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Paranaenses relatam situação do Covid-19 em outros países

Três paranaenses da região dos Campos Gerais comentam como os governos do continente estão encarando a pandemia mundial e o impacto que tiveram em sua vida nesses países

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| Autor:

Gabriel Miguel e Lucas Boamorte

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Três paranaenses da região dos Campos Gerais comentam como os governos do continente estão encarando a pandemia mundial e o impacto que tiveram em sua vida nesses países

Desde a chegada do Covid-19, popularmente conhecido pelo seu transmissor, o  Coronavírus, na América do Sul, a maioria dos países que formam o continente optou pelo fechamento de suas fronteiras terrestres e aéreas a partir da suspeita e confirmação dos primeiros casos da doença. Não foi o caso do Brasil, que optou pelo fechamento parcial da fronteira com a Venezuela apenas na segunda-feira (16/03), quando o país já registrava 274 casos confirmados. Apenas no dia 19, o presidente Jair Bolsonaro determinou o fechamento da divisa com os demais países vizinhos.

Além da restrição branda imposta nas fronteiras, pouco foi feito em relação a portos, rodovias internas e aeroportos, que continuam trazendo para o país passageiros de países também contaminados pelo vírus. Alguns brasileiros que estão em nações vizinhas, porém, não encontraram a mesma passividade frente ao problema, e se deparam com série de restrições de circulação, inclusive com dificuldades para retornar ao Brasil.

Peru: pontagrossense relata a experiência de brasileiros sitiados no país andino na semana passada

O caso mais dramático aconteceu no Peru, onde na semana passada cerca de cinquenta brasileiros se concentraram no aeroporto de Lima e na embaixada brasileira esperando repatriação e ajuda humanitária para voltar para casa. Quem chamou atenção para o caso em questão foi a pontagrossense Melissa Menta através de suas redes sociais. Desde o dia 16 de março, um dia após ser decretado o fechamento do país, a estudante de Direito de 24 anos alerta sobre a dificuldade que ela e outros brasileiros estão enfrentando para sair do país andino.

 Na noite de domingo (15) o presidente Martín Vizcarra determinou o bloqueio das fronteiras terrestres na manhã de segunda e o cancelamento de voos comerciais após 23:59. Ao saber do decreto, Melissa foi ao Aeroporto Internacional Jorge Chávez, na capital na noite de domingo e após duas horas na fila do guichê da companhia aérea trocou sua passagem, marcada para o dia 23, para um avião que saia de Lima à 01h da madrugada.Melissa foi colocada em lista de espera para o voo e após check-in dos passageiros do mesmo, a estudante tentou sem sucesso ser alojada para um dos assentos vagos da aeronave.

Segundo ela, a companhia não poderia atende-la pelo horário, mesmo havendo poltronas desocupadas no avião. Após entrar em contato com a sede da empresa no Brasil, Melissa Menta- que estava no Peru participando de uma ONG voltada a ajudar crianças carentes- conseguiu trocar sua passagem para um voo que decolaria às 23:58, praticamente o horário de encerramento das atividades aéreas decretado pelo presidente Vizcarra no dia anterior. Incertos de que a viagem aconteceria, Melissa e os demais passageiros tentaram encontrar a companhia, que após horas de reunião, atraso e discussão com os clientes, notificaram o cancelamento do voo e obrigaram as pessoas a se retirarem do aeroporto, “mesmo algumas alegando não terem onde ficar”, relata.

Melissa conta que entrou em contato com a Embaixada do Brasil via e-mail, pois se encontrava fechada e afirmou não poder ajudar no momento os brasileiros sitiados em Lima. A embaixada de outros países, como México, Israel e Estados Unidos já haviam pousado voos comunitários para resgatar seus cidadãos,  enquanto a diplomacia brasileira se mantém em silêncio.

Na terça-feira, o exército tomou conta das ruas, limitando a saída de pessoas apenas para hospitais e farmácias, sob condição de ser apenas um indivíduo por família. “Os militares estão sendo muito brutos com quem sai de casa”, denuncia a estudante, que relata ainda sobre a prisão de brasileiros pelos soldados peruanos por dormir nas ruas. Ela comenta que  isso ocorre principalmente porque hotéis na capital peruana estão fechando e expulsando hóspedes ou cobrando preços abusivos, o que deixou os não repatriados à mercê do vírus e da violência do exército. “Querendo ou não, é um país autoritário”, lamenta.    

Na quarta feira, foi decretado toque de recolher, que proíbe a circulação de pessoas entre 20h e 5h e a partir de quinta-feira, apenas transportes públicos estão permitidos de circular no país. Melissa não sai da casa onde está abrigada, que pertence a uma família membro da mesma ONG que ela e sua rotina se resume a ver filmes, ajudar na arrumação do local e tentar contatar a embaixada brasileira.

Perguntada se há relatos de brasileiros internados com o covid-19 no Peru, Menta afirma que não, pois a recomendação dada é que ao apresentar sintomas deve-se relatar à embaixada brasileira,e em caso de sintomas fortes chamar uma ambulância antes de procurar um hospital. Ela e demais voluntários possuem seguro de saúde internacional, mas que não cobre situações graves como pandemias, o que os obriga a buscar o já sobrecarregado sistema de saúde, que dá prioridade aos peruanos infectado.

