Investimento potencializa a produção de cevada na região
Os Campos Gerais tiveram, em 2022, a maior área plantada e a maior colheita de cevada na história. Maior maltaria da América Latina começará a produzir em Ponta Grossa já em 2023
Publicado: 15/12/2022, 15:49
Em 2021, um dos maiores investimentos industriais da história de Ponta Grossa foi anunciado, a Maltaria Campos Gerais. Projeto da intercooperação de seis cooperativas paranaenses, sendo quatro sediadas na região (Castrolanda, Frísia, Capal e Coopagrícola; há ainda a Agrária e a Bom Jesus), a planta fabril teve as obras iniciadas no início deste ano de 2022, com um investimento inicial de R$ 1,6 bilhão, valor que atingirá R$ 3 bilhões com a implementação da segunda fase, prevista para ser concluída até 2032. O aporte construirá a maior maltaria da América Latina, com capacidade de produção de 240 mil toneladas de malte por ano ao fim da primeira fase, o que significa que uma expressiva quantidade de matéria prima será demandada.
Diante dessa necessidade, já há um movimento de ampliação da área plantada de cevada em toda a região dos Campos Gerais. A prova é de que, neste ano, a área ocupada com esse cultivar nos municípios da região de Ponta Grossa alcançou uma área recorde, de 29,2 mil hectares, contra 20,1 mil hectares da safra anterior, que já tinha sido a maior até então. O aumento de 45% na área plantada resultou em uma produção recorde, estimada em 114 mil toneladas, que se vier a ser confirmada, será 47% maior que a safra de 2021. Apesar do considerável aumento, a área ainda é pouca: no ano passado, o Departamento de Economia Rural (Deral) do Estado estimou que a produção na região de Ponta Grossa e Irati deveria triplicar até 2026, alcançando uma área plantada de 75 mil hectares.
Como a maltaria já começa a operar em 2023, no segundo semestre, as cooperativas já começaram um trabalho de incentivo do desenvolvimento do plantio de cevada na região. Entre os cooperados da Castrolanda, por exemplo, houve um aumento de 2,4 mil hectares para 3,6 mil hectares plantados, o que representa um aumento de 50%. Para a safra de inverno de 2023, a projeção é ainda maior, de modo a alcançar 6 mil hectares. Esse incentivo junto aos cooperados começou neste ano, levando o conhecimento, através de uma série de encontros junto a agrônomos. “Levamos alguns dados e mostramos a rentabilidade da cevada, principalmente em comparação com o trigo, abordando custos e quanto cada cultura traz de retorno. Estes eventos amadurecem a equipe técnica e deixam o cooperado mais seguro e confiante para trabalhar com a cevada”, detalha Herbet Krupnishi, supervisor técnico agrícola da Castrolanda.
NOVA VARIEDADE
Um diferencial para as próximas safras é o desenvolvimento de novas variedades específicas para a região, para garantir uma produção maior. “Em 2023 ainda vamos trabalhar com a mesma variedade de 2022 - a Imperatriz, produzida via fomento com a Agrária. Mas já estamos desenvolvendo algumas variedades específicas para a nossa microrregião. Este desenvolvimento é feito pelo melhoramento genético da FAPA (Instituição de pesquisa da cooperativa Agrária) que está trabalhando no lançamento de novas variedades focado na região dos Campos Gerais”, reforça.
Nova maltaria será construída em Ponta Grossa
Os investimentos no setor não ficam restritos à grande maltaria, que atenderá as grandes cervejeiras. Recentemente, o município de Ponta Grossa fez a doação de um terreno para a instalação de uma fábrica de malte de menor porte, em um novo polo empresarial às margens da BR-376. O projeto prevê um investimento na casa dos R$ 3 milhões, que levará o nome de ‘Brasil Maltes’, para atender as necessidades das microcervejarias do município. A capacidade de produção será de até 100 toneladas mensais.
Cultivar apresenta várias vantagens competitivas sobre outros produtos
A produção de cevada se mostra bastante vantajosa para os produtores nos aspectos técnico e financeiro. Mesmo na comparação com o trigo, a cevada traz maior rentabilidade, diz o técnico da Castrolanda. “Estamos trabalhando para uma próxima safra com o trigo vendido a R$ 1,8 mil/tonelada, enquanto a cevada está acima de R$ 2 mil/tonelada. Na última safra tivemos opções onde o produtor fechou contrato de venda da cevada em torno de R$ 2,6 mil/tonelada – enquanto o trigo ficou nos R$ 1,8 mil/tonelada. A cevada tem um teto produtivo um pouco acima do trigo, então além de vender mais caro, produz mais”. Além disso, a cevada tem um ciclo mais curto, trazendo uma janela maior de plantio para a soja no verão, e também tem um rendimento por hectare superior ao do trigo, potencializando ganhos.
Apesar da necessidade da ampliação da área, a meta não é substituir o trigo, mas fazer com que as duas culturas atuem em harmonia. Isso pode ser feito de duas formas: pela da rotação de cultura com o trigo e com o avanço da cevada em áreas de aveia preta, por exemplo. “Temos muita área de aveia cultivada para fazer a cobertura de solo apenas – e nelas podemos entrar com a cevada. A ideia é que ela não brigue com outras culturas que já geram receitas ao produtor”, conclui Krupnishi.
Empresa fomenta cevada há décadas
Em Ponta Grossa, há quase meio século, uma empresa já trabalha no fomento do plantio de cevada nos Campos Gerais. Fundada em 1975, a Protecta trabalha desde o desenvolvimento e adaptação de novas variedades de cevada, passando pela produção de sementes e acompanhamento de campos de produção, chegando até o beneficiamento e logística final. Junto aos produtores, a empresa fornece a semente, faz o acompanhamento com o know how e garante a compra de 100% do produto colhido.
Para João Conrado Schmidt Junior, diretor comercial da Protecta, a instalação da maltaria trará ganhos aos produtores rurais, pelo fomento do cultivar, especialmente porque a necessidade de malte de cevada é elevada. “A Maltaria Campos Gerais vem a agregar uma maior área de cultivo e produção de cevada. Para a nossa região será um importante passo para a cultura da cevada, que está atraindo novos olhares, novas pesquisas e maior opção de renda aos produtores. A demanda de malte (produto obtido da cevada) no Brasil é maior que a oferta, portanto ainda temos muito espaço para crescermos na produção da cevada nos Campos Gerais”, informa.