Oposição pede impeachment de Milei por divulgar criptomoedas
Grupo defende que o presidente deve ser cassado por gerar incertezas e investimentos arriscados a centenas de argentinos
Publicado: 18/02/2025, 16:10

O governo do próprio presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou ontem que o investigará por estimular investimentos em criptomoedas, criando um ambiente de incertezas e propício a golpes. É um revés no período de alta que ele estava. A "investigação urgente" será conduzida pelo Escritório Anticorrupção, vinculado à Casa Rosada. Com a repercussão negativa, o argentino retirou uma publicação oficial sobre o tema. Mas para a oposição, a iniciativa é motivo suficiente para um pedido de impeachment, que deve ser apresentado hoje na Câmara dos Deputados.
Sob comando do Escritório Anticorrupção foi criada a "Unidade de Força-Tarefa de Investigação". O presidente argentino tentou justificar sua atitude. "Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois que tomei conhecimento, decidi não continuar difundindo-o", afirmou.
Ontem Milei se transformou em foco do escândalo que estampa as capas dos principais jornais da Argentina, como La Nación, Clarín e Página 12, além do norte-americano The New York Times — que publicou uma dura reportagem sobre o argentino que, com sua publicação, incentivou pessoas a "investimentos arriscados". Os jornais ressaltam que ele publicou no X mensagem, fixada em seu perfil por mais de cinco horas, com um link para o projeto chamado "Viva La Libertad Project".
"O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA", dizia sua postagem com o nome do token, uma unidade de valor digital baseada na tecnologia blockchain sem valor em moeda real. De acordo com o post, a criptomoeda era "um projeto privado" dedicado a "incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos". Pouco depois, ele passou a ser criticado por suspeita de esquemas de fraudes, como Ponzi e pirâmide.
Oposição - O senador da UCR (centro) Martín Lousteau, um dos principais nomes da oposição na Argentina, alertou que foi a "segunda vez que, como funcionário, (Milei) anuncia ativos do mundo das criptomoedas que acabam sendo uma fraude". O bloco União pela Pátria, liderado por peronistas na Câmara dos Deputados do Congresso Nacional, anunciou "um pedido de Impeachment contra o presidente da nação".
Em 2021, Milei, ainda como parlamentar, promoveu a plataforma CoinX, que oferecia lucros de 8% ao mês em dólares e agora também está sendo investigada por suposta fraude. Para o deputado da Coalizão Cívica Maximiliano Ferraro, o caso é gravíssimo. "Foi uma manobra especulativa que poderia ser alavancada no poder político do presidente e no uso de informações privilegiadas", ressaltou.
A ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner disse que "milhares de pessoas confiaram em Milei e perderam milhões de dólares no total, enquanto muitos fizeram fortunas graças a informações privilegiadas".
Ao jornal Página 12, um grupo de representantes da sociedade civil fala em "megagolpe" por parte de Milei. A denúncia foi feita pelo ex-deputado Claudio Lozano; o advogado do Observatório do Direito à Cidade, Jonatan Baldiviezo; o advogado Marcos Zelaya; e María Eva Koutsovites, engenheira e fundadora do Movimento Somos os Que Habitam a Cidade.
Especulação - Analistas argentinos temem queda nos títulos e ações e que o dólar tenha uma alta, além da própria credibilidade de Milei, arranhada. Trread Guy, um influenciador digital, disse ter perdido US$ 250 mil depois de ter seguido as instruções do presidente argentino.
De acordo com especialistas em finanças digitais, como a revista de mercados de capitais The Kobeissi Letter, cerca de 80% do ativo $LIBRA estava nas mãos de poucos antes do apoio de Milei. Depois da publicação do presidente, seu valor cresceu exponencialmente, de décimos a um pico de US$ 4.978 (R$ 28.512 na cotação atual); os detentores originais começaram a vender com lucro de milhões, mas o valor do ativo despencou em seguida.
A manobra é conhecida no trading digital como uma "puxada de tapete", segundo Javier Smaldone, especialista em informática e influenciador digital conhecido por denunciar esquemas de pirâmide. "Uma criptomoeda é criada, o que também pode ser feito com ações, recebe uma liquidez inicial para que o que foi criado valha alguma coisa e, em seguida, uma campanha publicitária de algum tipo é iniciada, atraindo pessoas", afirmou o especialista sobre os impactos das publicações e incentivos nos investidores após a ação de Milei.
Com informações de: Correio Braziliense.