Apagão de mão de obra é um problema de mobilidade e moradia, não só industrial
Henrique Zulian, conselheiro de Urbanismo, defende planejamento integrado de moradia, transporte e serviços para enfrentar risco concreto de "apagão"
Publicado: 30/12/2025, 15:16

O conselheiro da área do Urbanismo do Grupo aRede, Henrique Wosiack Zulian, afirma que, embora Ponta Grossa tenha avançado na atração de indústrias e na geração de empregos, surgem novos desafios que exigem planejamento integrado.
O debate é referente a reportagem especial do Portal aRede
Para Zulian, o deslocamento não é um problema apenas para quem precisa sair da cidade, mas também para moradores que vivem em regiões afastadas dos polos de emprego.
Confira abaixo a opinião na íntegra de Henrique, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pós-graduado pela Escola da Cidade e mestre na área de Projeto Arquitetônico pela Universidade de São Paulo (FAU-USP). Ele também tem dezesseis premiações em concursos de arquitetura pelo Brasil, inclusive em Ponta Grossa:
"Ponta Grossa vive um paradoxo urbano cada vez mais evidente. Ao mesmo tempo em que se consolida como o maior polo industrial do interior do Paraná, a cidade enfrenta um risco concreto de “apagão da mão de obra”. Hoje, mais de 21 mil pessoas trabalham nas indústrias locais, e a projeção é ultrapassar 25 mil nos próximos anos. Mas o crescimento econômico não tem sido acompanhado, na mesma velocidade, por planejamento urbano e social.
A falta de trabalhadores não é apenas um problema de qualificação. Ela revela uma cidade onde morar perto do trabalho é cada vez mais difícil, o transporte público é lento e concentrado nas regiões centrais, e o tempo total gasto no deslocamento pode até ultrapassar duas horas por dia. Isso impacta diretamente a produtividade, a qualidade de vida e a capacidade de retenção dos profissionais.
Além disso, a má remuneração em muitos postos industriais não acompanha o custo crescente da moradia e da vida urbana. O resultado é um trabalhador que precisa morar longe, gastar mais com transporte e aceitar condições cada vez mais apertadas, o que torna a indústria menos atrativa, mesmo em um cenário de baixo desemprego.
Quando grandes empresas apontam gargalos em transporte, acesso viário, energia e infraestrutura, o que está em jogo é algo maior: a necessidade de pensar a cidade de forma integrada. O núcleo industrial se concentra junto à BR-376 e tende a encontrar dificuldades com o alto tráfego em certos horários. Logo, não basta atrair indústrias; é preciso planejar bairros, mobilidade, habitação e serviços públicos próximos aos polos de emprego.
O desafio de Ponta Grossa, portanto, não é apenas industrial. É urbano. Sem uma cidade que funcione para quem trabalha, cresce a produção, mas falta gente. E esse é um limite que nenhum investimento consegue superar sozinho".
CONSELHO DA COMUNIDADE
Composto por lideranças representativas da sociedade, não ocupantes de cargo eletivo, totalizando 14 membros, a iniciativa tem o objetivo de debater, discutir e opinar sobre pautas e temas de relevância local e regional, que impactam na vida dos cidadãos, levantados semanalmente pelo Portal aRede e pelo Jornal da Manhã, com a divulgação em formato de vídeo e/ou artigo.
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