Inclusão de PcDs não deve se limitar ao ambiente educacional
Conselheira, que é gestora executiva da Adetur, se manifesta sobre ação que coloca em risco as APAE's do Paraná
Publicado: 24/08/2025, 22:40

A conselheira da área de Turismo do Grupo aRede, Karen Kobilarz, lembra que a inclusão das Pessoas com Deficiência (PcD) não deve se limitar ao ambiente educacional, mas, sim, em todas as esferas da sociedade - diz sobre a reportagem especial que trata da 'ADI 7796', que coloca em risco o funcionamento das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE's) do Paraná (leia aqui).
Confira abaixo a opinião na íntegra da Karen, que é bacharel em Turismo, especialista em políticas públicas e gestão empresarial, consultora do Sebrae e Senar PR, além de gestora executiva da Adetur Campos Gerais:
"A educação de crianças com deficiência mental e intelectual tem passado por transformações significativas ao longo das últimas décadas. Antes marcados pela exclusão e pela segregação em instituições especializadas, hoje os sistemas educacionais buscam promover a inclusão, reconhecendo que cada criança possui potencialidades que podem ser estimuladas de acordo com suas necessidades específicas. O princípio central é garantir o direito à educação de qualidade, assegurado por legislações nacionais e internacionais, como a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e a Lei Brasileira de Inclusão (LBI).
A educação inclusiva consiste no direito de todas as crianças e adolescentes, com e sem deficiência, à educação de qualidade, à participação, à convivência, a não discriminação, dentre tantas outras coisas. Estudos demonstram que as escolas se tornam melhores com a educação inclusiva e que pessoas sem deficiência que estudam em salas de aula inclusivas têm opiniões menos preconceituosas, além de serem mais receptivas às diferenças. Já para os alunos com deficiência, esse mesmo convívio traz reflexos que são percebidos também na idade adulta, já que se tornam mais propensos a fazer um curso superior, pertencer a um grupo de amizades, encontrar um emprego e viver de forma independente.
Porém, os desafios não são poucos. No ambiente escolar é necessário adaptar metodologias, materiais e estratégias pedagógicas, oferecendo recursos de acessibilidade e atendimento educacional especializado. O professor passa a ter papel fundamental não apenas como transmissor de conhecimento, mas como mediador do processo de aprendizagem, construindo práticas que respeitem o ritmo e as características de cada estudante. Além disso, a atuação de equipes multiprofissionais - envolvendo psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos - contribui para um desenvolvimento mais completo e deve envolver toda a comunidade escolar.
No entanto, a inclusão não deve se restringir ao espaço escolar. É necessário pensar em uma sociedade que ofereça condições de participação plena em todas as áreas da vida social. No mercado de trabalho, programas de empregabilidade inclusiva permitem que jovens e adultos com deficiência intelectual desenvolvam autonomia e contribuam com suas habilidades. No lazer e no esporte, iniciativas adaptadas fortalecem a autoestima e favorecem a convivência comunitária. No acesso à saúde, é fundamental garantir atendimentos especializados que respeitem as particularidades cognitivas.
Precisamos refletir em como a sociedade está preparada para conviver com essas pessoas. Como são atendidas e tratadas no comércio, em restaurantes, hotéis, cinemas, igrejas, no trânsito e em espaços públicos e áreas de lazer? É necessário pensar em uma sociedade que ofereça condições de participação plena em todas as áreas da vida social.
Portanto, a inclusão de pessoas com deficiência intelectual deve ser compreendida como um compromisso coletivo, que vai além das políticas educacionais. Envolve a construção de uma cultura de respeito à diversidade, rompendo barreiras físicas, atitudinais e comunicacionais. Mais do que integrar, é preciso garantir pertencimento, possibilitando que cada indivíduo exerça plenamente seus direitos e viva de forma digna em todas as dimensões da sociedade".
CONSELHO DA COMUNIDADE - Composto por lideranças representativas da sociedade, não ocupantes de cargo eletivo, totalizando 14 membros, a iniciativa tem o objetivo de debater, discutir e opinar sobre pautas e temas de relevância local e regional, que impactam na vida dos cidadãos, levantados semanalmente pelo Portal aRede e pelo Jornal da Manhã, com a divulgação em formato de vídeo e/ou artigo.