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Quem é Daniel Noboa, magnata que será presidente do Equador

Empresário vence advogada Luisa González, aliada do ex-presidente Rafael Correa, que reconheceu a derrota na noite de domingo. Campanha foi marcada por violência

Daniel Noboa, de 35 anos, que venceu a eleição com 52,3% dos votos, ao lado da esposa, Lavinia Valbonesi
Daniel Noboa, de 35 anos, que venceu a eleição com 52,3% dos votos, ao lado da esposa, Lavinia Valbonesi -

Da Redação

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O empresário de centro-direita Daniel Noboa, 35 anos, venceu neste domingo (15) as eleições no Equador e será o presidente mais jovem da história do país após uma campanha marcada pela violência, em que um de seus oponentes foi assassinado dias antes do primeiro turno, em agosto.

Com mais de 90% dos boletins de urnas válidas examinados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, Noboa, da coalizão Ação Democrática Nacional, venceu a disputa do segundo turno com 52,3% dos votos, à frente dos 47,7% da advogada Luisa González, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa. González, do Revolução Cidadã, concedeu a derrota quando a tendência de vitória do empresário já era irreversível.

Daniel Noboa Azín, de uma família dona de um império empresarial que inclui a exportadora de banana Bonita, uma das principais do país, assumirá um mandato atípico, que terá início em dezembro, em uma data ainda a confirmar, e durará apenas até maio de 2025.

É que Noboa vai completar o mandato do presidente Guillermo Lasso, que dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições antecipadas em meio a um processo de impeachment sob acusação de corrupção.

A seguir, a trajetória empresarial e política de Noboa e suas principais propostas.

Império familiar

Daniel Noboa, casado com a modelo e influencer de 25 anos Lavinia Valbonesi, pai de seu segundo filho, pertence à terceira geração de uma família de empresários multimilionários de Guayaquil.

Seu avô, Luis Noboa Naranjo (1916-1994), fundou a Exportadora Bananera Noboa e chegou a ser considerado o homem mais rico do Equador.

O pai de Daniel, Álvaro Noboa Pontón (Guayaquil, 1950), expandiu o negócio da família para além das bananas, passando a controlar uma rede multinacional de empresas sob a bandeira do Grupo Noboa.

O sucesso econômico do clã foi várias vezes afetado por alegações de evasão fiscal e exploração laboral.

A BBC Mundo contatou representantes da família para fazer comentários, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Álvaro Noboa foi o primeiro a dar um salto para a política, algo comum entre as famílias com poder econômico no Equador e especialmente em Guayaquil, a capital comercial do país.

A aspiração de Álvaro chegar à presidência foi, no entanto, em vão. O pai do futuro presidente é o candidato que mais vezes tentou, cinco no total, e sem sucesso, chegar ao cargo máximo no país. Nas eleições de 2006, esteve perto: perdeu no segundo turno para Rafael Correa, que liderou o país até 2017.

"Álvaro Noboa gerou rejeição porque era uma clara representação da plutocracia e da burocracia mais excludente", disse à BBC Mundo o jornalista equatoriano Diego Cazar Baquero, diretor da revista independente La Barra Espaciadora.

Daniel Noboa estudou em universidades de prestígio nos Estados Unidos. Ele se formou em administração de empresas na Universidade de Nova York, administração pública na Harvard Kennedy School, além de ter feito um mestrado em Governança e Comunicação Política na Universidade George Washington.

Mas Noboa, que aos 18 anos tinha fundado uma empresa de organização de eventos chamada DNA Entertainment Group, só recentemente começou na política: estreou como deputado em 2021 e se tornou presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico do Parlamento.

Após a dissolução do Parlamento, com a ativação da chamada morte cruzada (dissolução da Assembleia e convocação de novas eleições) pelo presidente Lasso, em maio, Noboa se apresentou como pré-candidato com um perfil diferente do de seu pai.

"Daniel marca uma certa distância de Álvaro no plano simbólico, no plano discursivo e no plano prático", explica Cazar Baquero.

Por exemplo, enquanto seu pai foi classificado na direita política, Daniel afirma ser de centro-esquerda, com ideias sociais progressistas, como o apoio à comunidade LGBTQia+ e uma forte ênfase na educação.

Para o cientista político Roberto Calderón, isso foi uma "estratégia de marketing político" que se revelou bem sucedida.

"Ele se descreve como sendo de centro-esquerda devido à baixa popularidade do governo de Guillermo Lasso, pois sabe que o rótulo de direita poderia associá-lo à continuação desse executivo", diz.

Seus críticos afirmam que a vice-presidente eleita, Verónica Abad, tem uma orientação marcadamente de direita.

Outra diferença apontada pelos analistas é o fato de Daniel ter desenvolvido uma oratória superior à do seu pai e ter conseguido fazer chegar suas ideias ao eleitorado.

De fato, o salto mais importante em sua curta corrida à presidência foi no debate que antecedeu o primeiro turno.

Azarão

Poucos dias antes do primeiro turno, em 20 de agosto, ninguém acreditava que Noboa tinha chances reais de passar para a disputa final.

Até que chegou o debate decisivo, onde ele confrontou ideias com Luisa González e outros candidatos que eram considerados favoritos.

"Ele teve a oportunidade, em poucos minutos, de mostrar seu conhecimento sobre certos dados cruciais sobre a situação atual do país, e isso o fez parecer muito bem informado e preparado para assumir a presidência", diz o jornalista Cazar Baquero.

Já o cientista político Roberto Calderón indica que sua participação no debate foi crucial para ele se posicionar "como uma alternativa ao correísmo", representado por González, a quem derrotou no último domingo.

