Coluna Fragmentos: O Supermercado Tuma e as mudanças no comércio em Ponta Grossa | aRede
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Coluna Fragmentos: O Supermercado Tuma e as mudanças no comércio em Ponta Grossa

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Propaganda do Supermercado Tuma, publicada no JM em 13 de abril de 1971
Propaganda do Supermercado Tuma, publicada no JM em 13 de abril de 1971 -

João Gabriel Vieira

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No início do século XX, Ponta Grossa constituiu-se no principal pólo comercial do interior do Paraná. A chegada das ferrovias à cidade foi decisiva para o surgimento das grandes casas comerciais atacadistas que passaram a abastecer os mercados interioranos.

Entre as empresas mais destacadas da cidade naquele período estavam as casas comerciais Juca Pedro, Osternack, Lange, Xavier & Cia., Justus & Cia., João Hoffmann, Vicente Motti & Filho etc. A cidade contava, na década de 1920, com mais de 50 estabelecimentos atacadistas no ramo de secos e molhados.

O visual desses empreendimentos era invariavelmente marcado pela grande quantidade e variedade de produtos expostos em prateleiras, sacos de estopa ou caixas de madeira. Geralmente ficavam a mostra, e o público podia, na maior parte das vezes, toca-los e experimenta-los. Enroscados nas paredes, empilhados ou dispostos lado a lado, ocupavam todo espaço interno das casas comerciais. Os comerciantes e seus prepostos conheciam pessoalmente a maior parte dos seus fregueses e as negociações davam-se, muitas vezes, a partir do empenho da palavra e da anotação nas conhecidas cadernetas, sistema bastante utilizado naquele período.

Com o passar do tempo, e em função das mudanças estruturais na história local e nacional, muitas dessas casas comerciais varejistas e atacadistas desapareceram. Algumas, porém, ganharam renovadas feições e se adequaram aos “novos tempos”.

Muitos ponta-grossenses, sobretudo aqueles que atualmente contam com mais de 40 anos de idade, certamente lembram que até a década de 1970 o Supermercado Tuma e o Supermercado Chama ocupavam um importante lugar no mercado local. Empresas que surgiram a partir do processo histórico que forjou a realidade princesina no século XX, o Tuma e o Chama se originaram no período em que a cidade ainda dominava o comércio atacadista no chamado “hinterland” paranaense.

Passada a fase dos grandes armazéns de secos e molhados, os supermercados despontaram como símbolos da modernidade. Sinalizavam uma transformação nos ambientes de negócio e uma mudança na esfera de consumo.

A velha caderneta, os produtos dispostos a granel e as relações baseadas na pessoalidade foram substituídos por um novo modelo comercial, no qual, os supermercados tornaram-se a tendência a ser seguida.

Com seus espaços físicos ordenados em seções, seus produtos embalados e diferenciados por marcas específicas e, muitas vezes, com o desaparecimento físico da figura do “comerciante” – compreendido aqui como o dono da empresa – esses estabelecimentos simbolizavam a tendência de um novo momento histórico experimentado pela cidade e pelo próprio país.

Como a história é dinâmica, nas últimas décadas, salvo raras exceções, os supermercados locais perderam fôlego. Certamente as gerações mais novas pouco ou nadam sabem o papel que, durante décadas, o Tuma e o Chama ocuparam no comércio ponta-grossense.

No setor supermercadista, uma das tendências, desde a década de 1980, é o predomínio das grandes redes internacionais como o Carrefour e o Wal-mart, por exemplo. Ao mesmo tempo, nota-se um processo de fragilização das empresas tradicionais muitas vezes ligadas a uma origem familiar.

O supermercado Tuma exemplifica bem todo o processo aqui descrito. Originalmente uma casa comercial do início dos Novecentos, adequou-se as mudanças nos meados do século tornando-se um pujante supermercado que chegou a contar com algumas filiais esparramadas pela cidade. Após décadas de predomínio no âmbito local, desapareceu sufocado pelo maior poder econômico e pelo sistema administrativo mais eficiente das grandes redes supermercadistas.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 16 de março de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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