Coluna Trilha da Fé: A Copa do Mundo nas memórias de um bispo
Um bispo de muitas e ricas memórias
Publicado: 24/12/2022, 05:00
Um bispo de muitas e ricas memórias. Sergio Arthur Braschi, depois ter passado pelo Seminário Menor São José e pelo Seminário Maior Rainha dos Apóstolos, em Curitiba, em setembro de 1969, o então seminarista partia para Roma para cursar Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Por três anos, foi aluno do Colégio Pio-Brasileiro. Na Itália, emprestava a alegria de sua musicalidade às festas dos que estavam longe da Pátria. Para aperfeiçoar a técnica no violão, emprestava todos os discos de música popular brasileira que via pela frente. Gravava e ‘tirava’ letras e cifras. Chegou a ter mais de 500 canções. No final de 1971, a Associação Católica dos Trabalhadores Italianos promoveu um show beneficente, patrocinado pela Varig, onde ele e um padre mineiro se apresentaram. Quando terminaram de cantar, quem subiu ao palco foi nada mais nada menos que Elza Soares.
Nessa mesma época, Dom Sergio acompanhou a Copa do Mundo. O último jogo do Brasil na Copa de 70 foi contra a Itália. A seleção brasileira ganhou de 4x1. Foi grande a festa que os seminaristas fizeram no Colégio Pio-Brasileiro. O reitor permitiu até a distribuição espumante para todos. O atual bispo tocou piano para animar a festança. A televisão italiana, a Rai, veio até o colégio para filmar a torcida dos brasileiros. “Certos que a Itália iria ganhar, eles queriam filmar o nosso desespero e acabaram tendo que filmar a nossa festa”, conta Dom Sergio. Depois da comemoração interna, saíram para as ruas com a batucada que tinham no colégio para acompanhar a torcida do time de futebol, “que era ótimo”. Ele não jogava, mas participava da torcida organizada. A ‘bagunça’ ganhou a Via Aurélia, uma das estradas dos antigos romanos, que margeava o mar. Era verão e as pessoas voltavam da praia. “Os mais gentis paravam e vinham pedir uma bandeirinha do Brasil. Outros, subiam na calçada e jogavam o carro em cima do grupo. A Polícia chegou e nos mandou para casa, antes que acontecesse algum incidente”, lembra.
A Copa de 1962, ano do bicampeonato do Brasil, Dom Sergio ouviu do Seminário Menor. Tinha de 13 para 14 anos. Não havia transmissão pela televisão. Os jogos foram no Chile. Os seminaristas ouviram por um rádio a válvula que foi posto pelos padres formadores na janela. Os estudantes ficaram do lado de fora, no gramado, escutando. Como a transmissão era feita por ondas curtas, havia muito chiado e não se ouvia direito, “mas quando saía os gols, era muita bagunça. Teve um dos gols, que pulamos tanto que os meus óculos caíram e pisaram em cima. Em 58, Dom Sergio tinha nove anos e conta que nem sabia que estava havendo Copa do Mundo. Na final, estava na igreja. “Era junho. Fui para a igreja de manhã, como de costume, assistir à missa. Fiquei depois na reunião da Cruzada Eucarística, que eu era presidente, tudo antes do almoço. Quando eu voltava para casa, vi pessoas soltando balões e foguetes. Perguntei o que estava acontecendo e contaram que o Brasil havia ganho a Copa do Mundo de Futebol”, cita.
Em 1994, o tetra foi conquistado nos Estados Unidos. Dom Sergio era pároco da Paróquia São Judas Tadeu, na periferia de Curitiba. Morava com a mãe, em um apartamento na Vila Guaíra, onde foi colocado na janela a bandeira do Brasil. E em 98, já bispo, na final, estava em peregrinação pela Terra Santa. Passou o domingo inteiro visitando vários lugares e terminou no Lago de Genesaré. Estava hospedado na cidade de Tiberíades. “Quando as pessoas encontravam a gente e percebiam que éramos brasileiros, vibravam e gritavam o nome do Brasil, dizendo que ia dar Brasil”, recorda. Em 2002, o bispo auxiliar de Curitiba torceu pela seleção na competição disputada no Japão e na Coreia, e, lembra com carinho o excelente clima criado por Luiz Felipe Scolari, o Felipão, com a ‘Família Scolari’. Amante do bom futebol, Dom Sergio elogia os argentinos e os jogadores Diego Maradona, Leonel Messi e Ángel Di Maria. “Eu admiro muito o Messi. Ele é muito bom. Foi o melhor do mundo várias vezes. Dá gosto vê-lo jogar”, dizia quase que profeticamente o bispo.