Crônica dos Campos Gerais: Alvaiade e sibipiruna | aRede
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Crônica dos Campos Gerais: Alvaiade e sibipiruna

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada
Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada -

Da Redação

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Após alguns dias de chuva intensa na cidade e, contrariando as previsões de repetição do evento, surpreendo-me com um lindo domingo de sol e de calor já anunciando a primavera. Uma manhã de céu azul convida a um passeio a pé pelas ruas de nossa Princesa dos Campos, que em poucos dias completará 200 anos.

Memórias de um passado distante se tornam quase reais, quando passo diante do rosado Colégio Júlio Teodorico, onde iniciei e concluí as primeiras séries do curso primário como era denominado à época. A árvore de folhas verde-azuladas que enfeitava o jardim com suas flores amarelas e miúdas, de textura aveludada e delicada, ainda está lá, testemunhando a história. Provavelmente é uma sibipiruna, espécie brasileira da Mata Atlântica, segundo o escritor Mário Francisco Oberst Pavelec em conversa recente que tivemos sobre o tema.

Nesta mesma época do ano, de desfiles cívico-militares e pelo aniversário da cidade em 15 de setembro, os professores preparavam tudo para o desfile. Algumas semanas antes da data, saíam com os alunos pelas ruas próximas para ensaio da marcha. Era comum ver pelotões de alunos, ao som de instrumentos de percussão, treinando seus passos para fazer bonito na avenida. As meninas que possuíam vestido branco, geralmente os da primeira comunhão, iam à frente, portando cestas de vime brancas com arranjos das flores amarelas daquela árvore, retiradas pouco antes da saída. Os mais velhos usavam o tradicional uniforme composto por um guarda-pó de algodão branco com mangas longas e tênis brancos. O ponto crucial do desfile era defronte ao Edifício Marieta, onde o vento fazia estragos nos cabelos, levantava as saias, e segurar um banner era tarefa árdua.

Os meus tênis eram de lona que encardia rapidamente devido ao trajeto que fazia a pé de casa até o colégio pelas ruas empoeiradas. No entanto, almejando brancura para o desfile, minha mãe comprava “alvaiade”, um pigmento em pó (carbonato básico de chumbo) que, adicionado a uma base solvente e aquosa, formava uma pasta meio líquida que era passada nos tênis. O resultado era uma alvura absurda e pareciam engomados. Não à toa era usado para pintar cascos e pisos de navios da Marinha Britânica, tornando-os impermeáveis. Ao longo do tempo teve seu uso proibido pela alta toxicidade e seus malefícios para o organismo humano. Desconhecendo o perigo, somente os tênis resultaram envenenados pelo metal tóxico, pois Deus protege os incautos com boa intenção.

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).

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