DNA ancestral revela quando animais começaram a passar doenças para humanos
Doenças vindas de animais podem impactar nossa saúde, mas quando isso começou? É o que uma pesquisa descobriu ao analisar DNA ancestral
Publicado: 14/07/2025, 18:05

Doenças vindas de outros animais podem impactar nossa saúde de maneira grave. Sabemos disso há décadas. E, para quem não sabia ou lembrava, a pandemia de Covid-19 serviu de reforço. Mas quando isso começou? É o que descobriu uma pesquisa liderada por Eske Willerslev, professor da Universidade de Copenhague e da Universidade de Cambridge.
A evidência mais antiga conhecida de doenças zoonóticas – doenças transmitidas de animais para humanos – remonta a cerca de 6,5 mil anos. E elas ficaram mais disseminadas há cinco mil anos, aproximadamente.
A pesquisa recuperou DNA antigo de 214 patógenos humanos conhecidos em humanos pré-históricos da Eurásia. É o maior estudo, até o momento, sobre a história das doenças infecciosas. Um artigo sobre ele foi publicado na revista Nature.
Estudo sobre transmissão de doenças entre animais e humanos analisou DNA com mais de 37 mil anos
Os pesquisadores analisaram DNA de mais de 1,3 mil indivíduos pré-históricos, alguns com até 37 mil anos. Os ossos e dentes antigos forneceram uma visão única sobre o desenvolvimento de doenças causadas por bactérias, vírus e parasitas.

Os resultados sugerem que a convivência próxima dos humanos com animais domesticados – e as migrações em larga escala de pastores das Estepes Pônticas – desempenharam um papel decisivo na disseminação dessas doenças.
“Há muito tempo suspeitávamos que a transição para a agricultura e a criação de animais abriu a porta para uma nova era de doenças”, disse o professor Eske Willerslev, em comunicado. “Agora, o DNA nos mostra que isso aconteceu pelo menos há 6,5 mil anos.”
Essas infecções não causaram somente doenças – elas podem ter contribuído para o colapso populacional, migrações e adaptações genéticas.
Eske Willerslev, professor da Universidade de Copenhague e da Universidade de Cambridge, em comunicado
VESTÍGIO ANCESTRAL DA PESTE - No estudo, os pesquisadores encontraram 214 patógenos. Uma descoberta notável é o vestígio genético mais antigo já registrado da bactéria da peste Yersinia pestis, identificado numa amostra de 5,5 mil anos.
A peste é estimada como responsável pela morte de entre um quarto e metade da população europeia durante a Idade Média.
Além disso, os pesquisadores encontraram vestígios de doenças como:
- Hanseníase (Mycobacterium leprae): há 1,4 mil anos;
- Malária (Plasmodium vivax): há 4,2 mil anos;
- Vírus da hepatite B: há 9,8 mil anos;
- Difteria (Corynebacterium diphtheriae): há 11,1 mil anos.
IMPLICAÇÕES PARA VACINAS - As descobertas podem ser significativas para o desenvolvimento de vacinas e para a compreensão de como as doenças surgem e se modificam ao longo do tempo.

“Se entendermos o que aconteceu no passado, isso pode nos ajudar a nos preparar para o futuro, onde muitas das novas doenças infecciosas emergentes devem se originar de animais”, disse o professor associado Martin Sikora, primeiro autor do estudo.
“Mutações que foram bem-sucedidas no passado provavelmente voltarão a surgir. Esse conhecimento é importante para vacinas futuras, pois nos permite testar se as vacinas atuais oferecem cobertura suficiente ou se novas precisam ser desenvolvidas devido a mutações”, acrescentou o professor Willerslev.
Com informações de: Olhar Digital.