Ponta Grossa busca alternativas para reinserção de moradores de rua
A rede de acolhimento da Prefeitura busca oferecer abrigo, alimentação e apoio social a uma população que sobrevive nas ruas da cidade
Publicado: 01/11/2025, 06:50

Uma volta pela região central de Ponta Grossa é o suficiente para ver as marcas da vida sem-teto em meio a um desenvolvimento urbano que segue ritmo acelerado. Basta olhar os bancos, pilares, escadas e cantos dos parques e praças da cidade para notar que ali estão algumas das cerca de 120 pessoas em situação de rua em Ponta Grossa, conforme a base de dados do Cadastro Único. Entre elas, predominam os familiares de presos do sistema carcerário e familiares de catadores de material reciclável.
É possível traçar um perfil de quem são estas pessoas hoje. Cerca de 91,8% delas são homens, com faixa etária concentrada entre 25 e 44 anos, cujo ensino fundamental não foi concluído (52,2%), e, embora a maioria saiba ler e escrever (94,7%), uma parcela significativa não possui estas habilidades básicas. Quanto ao perfil racial das pessoas em situação de rua em Ponta Grossa, verifica-se que a maioria se declara como branca (62,8%), seguido por pessoas pardas (28,4%), e, então, pessoas pretas (8,6%), segundo informações da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (PMPG).

Além disso, evidencia-se que cerca de 85% das pessoas não têm nenhuma deficiência, e cerca de 15% têm sinalização para alguma deficiência. Deste número, a prevalência é de deficiência física (44,6%), transtorno mental (25%), baixa visão/cegueira (17,9%) e deficiência mental ou intelectual (12,5%). Os dados indicam que, na abordagem de situações identificadas pelo serviço social, a maior demanda trata-se de pessoas adultas usuárias de crack ou outras drogas ilícitas, correspondendo a 58,5% dos casos; migrantes foram o segundo maior grupo, representando 21,5% das abordagens.

NA RUA - No processo de produção desta reportagem, a equipe de Jornalismo do Portal aRede/Jornal da Manhã conversou com duas destas pessoas. O primeiro, Leandro, de 29 anos, estava deitado na grama do Parque Ambiental, e havia pedido um pastel para comer nos food-trucks por perto. “Eu gosto de viver em Ponta Grossa. Eu saio do albergue pela manhã, fico no parque, e espero dar o horário de entrar de novo, à noite”, contou à equipe. Conforme Leandro, ele está a espera de um cartão para fazer exames de saúde.
Já Marcelo, de 49 anos, carregava um saco plástico na entrada da Vila Estrela, e contou que sua família mora por perto. “Tenho irmãos morando aqui em Ponta Grossa, mas eu não voltaria para casa. Tenho uma barraca próximo ao Centro, e não moro sozinho, estou com Deus”, diz. Ele ainda contou que já tentou trabalhar em uma empresa, mas não ficou por muito tempo.

ACOLHIMENTO - Em Ponta Grossa, o Centro POP (Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua) é o espaço de referência para o convívio social e ponto de apoio para pessoas que sobrevivem nas ruas, com capacidade de 100 atendimentos diários. “Neste serviço promove-se o acesso a espaços de guarda de pertences, de higiene pessoal, e de alimentação, garantindo segurança alimentar, sendo servidos café, almoço e sopa e/ou lanche da tarde, provisão de documentação, passagens intermunicipais e demais encaminhamentos necessários”, explica a Prefeitura de Ponta Grossa em nota.
Consultada para esta reportagem, a prefeita Elizabeth Schmidt (União) diz que sua gestão investe em serviços de acolhimento, saúde e segurança pública.
"Nenhum problema social se resolve de forma isolada, por isso nossas equipes atuam de maneira integrada, envolvendo a assistência social, a saúde, a segurança pública e tantas outras áreas da Prefeitura. Nosso compromisso é construir uma cidade cada vez mais humana, que acolha, cuide e ofereça caminhos para que cada pessoa possa recomeçar com dignidade."
De acordo com Rose Christóforo, assistente social do Centro POP, existem equipamentos no município que fazem parte da rede cofinanciada de atendimento para pessoas em situação de rua. “Temos a Casa da Acolhida, a entidade Melhor Viver, com o abrigo institucional e a república, e a Casa de Acolhimento Maria Isabel Ramos Wosgrau. Além disso, há comunidades terapêuticas, como o Esquadrão da Vida e a Padre Wilton”, conta.

