Operário entra na disputa por espaço dos barracões da rede ferroviária em PG
Time da cidade deseja construir seu próprio Centro de Treinamento (CT) ao lado do Estádio Germano Krüger; projeto se junta a outras propostas de uso do espaço dos barracões em Oficinas
Publicado: 07/12/2025, 08:49

A divulgação recente sobre o processo de cessão dos barracões da Rumo e de trechos de malhas ferroviárias inativas, hoje sob domínio da União, com destino dos ativos ao Município, abriu uma discussão importante em Ponta Grossa: como transformar esse patrimônio, hoje abandonado, em um equipamento útil e atrativo para a cidade? Entre as possibilidades e demandas da população, estão sugestões como a construção de um mega complexo esportivo, o “Central Park” de Ponta Grossa, a construção do Mercado Municipal, a instalação de um kartódromo, ou ainda, um novo estádio do Operário Ferroviário Esporte Clube (OFEC).
Um dos principais atores de movimentação esportiva e turística da cidade, se destacando em desempenho nos campeonatos como o 'Brasileirão' e a vitória no Campeonato Paranaense de 2025, o Operário Ferroviário passa por um período de crescimento, e para que a sua expansão siga sendo positiva, o time busca investir em um Centro de Treinamento (CT) próprio.

Com a expectativa de que parte dessas áreas passe ao domínio municipal, o presidente do clube, Álvaro Góes, vê a oportunidade de ocupar um trecho dos antigos barracões para instalar um Centro de Treinamento. A ideia não é utilizar todo o complexo, mas adaptar uma parcela do espaço hoje sem função, localizado justamente ao lado do Estádio Germano Krüger, no bairro Oficinas, onde o time foi fundado em 1912.
Para a reportagem do Jornal da Manhã e do Portal aRede, Góes explica que, apesar de que um possível novo estádio seja a ideia inicial da comunidade ponta-grossense, o espaço ao lado não seria compatível, mas para um novo CT, seria ideal. “O Operário tem muito, mas muito interesse nisso. Já comunicamos nosso interesse à Prefeitura, ao deputado federal Aliel Machado (PV) e ao vereador Paulo Balansin (União Brasil), mas isto ainda será definido no futuro”, declarou o presidente do Clube. De acordo com Góes, o espaço ideal para a construção deste projeto seria atrás dos barracões. “Queremos fazer algo diferente, um CT dentro da cidade e ao lado do Estádio. Seria um sonho para o nosso time”.

Hoje, o time utiliza, em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), um espaço de treino no campus Uvaranas. Para o Operário, ainda que a parceria seja positiva, um CT ao lado do estádio tornaria outras frentes de trabalho na equipe mais viáveis, visto que, somente com o deslocamento de ida e volta entre os bairros Oficinas e Uvaranas, o time gasta uma hora no trânsito. Outros desafios de não ter um CT próprio e privado é a segurança do time, pois, por se tratar de um espaço público, até mesmo adversários podem ir ao local durante o treino, e ainda, a falta de um espaço exclusivo para as equipes de enfermagem e fisioterapia, o que poderia ser implementado na construção de um centro de treinamento ao lado do Germano Krüger, a casa do Operário.
A possibilidade de uso parcial do terreno para o time do coração da cidade é bem avaliada pela perspectiva do patrimônio da memória ferroviária na cidade, como explica Nisiane Madalozzo, arquiteta e urbanista e membro-fundadora da Associação de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural de Ponta Grossa (Appac). “É interessante que o trabalho a ser realizado no espaço onde estão os antigos barracões mantenham uma ligação com a história ferroviária. É um terreno especial e único, com alto potencial de uso e boa inserção urbana”, diz Nisiane. Para a arquiteta, também cabe lembrar que as oficinas ferroviárias definiam a cidade territorialmente, e as ferrovias delinearam a expansão do município, portanto, hoje, seria interessante, do ponto de vista urbanístico, unir pontos entre os parques Linear, Ambiental e este novo espaço interligados na cidade.

O próprio espaço dos barracões, ainda que certamente deteriorado pelo abandono e incêndios recentes, teriam estruturas que poderiam ser revitalizadas para construir espaços de interesse à população, a exemplo de parques de feiras, para a realização de eventos como a Expo&Flor, ou ainda, prédios de proposta similar ao Sesc, com oferta de oficinas, cursos técnicos e aulas práticas, reforçando o caráter histórico do local em fortalecer a economia da cidade. Giorgia Bochenek, presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), concorda que o plano ideal é a transferência das áreas ao município, para que a administração pública destine o uso a equipamentos de lazer, projetos esportivos ou turísticos, priorizando também a tecnicidade sobre a preservação ou remoção dos trilhos.

O deputado federal Aliel Machado (PV) aponta que a continuidade do Parque Linear, juntamente a novas alternativas de mobilidade para a região de Oficinas, fazem parte da série de projetos a serem pensados na cidade, o que foi afirmado pela Prefeitura assim que foi anunciado o pedido de transferência do ramal ferroviário e da antiga oficina ao município. A Rumo explicou à reportagem que o pedido de anuência está sendo encaminhado ao Ministério dos Transportes (MTR), e, caso o pedido seja aprovado, o patrimônio deverá ser oficialmente repassado pelo DNIT à cidade de Ponta Grossa.

Para a gestão municipal, as estruturas ferroviárias e antiga malha devem ser utilizadas para o benefício e desenvolvimento de Ponta Grossa de maneira definitiva. Entretanto, procurada pela reportagem, a secretaria de Infraestrutura do Município não apresentou projetos prévios para a área. Portanto, se tem como consenso a necessidade de desenvolver estudos técnicos que definam o melhor caminho para preservar a memória ferroviária da cidade, ainda que o local seja redefinido por novos projetos. Seja com a construção de parques, centro de formação ou um novo espaço para o time que carrega a história da vila Oficinas, as ferrovias seguem sendo um vetor de desenvolvimento para Ponta Grossa.





















