Asilo de PG abriga sobrevivente da Segunda Guerra
Stefan Stasyszyn, completou 100 anos nesse domingo (3)
Publicado: 04/11/2024, 11:46
O Grupo aRede realizou uma reportagem, na manhã desta segunda-feira (4), sobre o sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, Stefan Stasyszyn, que comemorou 100 anos nesse domingo (3). Ele é natural de Sambir, na Ucrânia, mas atualmente vive na casa de idosos Paulo de Tarso, em Ponta Grossa.
HISTÓRIA - Ao Portal aRede, Stefan contou um pouco de sua história e de como era a sua vida na Ucrânia, ao lado de seu pai, sua mãe e seus cinco irmãos. "Meu pai tinha terreno e tinha cavalos. Eu arava, trabalhava e não andava pela rua". O ucraniano afirmou não ter encrenca com ninguém e disse que se pudesse fazer o bem, ele fazia.
GUERRA - Stefan não participou diretamente da Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939, porém, ele foi um dos ucranianos levados para a Alemanha, na intenção de praticarem um tipo de trabalho escravo. No caso dele, foi atuando em fazendas na produção de alimentos e matérias-primas para as Forças Armadas comandadas por Adolf Hitler. Ele permaneceu durante três anos como trabalhador semi-escravo.
Após a reportagem do Portal aRede, a família de Stefan entrou em contato com o consulado alemão, com o apoio de especialistas, para informar sobre a situação trabalhista que ele teve na Alemanha e quem sabe conseguir algum tipo de ressarcimento histórico e até mesmo financeiro. O consulado alemão se mostrou aberto para resolver a situação e ficou de analisar o caso o mais rápido possível.
Em relação à Segunda Guerra Mundial, o jornalista e historiador Helton Costa, explicou ao Portal aRede o contexto histórico do momento em que Stefan foi um dos quase 2 milhões e 400 mil ucranianos levados para fazerem um trabalho forçado na Alemanha: "O contexto é de uma Ucrânia bastante dividida durante a Segunda Guerra Mundial, em que parte do país está apoiando os alemães, parte do país está apoiando os soviéticos e uma terceira ala ataca os dois exércitos e luta contra eles".
Durante entrevista ao Portal aRede, quando questionado sobre a guerra, Stefan declarou precisarem se defender. "Nós temos que nos defender, né? Se alguém avança no senhor, o senhor vai ficar quieto? Eles avançaram em nós". Com isso, quando o conflito acabou, oficialmente em 1945, ele decidiu não voltar para a casa, pois o território servia aos soviéticos e, para não ficar refém dos soviéticos, Stefan permaneceu na Alemanha fazendo 'bicos' para sobreviver.
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IMIGRAÇÃO - Após esse tempo trabalhando no território alemão, o ucraniano teve a oportunidade de vir ao Brasil em 1947, através de um decreto que o país tinha para acolher refugiados de guerra. Dessa forma, Stefan conseguiu uma autorização para imigrar para o Brasil, junto ao comando americano. "Eu vim para o Rio de Janeiro, com um navio", contou o senhor de 100 anos. Na época, ele foi recebido por padres da igreja católica ucraniana, os quais o aconselharam a se mudar para o Paraná, onde existia uma colônia ucraniana.
O Stefan passou por algumas cidades do Estado como Prudentópolis, Cerro Azul, até se estabelecer em Ivaí, onde conheceu a sua esposa, que era filha de imigrantes ucranianos. "Eu cheguei e comecei a namorar, tive filhos e hoje estou aqui", comentou. Stefan foi auxiliado pelo seu sogro para recomeçar a sua vida, trabalhando na colheita de café.
Após casados, Stefan mudou para Ponta Grossa em 1973, juntamente de sua família, onde se especializou em metalurgia e trabalhou em uma empresa da cidade até se aposentar. Atualmente, o ucraniano vive na casa de idosos Paulo de Tarso, localizada no bairro Uvaranas, pois os seus filhos também ficaram idosos e não possuem condições de cuidar de Stefan.
CASA DE IDOSOS - O sobrevivente da Segunda Guerra Mundial está na casa de idosos Paulo de Tarso desde 2020. Ele teve Covid-19 e foi diagnosticado com câncer de pele duas vezes. Ao Portal aRede, a assistente social Camila Barros falou sobre o carinho que Stefan tem por toda a equipe e por seus companheiros, além de sua força e garra no dia a dia. "Stefan é uma pessoa muito querida, muito amorosa, muito carinhosa. Ele veio para nós contando bastante a respeito da vida dele, da guerra, sobre como era na Ucrânia e como que ele veio ao Brasil, mas hoje, realmente, a demência e o Alzheimer foram afetando a memória dele", comentou Camila.
Além de seu carisma, Camila deu destaque para os talentos de Stefan, como cantar, dançar e falar fluentemente em português, ucraniano, alemão, russo e polonês.
Confira a reportagem aqui:
Sob supervisão de Mário Martins