Servidor da UEPG transforma paixão por astronomia em acervo
Materiais são utilizados em estudos, produção de artigos, organização de palestras e minicursos
Publicado: 22/07/2025, 09:31

Mauricio José Kaczmarech mantém os pés na terra, aqui na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), mas seus olhos estão sempre voltados para o céu. O agente universitário, que trabalha atualmente na função de secretário dos colegiados dos cursos de Administração e de Comércio Exterior da UEPG, é participante da Sociedade Princesina de Ciências Astronômicas (SPCA) e desde os 11 anos de idade é fascinado pela Astronomia e Astronáutica.
“Minha paixão nasceu quando eu olhei para o céu e, voltando a vista para baixo, tive vontade de olhar de novo”, declara. “Estou olhando até hoje”. Desde o ano de 1975, os mistérios da Astronomia e Astronáutica fascinam Mauricio. “Verificando meus arquivos, encontrei uma notícia de jornal onde era anunciado o pouso da sonda espacial Viking 1 em Marte”, comenta. Para ele, notícias em telejornais e filmes de ficção científica, ao longo dos anos, ajudaram a manter seu interesse vivo.
Orgulhoso e animado por abrir as portas do galpão no Jardim Carvalho para compartilhar um pouco do seu numeroso acervo, Mauricio tem um brilho nos olhos que não é de hoje. No livro em homenagem aos 50 anos da UEPG, o servidor aparece mostrando parte de uma exposição de maquetes e foguetes espaciais feitos por ele, em 1987. Anos depois, ele faria parte do corpo discente e da equipe de funcionários da Universidade. “O que mais me atraiu na UEPG foi a existência de um observatório astronômico dentro da instituição”, recorda.
Graduado em Licenciatura e Bacharelado em Geografia, com mestrado também em Geografia pela UEPG, o servidor já fez parte da equipe do Departamento de Física, do Observatório, de três bibliotecas de setores, da Divisão de Material e Patrimônio (Dimapa) e do Departamento de Contabilidade. Fora da Universidade, foi professor de Geografia em diversos colégios e cursinhos. Mas o que faz mesmo o seu coração bater mais forte são os mistérios que estão além da atmosfera terrestre.
Mauricio afirma, veementemente: Astronomia é muito mais do que olhar o céu. “É estudar, utilizar e até construir equipamentos”, enfatiza. Emocionado, o servidor compartilha sua história, recorda momentos marcantes do início da sua coleção e conta como consegue peças raras. Para muitos, bobagens. Para ele, verdadeiros tesouros que permitem olhar além. “A nossa atmosfera é como uma grande janela que nos deixa espiar para fora de nossa casa”, exalta.
LUA NA UEPG - Assim, espiando as janelas, Mauricio construiu um acervo com milhares de objetos como livros, réplicas, telescópios, maquetes em escala, materiais didáticos, relatórios, peças originais, trajes, DVDs e enciclopédias. Periodicamente, ele oferece um evento aberto à comunidade, chamado “Lua na UEPG”, um momento para observar o telescópio – olhar além da janela – no campus Centro e tirar dúvidas a respeito dos astros e do Universo. “Através das lentes de um telescópio, temos a ilusão que os objetos celestes estão mais próximos de nós, permitindo ver detalhes inimagináveis”, declara.
“Eu procuro conduzir a atividade de acordo com os interesses do observador”, explica. “Se vem alunos de Direito, por exemplo, eu costumo falar das leis internacionais sobre a exploração do território da Lua, mas já teve gente querendo ver o dragão e eu tive que dizer que ele e o São Jorge estavam tímidos e fugiram para o outro lado”, comenta, bem-humorado.
Guiado por Mauricio, o público se aproxima do telescópio e passeia por planaltos, planícies, montanhas, cordilheiras, crateras, vales e passagens estranhas, como ele mesmo define. “É um passeio turístico, histórico e rico de estranhezas e elementos reconhecíveis em nossa vivência”. Também é possível observar planetas vizinhos – desertos ou mesmo sem superfícies sólidas. Para ele, esta é uma reflexão ecológica, uma vez que “moramos em um planeta excepcional e devemos cuidar dele”.
COMO TUDO COMEÇOU - Os colegas de Mauricio sempre souberam do interesse dele por Astronomia e da empolgação que ele tinha ao compartilhar curiosidades com os colegas. “Eles me perguntavam quando eu traria um telescópio pra dentro da UEPG pra eles poderem dar uma olhada nos corpos celestes – assim nasceu o projeto”.
Apesar do evento se chamar “Lua na UEPG”, também são observados outros objetos celestes que estejam visíveis na ocasião. “Os participantes podem se admirar quando observam o planeta Júpiter e suas maiores luas, o planeta Saturno e seu gigantesco sistema de anéis, o pequeno Marte com suas cores de ferrugem, bem como estrelas duplas como Alfa Centauri, a nebulosa de Órion e até a passagem da Estação Espacial Internacional e do Telescópio Espacial Hubble”.