Ainda assim, existem fatores determinantes que podem influenciar na permanência destas pessoas. Muitas destas comunidades estão lotadas, e há casos em que os próprios indivíduos não querem permanecer. “Os maiores motivos para estas pessoas morarem na rua são quebra de vínculo familiar, uso de drogas e bebidas. Nos casos de dependência química, é difícil que eles comecem o tratamento, principalmente quando há o agravante de um transtorno mental. E quando a oportunidade de mudança aparece, é preciso insistir e cuidar com as recaídas. Hoje, no Melhor Viver, a maioria dos funcionários era morador de rua”, conta a assistente social.
A rede de atendimento à população em situação de rua em Ponta Grossa conta, atualmente, com 24 aparelhos de parcerias públicas e privadas por meio da Fundação de Assistência Social (Faspg). Os serviços especializados de identificação e triagem de pessoas em situação de vulnerabilidade são disponibilizados na rua Tenente Hinon Silva, 135, de segunda a sexta-feira. Por meio destes serviços, a Prefeitura de Ponta Grossa une diferentes forças para mitigar o problema das pessoas em situação de rua, um desafio que cresce enquanto a cidade expande.

Entidades se mobilizam na oferta de ajuda e projetos sociais
Mecanismos contínuos de ressocialização, como o incentivo à permanência no mercado de trabalho, trazem novas perspectivas para problema público
Ponta Grossa passa o número de 100 pessoas em situação de rua, conforme estimativa de dados da Prefeitura. Com iniciativas de convívio social e apoio para estas pessoas por meio de um centro de referência, o Centro POP, a Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa (Faspg), busca atender as necessidades essenciais de alimentação, higiene, abrigo e documentação destes moradores.
Por meio do Centro POP, são promovidas atividades voltadas para o desenvolvimento da sociabilidade, buscando fortalecer vínculos interpessoais que oportunizem a construção de novos projetos de vida destes indivíduos. Além desta iniciativa, há o serviço de abordagem social, que realiza 120 atendimentos por dia. Nesta frente de política pública da Faspg, são feitos trabalhos sociais de identificação de pessoas em condições de trabalho infantil, exploração sexual, situação de rua, dentre outras. A partir deste primeiro contato, é iniciado o processo de saída das ruas para condições de acesso a serviços assistenciais para a garantia de direitos destas pessoas.

Segundo Tatyana Belo, presidente da Faspg, a política de assistência social tem como compromisso garantir a proteção social e a dignidade das pessoas em situação de rua. “Por meio dos serviços especializados, como o Centro POP, é oferecido atendimento social, escuta qualificada, acesso a benefícios, orientação para a emissão de documentos e encaminhamentos para a rede de saúde, trabalho e educação”, diz.
"Os serviços de acolhimento institucional integram essa rede de políticas de assistência social, oferecendo abrigo temporário, segurança e condições para a reconstrução de projetos de vida. O objetivo é assegurar direitos, fortalecer vínculos e promover a inclusão social, reafirmando o papel do poder público na proteção das pessoas em maior vulnerabilidade."
OPORTUNIDADE - Entretanto, o problema da ressocialização é alarmante. Conforme dados compartilhados para esta reportagem por meio da Prefeitura, somente 9% destas pessoas conseguem realizar atividades para geração de renda, “embora de maneira precária e instável”, afirma o órgão.
Em busca de mitigar este problema, algumas iniciativas em parceria com a Faspg e a Fundação Municipal de Saúde (FMS) estão sendo promovidas no município. Para Tatyana, a integração de políticas intersetoriais são fundamentais para que a promoção da assistência seja eficaz. “É importante destacar que a demanda da população em situação de rua deve ser tratada em todas as políticas públicas, sendo articuladas para o melhor atendimento, visando a saída das ruas, de forma efetiva. A assistência social tem o dever de acolher, mas de forma articulada com a saúde, qualificação profissional, habitação, segurança pública e sociedade civil”, explica a presidente da Faspg.

