Comunidade do MST de PG deve se tornar assentamento
O ministro de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, deverá estar presente em evento, no dia 16 de março
Publicado: 11/03/2024, 18:04
Após mais de 20 anos de formação do acampamento, as mais de 70 famílias camponesas da comunidade Emiliano Zapata, em Ponta Grossa, Paraná, estão perto de comemorar a conquista definitiva da Reforma Agrária. O anúncio oficial da criação do assentamento está marcado para o dia 16 de março, próximo sábado, com festa e ato público com autoridades, na sede da comunidade.
Na celebração devem estar presentes, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil do governo brasileiro, Wellington Dias; o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) do Paraná, Nilton Bezerra Guedes; Bispo da Diocese de Ponta Grossa, Dom Sergio Arthur Braschi e o desembargador Fernando Prazeres, coordenador da Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná e como atuante no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC Fundiário).
A programação da festa começa às 9 horas, com visita às unidades produtivas e espaços coletivos da comunidade, 10h ato político com autoridades, e 13h com almoço comunitário oferecido gratuitamente pelas famílias assentadas.
Este será o segundo acampamento do MST a ser efetivado como assentamento no Paraná, durante este terceiro mandato do presidente Lula. Mais de 80 comunidades camponesas do estado ainda aguardam a conquista definitiva da Reforma Agrária no estado.
REFORMA AGRÁRIA - A comunidade Emiliano Zapata está localizada a 20 quilômetros do perímetro urbano de Ponta Grossa, rodovia do Talco, próximo ao Parque do Botuquara. Quem visita o local hoje, encontra uma grande diversidade de produção, casas estruturadas, espaço comunitário e uma cooperativa. É um cenário bastante diferente do que havia ali há quase 21 anos.
Os 630 hectares de terra pertenciam à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que havia recebido o espaço por meio de doação pela União para a realização de pesquisas. No entanto, a área estava sendo utilizada para o monocultivo de pinus, além do plantio de soja e experimentos com sementes transgênicas.
A área foi ocupada no dia 26 de agosto de 2003, desde então, se iniciou uma transformação, quando as famílias passaram a se dedicar à produção de alimentos, principalmente sem o uso de agrotóxicos. O desenvolvimento da produção ganhou impulso quando a comunidade conseguiu criar a Cooperativa Camponesa de Produção Agroecológica da Economia Solidária (Cooperas) em 2011, para a comercialização de alimentos.
Os camponeses que vivem no Emiliano Zapata já participaram das ações de solidariedade que estão sendo promovidas pelo MST desde o início da pandemia. São toneladas de alimentos produzidos pela comunidade e doados para famílias vivendo em vulnerabilidade na região urbana.
SONHO COLETIVO - Marcia Rocio de Paula está entre as moradoras mais antigas da comunidade. Ela morava na cidade e tinha trabalhos informais em restaurantes, como diarista, cuidando de pessoas idosas. Com filhos pequenos, se preocupava com a violência e as dificuldades em garantir qualidade de vida. Hoje, Marcia e a família vivem da produção na terra, com mais saúde e renda.
“É uma questão de saúde física, mental, do trabalho, comunidade, depois que a gente veio pra cá melhorou 100% a nossa vida. Mesmo na questão financeira. Na cidade a gente trabalha hoje para pagar o que comeu ontem, e aqui conseguimos fazer a nossa casa, temos nosso carrinho, temos trator, a gente não passa dificuldade, mexe com horta, lavoura, tem os bichinhos também, coisa que na cidade todo mundo sabe que não é assim”, compara a camponesa. “Quando eu vou pra cidade passear, não vejo a hora de voltar embora”, brinca.
A poucos dias de ser assentada formalmente na terra em que trabalha há mais de 20 anos, Marcia conta que está realizando um sonho. “Eu sempre sonhei em ter uma terra pra mim, pra plantar. Quando surgiu a oportunidade, eu vim. Estou muito feliz, porque deu bem como a gente queria, trabalhar na terra, produção totalmente orgânica pra ter boa qualidade de vida pra mim, minha família e todos os companheiros”.
Para Marcia, outra diferença da comunidade para a vida que levava na cidade é o trabalho coletivo e o companheirismo entre as famílias. “Aqui nós somos muito unidos, um apoio aos outros e estamos conectados pra fazer o que for preciso”. Exemplo disso é o grande mutirão organizado pelo pré-assentamento para receber a festa do próximo dia 16.
Há mais de um mês, toda comunidade está envolvida na construção de banheiros e da nova sede da cooperativa, na sede da comunidade. Nos finais de semana, mais de 40 pessoas participam simultaneamente dos trabalhos. “O povo tá muito feliz, todo mundo com a mão na massa, e nós só temos a agradecer”, completa.
Da assessoria