ele, grandes obras estruturantes são o caminho para o futuro. “Do ponto de vista da mobilidade, a cidade precisa pensar em obras de grande porte, que envolvam desapropriações e a criação de avenidas largas, de vias rápidas, como ocorre em grandes centros”, finaliza.
PROJETOS SUSTENTÁVEIS - O arquiteto e urbanista Henrique Wosiack Zulian, também conselheiro do Grupo aRede, avalia que as novas conexões entre bairros de Ponta Grossa precisam incorporar soluções sustentáveis. “Essas obras podem ser uma oportunidade para aplicar pavimentações mais ecológicas. Como muitas ligações são feitas sobre terrenos antes permeáveis, o uso de blocos intertravados de concreto permitiria a absorção da água da chuva, reduzindo alagamentos e recarregando o lençol freático", comenta.

Zulian explica que o sistema também facilita a manutenção e melhora a segurança. “Os blocos podem ser retirados e recolocados facilmente em caso de intervenções. Em áreas de relevo acidentado, como em Ponta Grossa, oferecem melhor drenagem e aderência, tornando o deslocamento mais seguro”. O arquiteto alerta para os riscos da expansão urbana desordenada. “Ampliar o perímetro urbano pode parecer uma solução simples, mas tende a gerar mais custos com infraestrutura, transporte e serviços públicos. As novas vias devem fortalecer bairros já existentes e não estimular a ocupação de áreas rurais. Abrir estradas em direção a regiões não urbanizadas pode criar vetores de expansão descontrolada", argumenta.
O arquiteto reforça que os projetos devem priorizar o bem-estar da população. “Não basta ligar um bairro ao outro se o trajeto não for agradável ou seguro. É essencial investir em passeios acessíveis, iluminação e arborização, garantindo conforto aos pedestres. As ciclovias também devem ser integradas às novas ligações e aos terminais de transporte, promovendo uma mobilidade realmente democrática”, finaliza o conselheiro do Grupo aRede.
VETORES ECONÔMICOS - Diferente da análise de Zulian, a secretária de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional de Ponta Grossa, Faynara Merege, vê os novos corredores urbanos como motores de crescimento econômico. “Ao conectar regiões antes pouco integradas, esses corredores fortalecem o comércio local e atraem novos empreendimentos. Também facilitam o acesso dos trabalhadores a polos industriais e de serviços, criando um ciclo virtuoso de dinamismo econômico, circulação de pessoas e geração de empregos".

Faynara também aponta um viés sustentável de desenvolvimento econômico. “Ao melhorar a infraestrutura, plantamos as bases de um crescimento sustentável. Queremos que os empresários possam expandir, que os trabalhadores cheguem mais rápido ao emprego e que as famílias ganhem mais tempo para o lazer. Isso é qualidade de vida e desenvolvimento real".
Já o secretário de Serviços Públicos de Ponta Grossa, Eduardo Marques, destaca o impacto prático das obras. “Com a revitalização de diversas vias da cidade - não apenas das principais - criamos novas alternativas de tráfego entre os bairros. Isso significa menos tempo de deslocamento, menor lentidão e mais opções de rota para os motoristas".

Quem também conversou com a reportagem foi o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Ponta Grossa (Iplan), Rafael Mansani, reforça a integração entre planejamento e execução. “Os novos corredores de desenvolvimento estão alinhados ao Plano de Mobilidade Urbana e ao Plano Diretor de Ponta Grossa. Eles tornam áreas periféricas mais atrativas para investimentos, aproximam moradia e trabalho e evitam a expansão desordenada, garantindo uma cidade mais compacta e eficiente”.

PROJETOS FUTUROS E VISÃO DE LONGO PRAZO - Segundo a Prefeitura de Ponta Grossa, há projetos prontos para execução, aguardando apenas liberação de recursos ou medidas compensatórias. Entre eles estão:
- Viabilizados por medida compensatória: ligação 31 de Março – Baraúna; Portal do Norte – Vila Romana; Residencial América/Manacás/Estrela do Norte – Vila Los Angeles; e duplicação da avenida Carlos Cavalcanti (entre a rotatória da Universidade Estadual de Ponta Grossa e o Jardim Paraíso).
- Prontos para captação de recursos: ligação Sabará – Parque do Café (estimada em R$ 4 milhões); e ligação Colônia Dona Luiza – Santa Luzia pela antiga linha férrea (R$ 8 milhões).
Também estão em estudo a Perimetral e o Anel Viário, incluindo trechos da Valério Ronchi (já duplicada), Contorno Leste (com previsão de duplicação), Antônio Saad, Sistema Cará-Cará (binário da Siqueira Campos e duplicação da Pedro Wosgrau) e o Sistema Contorno (Binário da Nicolau Kluppel e duplicação da Aldo Bonde).
Esses projetos reforçam a integração entre bairros, ampliam o acesso a diferentes regiões e reduzem o tempo de deslocamento. Ao mesmo tempo, abrem espaço para novas discussões sobre os impactos urbanos e as demandas que surgirão com o crescimento de Ponta Grossa.





