A exemplo da iniciativa da Agência do Trabalhador, que há mais de seis meses atende pessoas em situação de rua com a confecção de currículos e oferta de emprego, como explica Emerson Silveira, diretor da agência. “Já conseguimos empregar em torno de dez pessoas para o mercado de trabalho. Temos um caso em que uma dessas pessoas fez uma formação com a equipe do Corpo de Bombeiros, e hoje está empregada. Também conseguimos inserir estas pessoas na indústria, então, sim, há resultados”, afirma positivamente o diretor.
O período de fim de ano também traz novas oportunidades, com o aumento de vagas para a temporada. “Algumas empresas abrem as vagas temporárias de fim de ano, e essa mão de obra está empregada ali. E continuamos com as entrevistas do processo seletivo. Na última semana, um morador em situação de rua foi encaminhado para um supermercado, e está trabalhando lá!”, conta Emerson.
AÇÕES INTERSETORIAIS - Outros órgãos de Ponta Grossa também propõem frentes de apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade social, a exemplo da subseção de Ponta Grossa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PG), como explica Mariantonieta Ferraz, presidente da unidade. “A OAB Ponta Grossa aderiu ao programa de segurança e saúde pública em parceria com o município por meio do Movimento Campos Gerais (MCG) de Igual para Igual, para fins de investimento e apoio às efetivas políticas de segurança da sociedade, e, ao mesmo tempo, uma ação de respeito ao direito de pessoas em situação de rua, principalmente aqueles sob dependência de álcool e outras drogas”, declara Mariantonieta. Ainda, para a presidente da OAB/PG, a eficácia destas ações está diretamente relacionada à articulação intersetorial entre saúde, assistência social e segurança pública.

Para que o desenvolvimento do município seja sustentável e promova mais oportunidades, são sugeridas ações de incentivo e permanência profissional, como avalia Antônio Renato Galvão, diretor de Assuntos Comunitários da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg). “Reconhecemos que a superação desta realidade complexa excede a questão da moradia, demandando uma rede de atendimento ampliada e mais eficiente, capaz de acolher, tratar, qualificar e, finalmente, incluir essas pessoas no mercado de trabalho”, preocupa-se Galvão.

Assim como os outros diretores de instituições do município, Galvão considera fundamental integrar ações às políticas públicas. “O desenvolvimento social deve caminhar junto ao crescimento econômico que Ponta Grossa experimenta, assegurando que o comércio, a indústria e a agricultura continuem a gerar oportunidades de forma sustentável. É fundamental criarmos mecanismos que permitam um processo contínuo de recuperação da dignidade humana, culminando na inserção profissional. Um ciclo virtuoso que beneficia toda a sociedade ponta-grossense”, afirma.
Portanto, o problema público da vulnerabilidade social que as pessoas em situação de rua enfrentam em Ponta Grossa está, de fato, sob as lentes preocupadas de órgãos públicos e privados. Por meio de iniciativas da Prefeitura, por meio da Faspg, outras frentes de apoio à proteção social e dignidade surgem no município visando trazer oportunidades de mudança a estas pessoas.
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Rede de atendimento à população em situação de rua em PG:
- Centro POP
- CREAS
- Serviço de Abordagem Social
- Casa de Passagem
- Acolhimento Melhor Viver
- Albergue
- Banho Solidário
- Consultório de Rua
- Comunidades Terapêuticas Esquadrão da Vida, Mais Amor, Padre Wilton, Só por Hoje e Rosa Mística
- Restaurante Popular
- Programa Selo Social
- CAPS
- UBS





















