Selic alta é novo balde de água fria para o produtor rural
Manutenção dos juros em 15% encarece crédito e agrava dívida no campo
Publicado: 06/11/2025, 16:29

O Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (5) e pela terceira vez consecutiva, manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. Assim, o Brasil segue no seleto grupo dos quatro países que praticam as maiores taxas do mundo.
Segundo o comunicado, a decisão leva em conta a “inércia inflacionária” e o cenário externo incerto, além dos riscos fiscais que permanecem elevados.
Para o setor agropecuário, que depende fortemente de crédito, seja para custeio, investimento ou comercialização, a manutenção da Selic em patamar elevado é mais um balde de água fria na cabeça do produtor, especialmente do pequeno e médio.
Por enquanto, nada de refresco: custo elevado nos financiamentos e produtores que já enfrentavam prorrogações de dívidas ou rolagens agora têm na manutenção de juros elevados a permanência de barreiras para acordos ou novas operações.
Com isso, a liquidez desaparece. A conta não fecha: crédito mais caro e menor acesso ao financiamento, queda em investimentos em tecnologia, expansões e novas contratações ficam em compasso de espera e adaptação às mudanças climáticas emperram.
Sem contar a maior vulnerabilidade em momentos de pressão de custo ou safra minguada: como fertilizantes, defensivos, energia e transporte costumam ficar mais caros, o custo fixo sobe e manter a renda com juros altos exige margens maiores ou volume de produção maior, o que é inviável no momento.
Com a palavra, o economista
“Do ponto de vista macroeconômico, uma Selic nesse patamar de 15% representa um ambiente de negócios bastante restritivo aos setores produtivos. Quando a gente olha para o setor do agronegócio, que depende de capital de giro e de financiamento de médio e longo prazos, o impacto é ainda mais severo”, avalia Anderson Sartorelli, técnico do departamento técnico e econômico do Sistema Faep, em entrevista ao Agro Estadão.
“Fica mais caro para o produtor acessar esse recurso. Há ainda dificuldade de renegociação, já que, ao buscar uma nova operação a juros de mercado com a Selic alta, o produtor acaba pagando muito mais”, aponta.
Embora a taxa alta empurre custos para o produtor, alguns analistas veem aspectos positivos ou, pelo menos, mitigadores.
A manutenção da Selic, por exemplo, sinaliza ao mercado que o Banco Central está comprometido com o controle da inflação, o que ajuda a controlar a desvalorização do real frente ao dólar, ajudando o agro que importa insumos cotados em dólar.
Não à toa, depois do comunicado do Copom, a bolsa brasileira (B3) renovou seu recorde, ultrapassando os 153 mil pontos no índice Ibovespa.
O que os produtores devem observar
Produtores devem buscar usar esse momento para renegociar dívidas e contratos com bancos, buscar taxas menores ou prazos mais longos.
Com juros nas alturas, qualquer variação negativa na safra ou nos custos pode virar um grande abacaxi, portanto, gestão de risco (seguro agrícola, hedge de preços) é ainda mais importante.
Antes de expandir ou investir em nova tecnologia ou maquinário, é prudente considerar se o retorno justifica o custo elevado de capital; talvez adiar parte de investimentos ou buscar estrutura híbrida seja o melhor caminho (parte própria somada a financiamento).
O governo ou bancos podem disponibilizar linhas com taxas melhores para o agro. Ficar de olho nessas oportunidades é sempre estratégico e pode render ótimos negócios em tempos de crédito caro.
Com informações: AgroFy News.





















