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Grupo com professores da UEPG descobre registro rupestre de araucárias

É a primeira vez que pesquisadores encontram a representação da árvore, símbolo do Paraná, registrada como pintura rupestre

Da Redação

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O Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas (Gupe), que conta com professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), descobriu registros de pinturas rupestres de araucária na região de Piraí do Sul. É a primeira vez que pesquisadores encontram a representação da árvore, símbolo do Paraná, registrada como pintura rupestre. Encontrado em setembro de 2021, o resultado do estudo foi publicado na última sexta-feira (03), com o artigo ‘Primeiro registro de arte rupestre com representações de Araucaria angustifolia, Sul do Brasil‘.

A descoberta arqueológica é um painel de araucárias, elaborado em superfície de arenitos de 0,36 m². Ao todo, foram identificadas representações de 13 araucárias e 20 antropomorfos (que são representações humanas). Pelo alto grau de detalhes das pinturas, o Grupo identificou que o painel pode ter sido elaborado pelos povos originários Macro-Jê, antepassados de comunidades indígenas presentes atualmente no sul do Brasil, como os Kaingang e Xoclengues.

Segundo o artigo, o conjunto de araucárias possui uma continuidade na técnica de representação,  o que reforça a hipótese de que o painel representa uma floresta ou capão de mata com araucárias. A professora Nair Fernanda Burigo Mochiutti fez parte do grupo que descobriu as pinturas. Era 04 de setembro de 2021 quando os primeiros registros foram descobertos. “Estávamos cadastrando uma caverna e um colega nos chamou para contar o que tinha visto. Fomos todos juntos olhar para o painel das araucárias e lembro que mostrei o braço toda arrepiada, porque realmente foi na hora que percebemos e reconhecemos que eram as araucárias. Foi de arrepiar, bem emocionante”, relembra.

Apesar da deterioração pela passagem natural do tempo, pesquisadores afirmam que as representações das árvores são altamente detalhadas e fiéis aos aspectos típicos da espécie, o que é inédito entre outros achados rupestres da região. “A descoberta tem um apelo e simbolismo grandes, porque quando você vê uma pintura de uma espécie da flora que não é tão comumente documentada nas pinturas rupestres, é muito emocionante”, relata Nair. Segundo ela, a expectativa em divulgar a descoberta de pinturas das árvores símbolo da região era grande. “Desde o início, tínhamos muita vontade de compartilhar para outras pessoas, e durante muito tempo seguramos essa informação até de pessoas próximas, familiares e amigos”.

Documentação

Muito antes do Movimento Paranista; que iniciou em 1920, pela proposta estética de valorizar a identidade paranaense com elementos do Estado, especialmente a araucária; o povo Macro-Jê já registrava e pintava as araucárias no seu cotidiano. O professor Henrique Simão Pontes, do Departamento e Geociência e membro do Gupe, explica que as pinturas datam de aproximadamente 4 mil anos atrás. “Mas é complexo citar data em pinturas rupestres, porque é necessário fazer adaptações relativas de fragmentos encontrados nas proximidades”, adverte. Para ter o parâmetro temporal, o Grupo estudou sobre os povos originários que habitaram a região e como eles e as araucárias se desenvolveram. “Identificamos que esses primeiros grupos coincidem com a entrada de 4 mil anos pra cá, mas é um recorte grande, pode ser 4 mil, 1 mil, 700 anos atrás ou quem sabe até menos”.

A própria natureza deu cargo de proteger as pinturas ao longo dos anos. O local em que abriga o painel está localizado a 1.130 metros de altitude, próximo a um afluente do rio Piraí-Mirim. A vegetação ao redor do abrigo é composta por pastagens e matas secundárias, em diferentes estágios de regeneração, cobrindo parcialmente encostas e vales ao longo do curso d’água.  “Essas pinturas não pertencem ao proprietário das terras ou ao Gupe, mas a todo povo brasileiro, à história e à cultura. É emocionante fazer parte dessa descoberta, para que as pessoas tenham conhecimento de que já há muito tempo essa árvore é importante, desde os povos originários”, destaca a professora Laís Luana Massuqueto.

Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas (Gupe) conta com professores da UEPG
Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas (Gupe) conta com professores da UEPG |  Foto: Fotos: Jéssica Natal e Rodrigo Aguilar Guimarães, membro do Gupe
 

Histórico

Os painéis rupestres, possivelmente deixados pelos povos Jê, são complexos, segundo o artigo – com representações de figuras humanas, plantas cultivadas e símbolos que podem representar elementos de grupos e modos de apropriação da paisagem ou delimitação do território. O achado distingue de outros da região. “Baseado não apenas no grau de detalhamento com que os elementos são representados, mas também na presença de mais de 20 antropomorfos representados em movimento, possivelmente em algum tipo de ritual”, destaca o artigo.

Os painéis rupestres deixados pelos povos Jê são complexos
Os painéis rupestres deixados pelos povos Jê são complexos |  Foto: Fotos: Jéssica Natal e Rodrigo Aguilar Guimarães, membro do Gupe

“Encontramos outros estudos que citam a influência dos povos Macro-Jê para a disseminação da araucária, que mostra que a expansão das árvores no sul do Brasil não recorreu apenas de um processo natural, mas também passou por influência desses povos originários”, destaca o professor Henrique.  Apesar de ser um estudo inicial, os pesquisadores do Gupe acreditam que a descoberta é importante e representativa às comunidades pré-históricas que habitavam o Paraná. “Sempre nos questionávamos o motivo de não ter pintura rupestre de araucária, porque ela tem um significado grande no nosso atual estágio cultural. Quando a gente encontra esse registro, chegamos a uma hipótese de que [a araucária] também poderia ter uma representação forte para esses povos”, completa.

Com informações da Assessoria de Imprensa

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