Cientistas descobrem parte nunca vista das células humanas
A nova organela, tão pequena que nunca havia sido vista, foi identificada por uma equipe de pesquisadores devido a método de observação incomum
Publicado: 03/07/2025, 16:39

Lembra das organelas que você conheceu na escola? Elas são as subdvisões de uma célula – departamentos microscópicos que realizam funções variadas. A mitocôndria é responsável pela respiração celular, os ribossomos fazem a síntese das proteínas e vários outros compartimentos trabalham integradamente para conduzir as reações bioquímicas que mantêm seu corpo funcionando.
Depois dessa breve recapitulação das aulas de biologia, dá para compartilhar a novidade. Cientistas da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, descobriram uma nova organela nas células humanas. Por enquanto, ela foi batizada de hemifusoma.
A equipe, liderada pela professora de fisiologia molecular Seham Ebrahim, começou seu trabalho examinando filamentos que dão estrutura às células. Nas imagens 3D que eles geravam, um componente desconhecido aparecia consistentemente. Não era um erro nas fotos, mas sim uma nova organela, bem pequena, que pode estar relacionada com classificação, reciclagem e descarte de proteínas nas células humanas.
O hemifusoma tem cerca de 100 nanômetros de diâmetro, menos de metade da dimensão de uma mitocôndria pequena. Tudo que os cientistas conseguiram descobrir sobre a organela foi publicado num artigo na Nature Communications.
Método de observação foi essencial - Você pode estar se perguntando como uma organela passou despercebida nas células humanas por tantos anos. Além de ser bem pequeno, o hemifusoma só foi encontrado devido a um método de observação desenvolvido nas últimas décadas, a tomografia criogênica de elétrons (crio-ET).
A técnica envolve congelar rapidamente as células de quatro linhagens diferentes, criadas em laboratório, para preservar suas estruturas o máximo possível. Assim, os pesquisadores podem criar imagens claras, de boa qualidade, em 3D. É como parar o tempo para enxergar a célula como ela é no corpo, sem nenhuma interferência de compostos químicos adicionados posteriormente.
Os outros métodos de observação das células, usados com mais frequência nos laboratórios, provavelmente impediram os cientistas de enxergar o hemifusoma. Em algumas técnicas, usadas para observar o movimento interno celular, a nova organela provavelmente apareceria no máximo como um borrão, muito pequena para ser identificada.
Em entrevista para o site Live Science, Ebrahim comparou a forma da nova organela com um boneco de neve vestido com um cachecol. É uma cabecinha ligada a um corpo bem maior, com uma borda fina separando uma estrutura da outra. Veja na imagem abaixo, em laranja e verde.
A nova organela apareceu quando os pesquisadores estavam observando vesículas, estruturas em formato de balão usadas para transportar hormônios e proteínas nas células. O hemifusoma é produto da fusão de duas vesículas, separadas por uma barreira de duas camadas de lipídios. O nome da organela se refere à fusão parcial de duas bicamadas.
Pesquisadores do campo da biofísica sempre teorizaram que uma organela desse tipo poderia existir, mas é a primeira vez que ela é realmente identificada numa célula viva. O time por trás da descoberta argumenta que ela pode ser chamada de organela porque é uma unidade funcional autocontida em uma célula.
Por enquanto, os cientistas conseguiram mostrar que os hemifusomas existem, mas não chegaram a nenhuma conclusão sobre seu papel exato ou sua composição. Uma das hipóteses é que essas organelas existem para reciclar e descartar membranas celulares.
Estudos futuros podem examinar a fundo a função dos hemifusomas e seu ciclo de vida nas células. Conhecer melhor a nova organela pode até ajudar a entender como doenças como o Alzheimer, marcado pela eliminação inadequada de proteínas anormais no cérebro, se manifestam no corpo humano.
O uso da técnica de crio-ET na descoberta da nova organela também mostra que ainda há muito para descobrir mesmo em um dos objetos mais estudados pela biologia, como a unidade básica do corpo humano.
Com informações de: Super Interessante.