Coluna Fragmentos: O ensino profissionalizante e o colégio Augusto Ribas | aRede
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Coluna Fragmentos: O ensino profissionalizante e o colégio Augusto Ribas

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

JM 15 de dezembro de 1964
JM 15 de dezembro de 1964 -

João Gabriel Vieira

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O ensino profissionalizante data, no Brasil, desde o século XIX. Porém, foi no século XX com o crescimento urbano, a incorporação de práticas capitalistas, a expansão do mercado de trabalho, a dinamização das atividades produtivas nacionais e a inevitável eclosão das “questões sociais”, que a necessidade de se “educar” pelo e para o trabalho tornou-se uma prática corrente.

No caso de Ponta Grossa, a década de 1930 marcou o aparecimento de duas importantes instituições de ensino direcionadas para a formação profissional: a Escola de Trabalhadores Rurais (1937) e a Escola Profissional Ferroviária Tibúrcio Ferreira Cavalcanti (1940).

Criada em plena Era Vargas, a Escola Agrícola de Ponta Grossa tinha dois objetivos claros: retirar os menores que na época perambulavam pelo centro da cidade, principalmente na região da Estação Ferroviária e, seguindo as diretrizes nacionais, prepará-los para o mercado de trabalho.

A higienização – sanitária e dos costumes – projetava-se como um dos pilares nos quais se sustentava o governo Vargas, e tal perspectiva se reproduzia nos estados e municípios brasileiros. No caso do Paraná, e especificamente em Ponta Grossa, as ações do Interventor Manoel Ribas e do Prefeito Albary Guimarães seguem claramente tal diretriz.

No comando do município, Guimarães reformou e criou diversos espaços e instituições voltados para a higienização, como o Matadouro Municipal, o Instituto Pasteur, o Necrotério e o Cemitério Público, os postos de puericultura e o Hospital Infantil Getúlio Vargas. Além disso, ampliou a rede de água e esgoto e o calçamento de várias ruas, sobretudo na área central da cidade. A implantação da Escola de Trabalhadores Agrícolas se insere nessa perspectiva de ordenamento e higienização social própria daquele período.

Naquela época, Ponta Grossa crescia rapidamente. O Censo de 1920 apontou a existência de uma população de 20.171 habitantes, dos quais, cerca de 15 mil estavam fixados na área urbana. Estima-se que em 1935 o número de ponta-grossenses era de aproximadamente 36 mil pessoas, ou seja, em 15 anos um aumento demográfico em torno de 75%.

Problemas econômicos, sociais e sanitários, decorrentes desse acelerado crescimento, se fizeram sentir e obrigaram o poder público a agir de forma a solucionar ou minimizar tais questões. Não por acaso, uma das figuras mais conhecidas na cidade na época era o Coronel Adolphito Guimarães, Chefe de Polícia de Ponta Grossa. A vigilância, a repressão e o uso da força contra mendigos, vadios, desocupados e crianças que circulavam pelas ruas, eram práticas correntes.

Relatórios municipais e estudos recentes sobre o período apontam para o aumento dos problemas sociais em Ponta Grossa na década de 1930, como: prostituição, furtos, brigas, mendicância e menores de rua. Urgia, portanto, que fossem tomadas medidas visando salvaguardar a chamada “população de bem”.

Desta forma, o Governo estadual atendeu as solicitações feitas pelo município no sentido de criar em Ponta Grossa uma escola profissionalizante que retirasse os menores das ruas, e assim, no dia 17 de setembro de 1937, com a presença do Interventor Manoel Ribas, foi inaugurada a Escola de Trabalhadores Rurais de Ponta Grossa.

Desde sua inauguração, a Escola funcionou em regime de internato. Entre seus alunos encontravam-se crianças pobres de origem urbana e outras que vinham da zona rural de Ponta Grossa e região. Quanto ao ensino, voltava-se especificamente para a formação técnica agrícola.

Em 1980, quando já se chamava Colégio Agrícola Augusto Ribas (denominação adotada desde 1962), uma Lei assinada pelo governador Ney Braga, transferiu o Colégio para a Universidade Estadual de Ponta Grossa, que incorporou seu patrimônio e passou a administrá-lo. Mantendo seus objetivos iniciais, o Colégio Agrícola continua voltado para a formação técnica dos seus estudantes. Atualmente oferta cursos em nível médio e atende alunos oriundos de Ponta Grossa e de todo interior paranaense.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 27 de janeiro de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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