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Pompa de Baz Lhurman acha em Elvis seu melhor Ícaro

Cinebiografia do rei do rock n'roll entrega o máximo de Elvis e todas suas questões e demônios

A obra com direção de Baz Lhurmann, estreou no dia 14 de julho e está em cartaz nos cinemas de Ponta Grossa.
A obra com direção de Baz Lhurmann, estreou no dia 14 de julho e está em cartaz nos cinemas de Ponta Grossa. -

Da Redação

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Cinebiografia do rei do rock n'roll entrega o máximo de Elvis e todas suas questões e demônios

O cinema do australiano Baz Lhurmann sempre foi aficionado pelo mito de Ícaro. Seja em um romance de época como Moulin Rouge (2005) ou nos épicos sobre a iconografia estadunidense em O Grande Gatsby (2013) e a série Get Down (2016-2017), sua decupagem cheia de som, fúria e glitter sempre se delicia em estórias sobre a natureza trágica do espetáculo. Elemento indissociável da história cultural dos EUA.

Em Elvis (2022), o diretor acha o herói perfeito para encapsular sua relação agridoce com as armadilhas escondidas pelo glamour do show business. No longa, a vida de Elvis Presley (Austin Butler) é definida pela relação abusiva durante duas décadas com aquele que criou e destruiu seu mito de rei do rock: O empresário Coronel Tom Parker (Tom Hanks).

Interpretado em um tour de force pelo até então desconhecido Austin Butler, o maior ícone de rebeldia dos baby boomers não poderia pedir por um intérprete melhor. Mesmo sem semelhança estreita com Presley, Butler domina com maestria os trejeitos, posturas e principalmente o timbre de voz de Elvis para compor um personagem que é tanto inspirador na rebeldia e talento quanto trágico na relação de amor e gastura com a fama. Mas nunca menos que icônico, como a câmera de Lhurmann ressalta sempre que pode com planos de silhueta e slow-motion.

O vilão se beneficia de seu intérprete, pois no papel, Parker é uma espécie de Mefisto caricato nos modos e falas. Mesmo que a maquiagem pesada chame a atenção, a interpretação de Hanks faz de um sangue suga implacável um grande azarado que teve a grande oportunidade de deslanchar muito tarde e receia qualquer chance de regredir ao anonimato de outrora. Alguém que claramente não se vê como vilão, apenas um sobrevivente que luta com as armas que a vida lhe deu.

Em uma decisão criativa, o roteiro subordina a perspectiva do público à visão torpe de Parker. Isso clarifica as motivações do sujeito enquanto alimenta uma antecipação ansiosa constante em relação ao caminho em que o homem conduz a carreira de Elvis. Escrito à oito mãos- inclusive pelo próprio Lhurmann- o texto brilha nos momentos em que elenca momentos chaves da vida do cantor ao som de suas composições marcantes. Dentro de pequenas sequencias que unem tragédia e espetáculo, a direção montagem primam por nunca deixarem de fazer essas sequencias surtirem o devido efeito.

O excesso de Lhurmann que antes tanto lhe dividiu dentro da imprensa especializada, aqui atua a favor da narrativa. Seu uso anacrônico de canções relaciona num piscar de olhos a relação entre passado e presente da música pop. Através de uma edição bombástica no uso de recursos como janelas divididas, raccords e distorções temporais dos planos; o diretor cria um ritmo intoxicante para ilustrar o poder etílico e fustigante da fama e do prestigio sob seu protagonista. Um poderio audiovisual que nem o diálogo mais arteiro poderia reproduzir e que Lhurman emprega da melhor forma que sua criatividade é capaz de conceber.

Ainda que alguns segmentos e personagens secundários soem subdesenvolvidos em seu vai e vem dentro da trama, e que a escolha de Olivia de Jonge seja ambivalente para o papel de Priscilla Presley, a obra nunca deixa de entregar o que promete. Mostrar que o esplendor das luzes do hotel Continental de Las Vegas esconde a trágica estória do menino do Alabama que voou perto demais do sol e descobriu às duras penas que, como dizia George Bernard Shaw, existem duas tragédias na vida: Uma é não conseguir o que se quer, a outra é conseguir.

Crítica por Yuri A. F. Marcinik

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