Rússia faz exigência à Ucrânia para assinar 'cessar-fogo' e eventual paz na guerra | aRede
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Rússia faz exigência à Ucrânia para assinar 'cessar-fogo' e eventual paz na guerra

Entre os itens, está a exigência de que Kiev promova eleições presidenciais antes de ver qualquer tratado assinado

Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski
Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski -

Publicado por Lucas Veloso

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A Rússia entregou nesta segunda (2) à Ucrânia o memorando com suas condições para atingir um cessar-fogo e a eventual paz na guerra contra o vizinho, que invadiu em 2022. Entre os itens, está a exigência de que Kiev promova eleições presidenciais antes de ver qualquer tratado assinado.

Em meio a intensos ataques aéreos de lado a lado, os rivais concluíram sem avanços a segunda rodada de negociações diretas sobre o conflito, mas entregaram oficialmente suas condições - Kiev havia divulgado as suas antes.

Citar eleições é uma forma de pressionar o presidente Volodimir Zelenski, cujo mandato expirou há um ano. Não houve pleito porque o país está em estado de sítio, o que pela lei local impede o voto.

O que os russos sugerem é que pode haver um cessar-fogo e, depois, um acordo de paz. Isso teoricamente poderia suspender o estado de sítio.

Zelenski já foi chamado de ilegítimo pelo russo Vladimir Putin, e rejeita a ideia - hoje, ele teria uma tentativa de reeleição complicada, provavelmente tendo como rival o popular ex-chefe das Forças Armadas Valeri Zalujni.

Para a trégua, os russos elencaram duas opções. Uma, a retirada imediata das forças ucranianas das partes que ainda controlam das quatro regiões anexadas ilegalmente por Putin em 2022: Kherson, Zaporíjia, no sul, e Donetsk e Lugansk, no leste.

A outra, segundo a agência RIA-Novosti, seria a aceitação de um pacote de medidas já conhecidas: a neutralidade militar, a ausência de forças estrangeiras em solo ucraniano, suspensão de ajuda militar e mobilização, além da limitação das forças de Kiev.

Todos esses itens, mais a eleição, fim das sanções econômicas contra a Rússia e o reconhecimento internacional das quatro regiões e da Crimeia, anexada em 2014, surgem como integrantes do que Moscou considera um arranjo definitivo. Por óbvio, é algo maximalista, que deixa em aberto o destino de outras áreas sob ataque, como Sumi e Kharkiv, no norte ucraniano.

Kiev, por sua vez, entregou um memorando com itens espelhados. Solicita primeiro um cessar-fogo incondicional, a presença de uma força de paz internacional de salvaguarda, troca de prisioneiros e entrega de crianças retiradas do país na guerra.

Depois, solicita o estabelecimento de negociações sobre os itens, rejeitando neutralidade e perda de soberania territorial, embora admita discutir a última. Também dizem que as sanções devem cair, mas gradativamente.

Por fim, os ucranianos querem um encontro de Putin com Zelenski para sacramentar a paz. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que vai “tomar os passos necessários” para trazer os rivais à mesa em seu país. O americano Donald Trump disse, por sua vez, que “está aberto” para reunir-se com os beligerantes na Turquia.

Os russos já disseram que isso não seria possível agora, e a sugestão da eleição mostra que os planos do Kremlin são outros. O ministro ucraniano Rustem Umerov (Defesa) disse que não iria comentar a proposta russa antes de estudar seus termos, enquanto o chefe de gabinete presidencial, Andrii Iermak, escreveu no X que a Rússia não quer a paz.

As conversas em Istambul ocorreram nesta segunda (2) em Istambul, e duraram pouco mais de uma hora. Segundo Zelenski, ficou acertada mais uma troca de prisioneiros de guerra, como havia ocorrido no encontro passado, em 16 de maio.

A prioridade, disseram os negociadores dos dois lados, serão jovens e feridos. A expectativa é a libertação, como na vez anterior, de ao menos mil presos.

Zelenski disse também, numa reunião na Lituânia, que seus negociadores forneceram uma lista de 339 crianças que querem ver repatriadas pelos russos. Uma nova conversa poderá ocorrer ainda neste mês.

Também não houve o cessar-fogo pretendido pelos ucranianos, de ao menos 30 dias. Segundo o negociador-chefe russo, Vladimir Medinski, a Rússia propôs tréguas pontuais de dois a três dias em alguns pontos da linha de frente, sem sucesso.

Comprovando a intenção de mostrar força, ambos os rivais promoveram novos ataques aéreos nesta madrugada de segunda. Segundo o Ministério da Defesa russo, 162 drones foram abatidos, a maioria em Kursk e Belgorodo, junto à fronteira. Já a mesma pasta ucraniana afirmou que os rivais lançaram 80 drones e quatro mísseis balísticos, que atingiram 12 alvos diferentes.

Na véspera, Kiev havia lançado seu mais audacioso ataque no conflito, atacando cinco bases aéreas russas com drones que levantaram voo de caminhões infiltrados no território rival. Seu serviço secreto disse ter mirado 41 bombardeiros usados contra a Ucrânia, e o governo disse ter destruído ao menos 13.

Já as forças de Putin enviaram quase 500 drones contra o vizinho, número recorde no conflito. Além disso, os russos têm avançado no norte do país, uma nova frente na guerra: segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (EUA), Moscou tomou 507 km² no mês passado, ante 379 km² em abril e 240 km² no mês anterior.

As expectativas para o encontro na Turquia, que já sediou a primeira rodada de conversas desde 2022 em meados de maio, eram baixas. Conforme usual em negociações em que nenhum dos lados é vencido ou derrotado completamente, o tom é de impasse.

As reuniões são obra da mudança de posição dos Estados Unidos sob Donald Trump. O republicano suspendeu o apoio incondicional a Kiev e abriu um canal de conversa com Putin. O processo está longe de se perfeito, e o americano já se questionou publicamente se não está sendo enrolado pelo russo.

Mas até aqui o ritmo tem sido ditado pelo Kremlin: os ucranianos queriam ver um memorando com os termos russos para a paz escrito antes da reunião no opulento Palácio Çiragan, uma joia otomana às margens do estreito do Bósforo que hoje funciona como hotel de luxo.

Os russos bateram o pé e Zelenski ficou sem opção, enviando seu vice-ministro da Relações Exteriores para chefiar a delegação. Do lado russo está o mesmo mediador das conversas fracassadas de 2022, o ex-ministro da Cultura Medinski.

Com informações de Banda B, parceira do Portal aRede.

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