‘Cão Bandido’ morre aos 16 anos e enluta servidores da UEPG | aRede
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‘Cão Bandido’ morre aos 16 anos e enluta servidores da UEPG

O cãopanheiro deixou saudades em quem cuidava dele, marcando histórias no coração de pessoas, especialmente das que trabalham na instituição

Assim era Bandido, cachorro morador da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Assim era Bandido, cachorro morador da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) -

Da Redação

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Branquinho com manchas marrons pelo corpo, personalidade forte, mas coração gigante com os cuidadores. Assim era Bandido, cachorro morador da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A vida agitada se encerrou no último sábado (06). Na partida, estava rodeado de cuidados veterinários, depois de cerca de 16 anos de convivência diária com alunos, professores, servidores e comunidade que caminhava pelo Campus. Polêmico, territorialista e líder da sua matilha, o cãopanheiro deixou saudades em quem cuidava dele, marcando histórias no coração de pessoas, especialmente das que trabalham na instituição.

Entre muitas casas e camas que teve pelo Campus Uvaranas, duas marcaram: a primeira, no Bloco G, e a última, no ponto de ônibus do Restaurante Universitário. Elas abrigaram Bandido até que fosse levado a uma clínica veterinária para tratamentos de saúde antes de seu falecimento. Mas a morada era grande na UEPG e a vida era intensa. Até onde a vista pelo Campus alcançasse, Bandido corria. Um corredor nato, que visitava servidores nos blocos da UEPG. Josemary Souza conheceu Bandido nas andanças que ele fazia. Quando morava no Bloco G, Bandido começou a amizade aos poucos com a servidora. “Ele era um cachorro muito bravo, corria atrás dos outros, mordia os outros cachorros, não deixava ninguém chegar perto. Mas fomos dando comida pra ele e nos aproximando aos poucos”, relembra. Com as brigas entre outros cachorros, era inevitável que Bandido se machucasse. Graças à amizade estabelecida, o socorro veio mais fácil. “Ele vivia machucado, então chamei os professores, o Bandido deixou eu pegar nele e conseguimos colocar no carro para levar no veterinário e assim a gente foi continuando”.

Foram dez anos de convivência entre Josemary e Bandido, quatro deles no Centro de Convivência, atual local de trabalho da servidora. Mesmo com a mudança de lugar, as visitas permaneciam. “Ele vinha aqui me visitar, mas depois não veio mais, porque não conseguia mais andar, ficava deitado e eu tinha que levar ele de volta para o Bloco da Educação Física”. No fim do expediente, era outra aventura. Se Bandido decidisse ficar mais tempo com Josemary, era impossível pegar ônibus pra voltar para casa. “Eu tinha que ir a pé para ele ir comigo para casa, depois ele dormia comigo e ia comigo para o trabalho. E assim era a vida do Bandido”, conta. A dupla tinhas sonhos que não chegaram a se realizar. “Achava que eu ia me aposentar e ia levar ele comigo pra ficar na minha casa…mas ele foi antes de eu realizar esse sonho com ele”, conta em lágrimas.

Do Bloco G ao Colégio Agrícola Augusto Ribas, Bandido fez amigos. Marilis de Lara trabalhou por 27 anos na instituição e o primeiro contato com o cachorro foi quando ainda dava aulas no Caar. “Comecei a ajudar a cuidar dele e do Lobo, outro companheiro comunitário que mora lá. Aí o tempo passou”. Marilis nunca gostou do nome Bandido, dado ao cão. “Me falaram que deram esse nome porque ele tinha o costume de atacar quando não estavam olhando. Mas nunca confirmei tal informação”. A professora aposentada destaca que Bandido era um líder no local para os outros cães. “Mas para nós, os protetores, sempre foi dócil e querido”.

Algo era certo: Bandido adorava correr atrás de ônibus, motos, bicicletas e pessoas correndo. “No início, ele era mais ágil, mas com o passar do tempo e da idade sua mobilidade e locomoção se tornaram mais difíceis e limitantes”, explica Marilis. A idade avançada trouxe para Bandido problemas de saúde, como nódulos na lateral do abdômen, que demandavam cuidado e medicação constantes. 

E lá estava Marilis, no fim da vida de Bandido, sem largar a sua pata, acompanhando a internação e todo o tratamento. “Meu cuidado com ele foi possível também graças ao apoio de outros anjos protetores, que de uma forma ou de outra nos ajudam sempre”. Apesar da dor, o amor: “amei o Bandido assim como amo todos. Ele foi amoroso, querido e procuramos fazer o possível para que tivesse uma melhor qualidade de vida. Para quem é apaixonada por cachorros e todos os outros animais, é impossível imaginar ou conceber o abandono, em qualquer fase, mas quando são idosos, os cuidados se intensificam e são imprescindíveis”. Um cachorro idoso é digno de amor, assim como os filhotes. “Eles nunca nos abandonam com seu amor, sua companhia, sua lealdade e seu carinho. E nós devemos tentar retribuir e possibilitar a eles principalmente na fase que mais precisam”, completa Marilis.

