‘Adão Negro’ é um filme de super-heróis descomplicado
Dwayne Johnson realiza um filme-de-produtor à moda antiga, para si mesmo, com foco nas lutas e sem a preocupação de ligar vários outros filmes de um universo conectado
Publicado: 20/10/2022, 18:56
Dwayne Johnson passou anos tentando tirar um filme de Adão Negro do papel, e nesse período o Universo DC do cinema viu despontar e depois ruir todo o projeto de interligar suas histórias a partir da mitologia criada por Zack Snyder para a Liga da Justiça. ‘Adão Negro’ estreia em 2022 com a incumbência de reanimar a base de fãs desse projeto, o que tende a gerar uma expectativa desproporcional para o que o filme tem a oferecer.
Porque afinal o longa dirigido por Jaume Collet-Serra não deixa de ser um típico veículo de The Rock, como as aventuras na selva em que o ator repete a camisa bege e só troca a ameaça e o seu elenco coadjuvante. Poucos atores hoje em Hollywood conseguem essa façanha de criar subgêneros autossuficientes em torno de si, modelados para evocar de imediato no espectador uma noção de conforto e familiaridade. Ao se colocar em ambientes de fórmulas narrativas onde tudo é derivativo, é como se The Rock dissesse e provasse que a única coisa particular nesses filmes é a própria figura imutável do ator.
DWAYNE JOHNSON
E isso tende a gerar um atrito aqui, uma vez que o próprio gênero dos filmes de super-herói é entendido hoje como um fim em si mesmo, com suas cenas pós-créditos que levam à promessa circular de histórias maiores e melhores, de mitologias cada vez mais intrincadas. A vocação de The Rock para filmes-de-atrações enxutos, descontextualizados e atemporais - vocação essa que ele põe em prática sistematicamente na posição de produtor dos seus próprios longas -funciona perfeitamente em ‘Adão Negro’.
Dwayne Johnson realiza um filme-de-produtor à moda antiga, para si mesmo, executado por um diretor de aluguel dos mais competentes. E é e justamente por isso Adão Negro talvez tenha chegado como um refresco para os sentidos