Coluna Fragmentos: Lange, Weiss, Bianchi: os fotógrafos ponta-grossenses

Imagens fotográficas são instrumentos preciosos para o conhecimento do passado. A noção de “ver o passado” por meio de imagens nasceu junto com a fotografia, no século XIX, fazendo com que as pessoas mantivessem gravadas com mais facilidade aquilo que já aconteceu enquanto uma experiência visual. Os instantes captados pelas fotografias são reproduzíveis com precisão e geralmente possuem “vida longa”, tornando-se uma representação fidedigna do passado. Mais do que momentos congelados ou estáticos, os registros fotográficos carregam consigo as experiências vividas por indivíduos ou grupos sociais distintos, contribuindo para a perpetuação de práticas culturais, de rituais e de acontecimentos das mais diversas naturezas.

Paralelamente ao nascimento da fotografia encontra-se a figura do fotógrafo. É ele quem define o enfoque, o enquadramento, o ângulo, o formato, o cenário e as pessoas que são perpetuadas nas imagens fotográficas. Desde a invenção da fotografia, a cidade se constituiu em um objeto privilegiado para as lentes dos fotógrafos preocupados com a eternização das imagens e dos cenários urbanos: as transformações físico e espaciais, as festividades, os rituais, a arquitetura, as pessoas. Entre os meados do século XIX e do XX, nenhuma cidade foi tão fotografada no mundo como Paris. Algo compreensível, na medida em que foi na “cidade luz” que Daguerre promoveu seus estudos que levaram a criação do daguerreótipo (aparelho que antecedeu a máquina fotográfica) e que Felix Nadar inventou a técnica pioneira de fotografia com luz artificial (valendo-se de flashes à base de pólvora). 

No Brasil, estima-se que as primeiras máquinas fotográficas chegaram na década de 1860 e logo se tornaram um dos principais símbolos dos novos e modernos tempos. As cidades brasileiras, que então entravam em um período de desenvolvimento, passaram a servir de cenários para fotógrafos que cumpriram o importante papel de registrar as mudanças espaciais, estéticas e sociais em curso nas principais cidades de nosso país. Entre os primeiros profissionais da fotografia no Brasil, destaca-se a figura de Militão Augusto de Azevedo (1837-1905), considerado por muitos como o principal fotógrafo brasileiro do século XIX. Nascido no Rio de Janeiro, ele mudou-se para São Paulo em 1863, com 25 anos, trabalhando como retratista e, posteriormente, como fotógrafo. A sua principal característica foi a de registrar sistematicamente as transformações e o desenvolvimento urbano da capital paulista provocado tanto pela pujança econômica propiciada pelo café, quanto pela chegada de um grande contingente de imigrantes europeus.

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Registro de ambientes urbanos

Fotografias como as produzidas por Militão em São Paulo, servem, nos dias atuais, como fontes imagéticas para pesquisadores que buscam compreender os processos de desenvolvimento urbano e de transformações socioculturais ocorridas no Brasil entre os fins dos Oitocentos e o começo dos Novecentos. Assim como Militão, outros fotógrafos também registraram diferentes ambientes urbanos brasileiros nesse período. Nos últimos anos, publicações a respeito da história e do desenvolvimento urbano ponta-grossense também se valeram da contribuição deixada por diversos fotógrafos que elegeram cenários de nossa cidade como seus focos de atenção. É certo que muito se fala – e muito se deve – a família Bianchi (Luís, Rauly e Raul), mas outros importantes fotógrafos produziram belíssimas imagens de Ponta Grossa, ajudando a perpetuar em nossa memória o quanto era linda a “Princesa dos Campos” daqueles tempos. Destaque-se, nesse sentido, a grande quantidade de imagens deixadas por outros dois profissionais da fotografia que atuaram na cidade nas décadas iniciais do século passado: Ewaldo Weiss e Frederico Lange. Graças ao trabalho desenvolvido por esses profissionais, que podemos classificar como a primeira geração de fotógrafos ponta-grossenses, ainda é possível manter viva, mesmo que apenas em imagens, uma cidade que, infelizmente, em grande parte já não existe mais.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 17 de abril de 2011.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.