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Coluna MSN: A morte dos escritores

“Pertencemos à idade das pessoas a que nos ligamos”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Quando me perguntam a que geração pertenço, fico sem saber. É que minha biografia literária e minha biografia existencial não coincidem. Desde muito cedo, talvez por ser órfão de pai e não fazer parte de um grupo letrado, fui me aproximando de intelectuais mais velhos, que se fizeram companheiros de viagem. Há, portanto, uma contemporaneidade geracional que ultrapassa em muito o meu tempo de vida. De repente, a idade de amigos, a maioria morta, me assusta. Helena Kolody fez 111 anos no último fevereiro. E compartilhamos duas décadas, quando ela me mandava suas coletâneas com dedicatórias amorosas. Então, por afeto, pertenço à geração pós-simbolista de onde ela veio. Mas também tenho um pé na Geração de 45, quando Dalton Trevisan despontou, já em briga com seus contemporâneos, ele que está com a impressionante idade de 98 anos. Pago tributo ainda aos anos 60, por minhas ligações com Luiz Vilela, que completou 81 anos e mora na sua Ituiutaba natal, no Triângulo Mineiro.

Ao longo de uma vida, venho me dedicando amorosamente a alguns escritores e a algumas escritoras. Nunca perdi um único livro de Rubem Fonseca ou de Adélia Prado, por exemplo.

Assim aconteceu com Alberto da Costa e Silva, que morreu no passado domingo, aos 92 anos. Foi Fábio Campana quem me apresentou o poeta, depois de ter convivido com o diplomata em Assunção. Li os livros de Alberto em pequenas tiragens, depois fiz a orelha de sua primeira reunião de poemas, em 2000. E nos tornamos amigos, em encontros no Rio de Janeiro, principalmente quando ocupou a Presidência da ABL. Ele me convidou para escrever sobre Vinicius de Morais em “O Itamaraty na Cultura Brasileira”. E esperei sempre seus novos trabalhos, o último tendo sido “A África e os Africanos na História e nos Mitos”, de 2021. Desgraçadamente, este não li.

A morte de um escritor que admiramos produz uma solidão bibliográfica. Nunca mais teremos textos novos dele. Sorte é que sempre sobra um ou outro que ainda não lemos, e que promoverá um reencontro com o amigo morto.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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