Mauricio conta, ainda, que recebe ajuda de membros da SPCA para executar as sessões de observação e que a forte iluminação artificial das ruas, casas e edifícios pode atrapalhar o momento. “Por isso, buscamos espaços que recebem menos iluminação”.
As sessões costumam acontecer no pátio central e na praça Santos Andrade, em frente à fachada histórica, e recebem dezenas de curiosos não só da Universidade como da comunidade externa. “Muitas vezes, vem o pessoal dos prédios ao redor, é muito bacana”, revela Mauricio.
ESTUDO - O astrônomo amador é zeloso com seu material: nada de encostar nos trajes sem luvas – é preciso evitar que a gordura dos dedos seja um fator de deterioração do acervo. Na biblioteca, tudo está protegido por um plástico para evitar o contato com poeira e umidade: prateleiras lotadas de materiais informativos, revistas, manuais, documentários, boletins, CDs e DVDs, mapas, livros antigos e modernos autografados por astrônomos e astronautas, materiais em português, inglês, francês, alemão, polonês e russo nas mais variadas temáticas dentro das grandes áreas de Astronomia e Astronáutica. “Um livro que me deixou boas lembranças de minha juventude, é o intitulado Astronomia elaborado pelo astrônomo amador Lucien Rudaux. Exemplar desta obra, eu periodicamente emprestava da Biblioteca Pública Municipal Bruno Enei. Hoje, esse livro não mais está disponível na Biblioteca Pública, por isto, consegui um exemplar desse livro para a minha biblioteca. Boas lembranças a gente guarda!”
Todo esse acervo é utilizado em estudos, produção de artigos, organização de palestras e minicursos e também para ajudar na elaboração de materiais didáticos e exposições temáticas espaciais.
PAIXÃO - Nem sempre as condições do tempo permitem a observação dos astros. Portanto, enquanto não pode olhar para o céu, o servidor organiza seu acervo no chão. Entre inúmeras caixas com materiais didáticos feitos por ele mesmo, trajes originais de pilotos soviéticos utilizados para treinamento dos cosmonautas, peças originais de foguetes e cartas celestes, Mauricio comenta que “ser astrônomo amador é compartilhar o Universo com outras pessoas”.
Mas nem tudo é fácil e bonito. O servidor também relata que existe um investimento inimaginável para cultivar a sua paixão. “Um astrônomo amador investe muito: compra seu próprio telescópio, oculares, binóculos, câmeras fotográficas e observa apenas em suas horas vagas”, explica.
Por esse motivo, os planos são organizar os investimentos realizados ao longo da vida para abrir um espaço para visitação. “Tudo para compartilhar a admiração e paixão pelas coisas que estão fora de nosso mundo, mas que formam o Universo do qual todos nós fazemos parte”, explica.
Ao longo de sua trajetória, Mauricio realizou levantamentos da história da Astronomia em Ponta Grossa e lutou para a preservação de espaços como o Observatório Astronômico Manoel Machuca – o primeiro do Paraná com cúpula e o lugar de estudos do primeiro grupo de astrônomos amadores da cidade. No ano de 1989, o servidor publicou um artigo e sugeriu que fosse construído um observatório didático no Campus Uvaranas e um posto de observação na Fazenda Escola Capão da Onça (Fescon). Posteriormente, deu sugestões em detalhes arquitetônicos do atual Observatório da UEPG.
Maurício também se associou a outros astrônomos amadores de Ponta Grossa, participando de alguns grupos de amadores, como o do Clube de Amadores de Astronomia de Ponta Grossa (CAAPG) e do Clube de Astronomia do Colégio Borell (CACB). E para interligar o grupo de astrônomos amadores de Ponta Grossa com outros, o servidor propôs a criação do “Encontro Paranaense de Astronomia” (EPAST) em 2003. “O primeiro EPAST foi realizado em Ponta Grossa, e, como é um evento itinerante, posteriormente foi realizado nas cidades de Ponta Grossa, Londrina, Maringá, União da Vitória, Realeza, Dois Vizinhos, Foz do Iguaçu, Pato Branco, Sarandi, Marialva e Mandaguari, sob tutela dos grupos de astrônomos amadores daquelas cidades, que ajudaram o EPAST a ser o maior e mais tradicional evento de Astronomia do Sul do Brasil”, relata. “O evento ajuda na integração entre os grupos de Astronomia e também com astrônomos profissionais, planetários e observatórios astronômicos, principalmente no Paraná”, completa.
FUTURO - Para o futuro, Mauricio planeja terminar alguns livros e seguir com suas pesquisas. “E continuar a observar o céu, com mais disponibilidade de tempo”. O menino apaixonado pelo céu que, ainda criança olhou para cima com fascínio pela primeira vez, segue colecionando objetos inusitados e memórias especiais. “Dizer que o Universo é gigante é tentar reduzir muito sua verdadeira extensão. Olhar os astros é observar o valor da vida e a nossa pequenez, diante do Universo”, finaliza.
Com informações da Assessoria de imprensa