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Coluna MSN: O percurso da humanidade

“Escritora constrói narrativa a partir da morte do pai”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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O novo romance de Natália Timerman (“As pequenas chances”, Todavia, 2023) pode ser lido a partir da pauta feminista, que vem acrescentando muitos títulos importantes sobre o olhar da mulher para a história coletiva e pessoal. O que o diferencia é uma estrutura sofisticada, em que os relatos autobiográficos se conjugam com experimentos ficcionais.

O livro tem como centro a morte do pai da autora, uma morte lenta, que reúne a família ao seu redor, seja no hospital, seja em casa, criando outra dinâmica, que vamos ver depois ter algo de religioso, em uma geração de judeus já assimilados. O patriarca que morrerá no aconchego dos seus, depois da chegada de uma das filhas que trabalhava no exterior, será enterrado segundo os rituais judaicos e criará uma unidade transgeracional. O momento da morte é comparado ao do início da vida: “esperávamos ansiosas do lado de fora como se por alguém que fosse nascer, mas ao contrário” (p.118). Esta longa espera da recuperação que não veio e depois da morte inevitável é narrada por Natália como se fosse uma gestação.

Em todo o livro, a presença da família que a narradora herdou e da família que ela construiu será axial. Médica igual ao pai, Natália se acercará dele com muita identificação, em busca de uma convivência mais profunda.

Esta proximidade criará nela o interesse de conhecer melhor os seus antepassados, vindos do Leste Europeu, ainda na época do domínio soviético. A terceira parte do livro é o momento em que ela inverte a experiência fúnebre das duas primeiras partes, fazendo os mortos nascerem para ela por meio de um interesse pelas próprias origens. Engenhosamente escrito por uma alteridade explicada apenas no final, esta seção mostra a narradora com os filhos e o companheiro a percorrer terras ancestrais, que ressurgem como uma força materna. O romance termina com a lembrança do parto natural e doloroso de seu terceiro filho, em que ela convoca todas as mulheres da família que tiveram o sobrenome apagado depois do casamento, tal como ela constata na pesquisa de sua árvore genealógica.

Romance atual e poderoso, “As pequenas chances” nasce de vidas e nomes que ficaram esquecidos, mas que continuam atuando no interior de cada ser humano, em uma transmissão secreta de identidades.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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