Além dos cerca de cinquenta brasileiros em Lima que esperam um posicionamento da embaixada, há também não repatriados em outras áreas, principalmente em Cusco, segunda maior cidade do Peru, próxima à Machu Picchu. A situação para os brasileiros nesta e outras regiões é ainda mais complicada, pois os voos humanitários de retirada estão previstos a pousar somente em Lima e viagens internas entre cidades estão proibidas, o que deixa os demais na expectativa. Na sexta feira, 20, a pontagrossense e outros brasileiros retornaram do Peru através de um voo humanitário que os buscou na capital do país. 

Outros paranaenses da região dos Campos Gerais que moram em outros países na fronteira com o Brasil comentam experiências pessoais envolvendo o recente surto de coronavírus.

Paraguai: polo comercial de grande fluxo na fronteira se fecha com normas rígidas

H.G.Z, que prefere não ser identificado, é estudante de medicina em uma universidade do Paraguai. Natural de Palmeira, ele comenta que desde que houve suspensão de aulas e fechamento de locais movimentados decretados no dia 10, havia preocupação entre os brasileiros residentes no país sobre um possível bloqueio da Ponte da Amizade, entre Ciudad del Este e Foz do Iguaçu. “Muitos já haviam ido embora naquele momento”, comenta o estudante, que aponta uma mudança de comportamento desde que os primeiros casos no país foram confirmados.

Conhecida como ponto de comércio na fronteira tríplice com o Brasil e a Argentina, Ciudad del Este viu o fluxo de pessoas diminuir nos últimos dias, com fiscalização mais rigorosa do estado de saúde de quem atravessava a ponte, ao ponto de isolar quem apresentasse febre. Na terça feira (17/03) a ponte foi fechada sob ordem do presidente Mário Abdo Benítez.

Na quarta-feira (18) foi instaurado toque de recolher no país cujo descumprimento pode render prisão, como ocorreu com uma festa que aconteceu em plena quarentena. O entrevistado não soube responder se há brasileiros presos ou internados no sistema de saúde paraguaio. Ele comenta que o número de casos ainda é baixo e não há sobrecarga de hospitais, apesar da precariedade da saúde pública, o que explica a rigidez da aplicação da quarentena sobre o Paraguai. 

Uruguai: como um dos paises mais desenvolidos do continente tenta mitigar os impactos sociais do combate ao coronavirus

   Ligiane Meira, de 30 anos, é pontagrossensse e a cinco anos mora em Montevidéu, no Uruguai, onde possui um restaurante de comidas veganas. Ela e outros profissionais do ramo de alimentação não interromperam seu trabalho frente a quarentena, diferente de outros setores, como escolas e centros culturais. Nas ruas também é indicado que as pessoas não conversem umas com as outras e fiquem paradas. “As pessoas e o governo daqui estão levando tudo muito a sério”, relata a empreendedora.

Meira explica que isso se deve a um senso de coletividade que se instalou no país, principalmente por campanha virtual. “Somos uma população pequena. Todos acabam se ajudando”. Como não pode fechar seu estabelecimento, ela e a sócia optaram por priorizar o delivery e na quarta feira se surpreendeu com uma lista que chegou ao restaurante com outros comércios que não poderiam fechar durante a quarentena e que estão dispostos a vender entre si para se manter abertos. “Criou-se uma cultura de troca muito forte por aqui, e graças a essa lista estamos vendendo mais do que alguns dias atrás quando estavamos de portas abertas”. 

O último levantamento do governo uruguaio aponta para 189 pessoas contaminadas com o covid-19, a maioria na capital, o que torna o país um dos mais contaminados proporcionalmente na América Latina, considerando sua pequena população de 3,5 milhões de habitantes. “Infelizmente a principal responsável por trazer a doença ao país continuou circulando por Montevidéu até ser denunciada”, relata a brasileira, em referência a empresária e socialite Carmela Houton, que esteve na Itália recentemente e é suspeita de contaminar outras quarenta pessoas em uma festa de casamento na capital uruguaia.

“Estou muito mais tranquila aqui do que com um presidente que anuncia que fará uma festa de aniversário em meio a uma pandemia”, confessa Ligiane em primeira entrevista, realizada no dia 18 de março, quarta feira. Na atualização da matéria, quinta feira (26), o cenário no pequeno país vizinho mudou de tom. Segundo Meira, o presidente uruguaio Luis Alberto Lacalle adotou uma postura semelhante a de Bolsonaro no enfrentamento à doença, com poucas medidas de impacto social que garantam o isolamento social, que tem levado muitas pessoas de volta às ruas para trabalhar.

“Por não declaram quarentena geral, alguns comércios estão voltando enquanto outras pessoas protestam nas portas para que fechem. Ao se recusar a bancar financeiramente a situação, o governo está colocando o povo contra o povo”, lamenta Ligiane. A imigrante brasileira ainda denuncia que as autoridades de saúde locais estão minimizando o avanço da covid-19 no Uruguai para tentar não alarmar a população. “Eles falam que não é para nos preocuparmos, pois, segundo eles, aumentaram apenas quatro casos de um dia para outro”. 

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