“Carta ao meu amigo Bandido”

Era tarde da noite quando Edemar Luis Kaust escreveu uma homenagem ao cãopanheiro de mais de 16 anos de convivência. A primeira vez que os dois se encontraram foi quando Edemar chegava para jogar basquete no Bloco G. “Ele estava acompanhando um segurança e, quando me viu de bicicleta, tentou, como fiel companheiro do funcionário, “defendê-lo”. Como sempre tive cães, ao invés de tentar escapar, fiquei parado e me curvei fazendo um gesto para afagá-lo”. Foi aí que a história da dupla começou. “Nesse momento, ele percebeu que eu não tinha medo dele e nem queria brigar com ele. Assim, já ganhei sua confiança”, relembra. 

Com o passar do tempo, cada vez que ia até o Bloco, Edemar levava petiscos para Bandido e seus amiguinhos da época, o Spock e a Pretinha. “Como morava próximo Campus, durante as férias, ficava pensando se ele e os demais podiam estar passando fome. Então comecei a levar ração e um pãozinho diariamente para ele e seus companheiros”.

A rotina possibilitou estabelecer um laço tão forte de amizade que não importava se eram dias chuvosos ou frios – Edemar estava lá para levar o jantar do Bandido à noite. O cão tinha personalidade forte e dominante, o que afastava outros cães que tentavam entrar no território da sua matilha. “Quando ele via meu carro se aproximar, já corria ao meu encontro para ganhar sua janta e me ‘proteger’ de qualquer ameaça. Isso gerava muitos ‘corridões’ em transeuntes, ciclistas, carros e motos que estavam passando pelo Bloco”, recorda.  Edemar conta que sempre alertou pessoas que passavam pelo Bloco para que que não corressem ou o ameaçassem. “Bastava apenas demonstrar um pouco de carinho com ele, que ele já cessava o ataque e se tornava amigo de quem quer que fosse”. 

Após o lanche, Edemar descia até a pista de atletismo para correr e lá ia Bandido o acompanhar em algumas voltas. “Depois de não achar sentido em eu ficar dando voltas e voltas, ele parava ao lado da pista e só me observava até eu encerrar meu treino. Quando percebia que eu parava, ele se animava, pois sabia que eu ia voltar para o estacionamento do Bloco, me escoltando até meu carro”, descreve. 

Dentre as lembranças marcantes, uma inusitada. Depois de apartar uma briga entre Bandido e seu amigo Lobo, Edemar percebeu que tinha perdido as chaves do carro no meio do gramado da pista. “Já era umas 21h30 de um sábado e eu não conseguia ir embora. Depois de alguns minutos, um segurança me viu, no meio do nada, com a companhia do Bandido, tentando achar algo. Mais alguns minutos e conseguimos localizar a chave”. O Bandido, ao contrário de Edemar, parecia gostar da brincadeira no meio do gramado, no escuro, vasculhando o chão. “Assim, ele tinha companhia por mais tempo naquela noite”, lembra. 

Como mensagem, não de despedida, mas de um “até logo”, Edemar escreve ao ‘Bandidão’, como ele chama: “você sempre será o cão lendário do Campus. Ninguém sabia a sua idade exata, mas convivi contigo por pelo menos 16 anos. Você foi o cão que por mais tempo permaneceu fiel à sua missão: arrancar sorrisos dos seus protegidos e fazer a segurança ininterrupta das dependências do Bloco G. Descansa bem dessa missão da qual consegui fazer parte. Daqui a pouco você já estará na próxima, pois a nossa evolução é sempre constante! Um abraço forte, meu irmão peludo!”.

A instituição se solidariza com os amigos que Bandido deixou pelo caminho e que sentiram sua partida.

Cuidado constante (e um pedido para adoção)

Os cachorros comunitários da UEPG são cuidados por voluntários, com auxílio da Prefeitura do Campus (Precam), que disponibiliza espaços para água e comida. Para que não falte nada, os cuidadores se revezam todos os dias. “Somos em 4 voluntários, quando uma de nós percebe que não estão bem, trocamos mensagem e aquela que estiver com mais condições no momento leva na clínica, por exemplo”, explica Lúcia Helena Garrido, cuidadora voluntária.

Com os anos de convívio, fica impossível não conhecer a personalidade de cada um. “Eles são receptivos conosco, conhecem até o barulho do carro”, descreve Lúcia. A vida dos cãezinhos não é fácil. “Eles sofrem com as intempéries, com a idade se torna mais visível.  Quando são novos, tentamos muito encontrar um lar para eles, pois, apesar da liberdade aqui no Campus, a vida deles não é fácil”, adverte. Quando a idade chega, os problemas, como machucados, dores e falta de agilidade, aparecem.  “Animais idosos utilizam, muitas vezes, medicação contínua, devido aos problemas da própria idade, como era o caso do Bandido. No campus não temos como fazer isso de forma satisfatória”, relata.

Para que o cuidado seja individualizado, o Grupo cuida dos animais e promove campanhas de adoção para cães de todas as idades. Conheça abaixo os cachorros disponíveis para adoção. O contato pode ser feito pelo perfil no Instaram (@dogsdauepg).

Com informações da UEPG

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