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Em frangalhos, economia vai decidir a eleição na Argentina

Quem vencer o pleito vai ter de encarar uma inflação de 180% em 2023, juros de 133% e uma taxa de pobreza que alcança 40% dos argentinos

Os argentinos vão às urnas neste domingo (22) para eleger o próximo presidente do país
Os argentinos vão às urnas neste domingo (22) para eleger o próximo presidente do país -

Da Redação

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Os argentinos vão às urnas neste domingo (22) para eleger o próximo presidente do país. Seja quem for o vencedor, já há uma certeza. O escolhido enfrentará uma encrenca descomunal. A economia argentina está em frangalhos e esse fato terá peso decisivo no pleito. “Não resta dúvida que as pessoas vão votar por uma mudança econômica”, diz Paulo Gala, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP). “Essa é a discussão central da eleição.”

E por que é assim? Um breve raio X da situação do país oferece uma resposta nítida – e ao mesmo tempo espantosa – a essa pergunta. Na Argentina, a taxa de inflação chegou a 138% em setembro, o maior nível em três décadas. Espera-se que ultrapasse 180% até o fim deste ano. Os juros básicos estão em 133% – e subindo. A título de comparação, no Brasil, a taxa já é considerada sufocante por inúmeros setores empresariais e está em 12,75% – e descendo.

Consequência direta da disparada dos preços, a pobreza alcançou 40,1% da população no primeiro semestre de 2023 e jogou outros 9,3% numa situação de indigência. Tais números eram de 36,5% de pobres, além de 8,8% de indigentes, no mesmo período de 2022.

Esses são os atuais sintomas, mas nem de longe os únicos. “O que vemos na Argentina é um ciclo de deterioração, com algumas idas e vindas, mas que nunca termina de fato”, diz o economista Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e sócio da consultoria BRCG. “O pior é que não há perspectiva de solução para o problema no curto prazo.”

Recorde de recessões

Uma demonstração clara de como os perrengues econômicos resistem por longos períodos na Argentina foi oferecida por um estudo do Banco Mundial, de 2018. Ele mostrou que o país ficou em recessão cerca de um terço do tempo entre 1950 e 2016. Esse foi o período mais longo registrado entre os países do mundo, à exceção da República Democrática do Congo.

Agora, o Produto Interno Bruto (PIB) está à beira de mais uma contração, a sexta em uma década. Daí, observa Ribeiro, a relação explosiva entre o quadro econômico e as urnas. Diz ele: “No cenário imediato pré-eleitoral, o que temos é uma imensa queda de confiança na economia, que está levando a patamares inéditos as cotações do câmbio, dos juros e consolidando a inflação nas alturas.”

Milei e Massa

As últimas pesquisas de opinião mostram que a corrida presidencial se concentra em dois nomes, com um terceiro eventual azarão. Hoje, o favorito é o ultraliberal Javier Milei, que pode levar o pleito no primeiro turno. Ele é seguido pelo candidato do governo, o atual ministro da Economia, o peronista Sergio Massa. Por fora – e bem por fora –, corre a liberal Patricia Bullrich, aliada do ex-presidente Mauricio Macri, de quem foi ministra da Segurança.

Enfim, como diz o economista, a caixa de ferramentas populista foi amplamente aberta e utilizada na gestão de Massa. “Ocorre que a situação é mais grave porque a Argentina faz isso a cada três anos”, afirma. “Não há como ficar acima da marca d’água desse jeito.”

Voto de protesto

Ribeiro destaca ainda que o país se encontra numa situação parecida com a do Brasil, em 2018. “Entre os argentinos, há um profundo cansaço com as opções políticas históricas, seja com o peronismo e o kirchnerismo (do casal Néstor e Cristina Kirchner, a ala mais à esquerda do peronismo) ou com o macrismo (associado a Mauricio Macri)”, afirma. “Isso cria uma demanda por um voto de protesto e ele vai para Javier Milei, assim como foi para Jair Bolsonaro, no Brasil.”

Para o pesquisador do FGV Ibre, o único debate efetivo em curso na Argentina é o “desejo extremo de ruptura”, em que tudo seria jogado para o alto, versus um medo igualmente extremo do que essa mesma ruptura pode causar. “Todo o resto está em segundo plano”, diz. “O detalhe é que, mesmo entre as pessoas que votam em Milei, existe o reconhecimento de que há uma chance estúpida de dar tudo muito errado.”

Dolarização

Milei, que se define como “ex-keynesiano” (um ex-defensor de certo nível de interferência do Estado na economia) transmutado em “anarcocapitalista” (o que pode haver de mais radical em termos de liberalismo), quer resolver a encrenca argentina com a dolarização da economia e o fechamento do banco central.

De acordo com Ribeiro, porém, hoje, além dos Estados Unidos, apenas oito nações têm a economia dolarizada no mundo. E todas são pequenas, se comparadas à Argentina. “Se isso fosse uma panaceia, países muito ligados ao ciclo econômico americano, como o México e o Canadá, seriam dolarizados”, diz o economista.

Com informações do Metrópoles

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