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Coluna MSN: Um livro polêmico

“Ensaio defende a liberdade de identidades múltiplas”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Talvez um dos livros mais polêmicos da atualidade; talvez, por isso mesmo, um dos livros mais importantes para o debate hoje. O autor de “Mestiçagem, identidade e liberdade” (Topbooks, 2023), o baiano Antonio Risério, já foi cancelado nas redes sociais por suas leituras irreverentes das teses do identitarismo, que, na definição dele, é a substituição de uma visão eurocêntrica da civilização por várias grupocêntricas, em que só existe a identidade “verificada” do grupo minoritário ao qual se deve ideologicamente pertencer.

Hábil nos neologismos, vindo de uma tradição barroca de escrita, Risério escreve um longo ensaio circular, cheio de idas e voltas, que, a partir da constatação do apagamento da mestiçagem no Brasil, denuncia uma visão exótica de nossa formação. Sob a influência das universidades dos Estados Unidos, país marcado por uma fronteira racial muito rígida, passou-se a entender o Brasil como uma extensão da oposição entre brancos e negros. O autor atua contra o racismo, é um intelectual progressista (trabalhou nas campanhas dos presidentes Lula e Dilma), e chama a atenção para o fato de a questão racial no Brasil não ser binária, e sim complexa, com múltiplos vetores.

Ele localiza este apagamento da mestiçagem a partir de uma mudança de critérios de tipificação feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Sob a pressão da política universitária moldada pelas teorias norte-americanas, os “pardos” (que são a maioria) passaram a ser considerados “negros”: “forjando um imenso contingente negro da população no país, com o objetivo de garantir espaços de poder” (p.121), segundo o autor. Esta estratégia, legítima enquanto instrumento de luta, gera um falseamento de nossa identidade social. Para Risério, no Brasil, “quase tudo que tratamos como ‘criação africana’ ou ‘cultura negra’ é, na verdade, cultura mestiça” (p.155).

O autor recusa também a ideia igualmente falseadora de democracia racial, que dominou os estudos sociológicos na linha de Gilberto Freyre, mas lembra que não se pode simplificar o debate: “combater o racismo não é igual combater a mestiçagem” (p.177). Se exagera em análises bélicas, Risério recoloca a valiosa contribuição da cultura africana em nosso país na perspectiva dos múltiplos empréstimos culturais, sem visões monolíticas de identidades.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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