'Eleita' expõe o ridículo da política brasileira | aRede
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'Eleita' expõe o ridículo da política brasileira

Série brilha com elenco e temática, porém desagrada nos momentos finais

À primeira vista, a série toma emprestado de sátiras contemporâneas que usam o humor de constrangimento, como 'Veep' e 'The Office', ao acompanhar as decisões duvidosas da nova governadora, como privatizar um município e mudar a rota de um bloco de carnaval para não perder a folia.
À primeira vista, a série toma emprestado de sátiras contemporâneas que usam o humor de constrangimento, como 'Veep' e 'The Office', ao acompanhar as decisões duvidosas da nova governadora, como privatizar um município e mudar a rota de um bloco de carnaval para não perder a folia. -

Da Redação

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Viver no Brasil é para poucos e acompanhar a política chega a ser um teste de sanidade diante dos episódios absurdos que são escritos na história contemporânea do país. 'Eleita', nova série da Amazon, desafia o absurdo da realidade e tenta fazer humor usando o período eleitoral como pretexto.

Clarice Falcão interpreta Fefê Pessoa, uma influenciadora despreocupada que, pela zoeira, decide se candidatar a governadora do Rio de Janeiro em um Brasil não tão distópico. Ela não esperava, porém, que a brincadeira ganhasse tamanha proporção, e ela acabasse eleita. Na série ela precisa conciliar a administração do Estado fluminense falido, as festas agitadas e os interesses próprios.

À primeira vista, a série toma emprestado de sátiras contemporâneas que usam o humor de constrangimento, como 'Veep' (que tem uma premissa parecida) e 'The Office', ao acompanhar as decisões duvidosas da nova governadora, como privatizar um município e mudar a rota de um bloco de carnaval para não perder a folia. A dinâmica com coadjuvantes é central nisso, e o elenco de apoio oferece uma química envolvente, puxado por Diogo Vilela (que faz o veterano político Netinho Júnior) e a estreante Polly Marinho, que faz Teresa, a única funcionária sensata do gabinete. A amiga politicamente incorreta Nanda (Bella Camero) e a “primeira-dama” (Rafael Delgado) completam o núcleo.

A série mostra ter personalidade própria no retrato das situações chulas que os políticos protagonizam, um choque de absurdos que se amplifica com a gravação em locações reais da política fluminense, como a Assembleia Legislativa e os luxuosos Palácios das Laranjeiras e de Guanabara. Há um equilíbrio ao apresentar o pomposo, arcaico e ostentoso cenário do imaginário político brasileiro em meio à linguagem moderna com uso de redes sociais, dancinhas do TikTok e memes. 'Eleita' distribui a sátira e mira tanto a direita conservadora, com seu discurso contra ameaças imaginárias, quanto a esquerda que não consegue entrar em concordância. 

'Eleita' pode envolver o espectador ao apresentar de forma dúbia os mocinhos e vilões da trama, como a Pastora Hosana (Luciana Paes), que deseja desbancar a influencer política. Em outros momentos, a maior vilã é a própria Fefê, que se sabota pelas suas decisões inconsequentes e não saber lidar com os frutos que colhe - há um episódio dedicado à queda da personagem que é um deleite visual, com direito às canções que carregam o DNA de Clarice Falcão.

A atriz sempre carregou sua assinatura em seus trabalhos, seja nos papéis de boa moça com toques de singularidade como vimos em Porta dos Fundos ou nas canções com letras irreverentes e melodias que grudam na cabeça em seu repertório musical. Como Fefê Pessoa, a atriz encarna uma personagem fora do que estamos acostumados com um toque de 'Fleabag': extravagante, despretensiosa e (com o perdão do trocadilho) desgovernada. Falcão sabe amarrar muito bem a personagem e sua química com o elenco é um destaque da série.

Fefê é um furacão que nenhuma equipe de assessoria política, amigos e nem a própria personagem conseguem segurar, mas acaba se tornando a sina da própria série: no final da primeira temporada, o enredo vai se perdendo e os personagens secundários não conseguem progredir à medida que a protagonista evolui. O final da série muda o rumo de forma que, ao invés de nos fazer rir dos absurdos fictícios (que poderiam ser reais), nos deixa apreensivos sobre as decisões tomadas e coloca dúvidas sobre o futuro de uma eventual segunda temporada. A mudança de tom gera até uma sensação de desesperança sobre os rumos do Brasil da ficção e o da realidade.

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