No entanto, ambos os analistas destacam que não seria correto rotular Noboa como um antícorreísta, mas sim como um político habilidoso que demonstrou posições moderadas e pragmáticas, evitando ataques diretos a seus rivais em debates e discursos.

"A praticidade de seu discurso e sua decisão de se afastar da polarização entre correísmo e antícorreísmo funcionaram muito bem para ele. Isso revela que o eleitorado quer escapar da polarização, da insegurança, da violência cotidiana e buscar soluções extremamente práticas e imediatas", afirma Cazar Baquero.

No segundo turno, Noboa se posicionou como favorito em todas as pesquisas.

Isso também é atribuído em grande parte às limitações próprias do Revolução Cidadã, cujos líderes jamais recuperaram a popularidade dos tempos da presidência de Rafael Correa, um dos símbolos dos governos de esquerda da região nos anos 2000.

Propostas

Quanto às propostas, Noboa parece ter conseguido se conectar com o eleitorado jovem, que vê com bons olhos uma alternativa política nova com propostas originais para resolver os inúmeros problemas do Equador.

"Ele mirou um eleitorado muito jovem que precisa de emprego; propôs que o setor privado é quem gera empregos e que é necessário fortalecê-lo por meio de isenções fiscais; e adaptou essa proposta à sua posição de centro-esquerda, afirmando que as empresas com responsabilidade social se beneficiarão", explica Cazar Baquero.

"Temos um plano ambicioso para reduzir o desemprego juvenil e promover a criação de empregos. Por exemplo, o IVA diferenciado para materiais de construção, o estímulo ao investimento em construção e a retomada de obras públicas abandonadas no país nos últimos dois anos. Tudo isso, em conjunto, pode gerar empregos de maneira muito rápida", disse Noboa em uma recente entrevista ao meio de comunicação equatoriano Primicias.

A criação de empregos é um dos dois pilares principais do programa de Noboa. O outro é a luta contra o crime, tema no qual promete "mão firme" e "restaurar a paz nas famílias".

O Equador está passando por uma das maiores crises de segurança de sua história e se tornou um dos países mais violentos da América Latina, com 3.500 homicídios registrados apenas nos primeiros sete meses deste ano, de acordo com dados da polícia.

Gangues criminosas como Los Choneros, Los Lobos, Los Tiguerones ou a máfia balcânica controlam bairros inteiros e prisões, de onde conduzem suas atividades ilícitas diante da impotência, e muitas vezes com a cumplicidade, das autoridades.

"Devemos promover reformas profundas no sistema carcerário e ter um programa de segregação apropriado, no qual os 17%, que são os mais violentos, sejam completamente isolados", declarou Noboa em sua entrevista a Primicias.

O jovem político, que usou colete à prova de balas durante a campanha após o assassinato do candidato Fernando Villavicencio em 9 de agosto, propôs como sua ideia mais inovadora a instalação de prisões flutuantes em barcaças para confinar criminosos perigosos longe da costa e impedir que continuem operando a partir da prisão, como acontece atualmente.

"As prisões em barcaças seriam uma medida transitória para alocar os criminosos mais perigosos, enquanto reestruturamos todo o sistema penitenciário, mas não podemos tratá-los como em um hotel cinco estrelas. Eles têm tomadas, ar-condicionado, telas, há suítes nas prisões", afirmou.

No entanto, essa iniciativa gerou dúvidas. "É muito difícil de ser implementada, porque a fabricação das barcaças levaria mais de um ano e meio de seu mandato, a logística é complicada e o sistema jurídico equatoriano não prevê o isolamento como pena para os detentos", disse o analista Calderón.

Outras propostas de Noboa para combater o crime incluem penalizar o consumo de drogas em pequena escala, criar um sistema de júri para crimes graves e investir em avanços tecnológicos, como drones e radares, para neutralizar o crime organizado nas estradas e fronteiras.

No quesito segurança, a campanha termina também com uma sombra. O assassinato do candidato que se apresentava como anticorrupção, Fernando Villavicenio, segue sem desfecho. Seis suspeitos, todos colombianos, foram presos acusados de ligação com o crime, mas acabaram eles mesmos assassinados na prisão no começo do mês.

No aspecto econômico, ele se posicionou a favor de manter a dolarização e prometeu atrair empresas americanas para o país.

Uma das propostas mais controversas de Daniel Noboa é a eliminação do imposto sobre a saída de capitais, algo que seus críticos questionam, considerando que beneficiaria apenas grandes corporações, em particular, o conglomerado empresarial de sua família.

Em sua campanha, Daniel Noboa também enfatizou a ideia de fortalecer a educação, aumentando os investimentos no setor educacional, implementando políticas de incentivo para escolas e universidades, e programas que buscam ligar a esfera educacional à produtiva.

Relação com a Assembleia

Se há algo que todos os analistas concordam é que Daniel Noboa não terá vida fácil para avançar com suas propostas.

Para alcançar seus objetivos, ele precisará de apoio que lhe permita obter maiorias pontuais na Assembleia Nacional, um órgão composto por 137 membros altamente fragmentado, onde seus rivais da Revolução Cidadã detêm o maior número de assentos, embora estejam longe da maioria necessária para vetar iniciativas.

"Ele terá que buscar alianças, e aí entra em cena a distribuição de ministérios ou instituições públicas para aliados políticos, a fim de garantir votos na Assembleia. Haverá aqueles que receberão algum tipo de benefício, que se unirão aos aliados naturais do presidente devido à afinidade política", opina o cientista político Calderón.

Por outro lado, Cazar Baquero acredita que "é interessante observar como Noboa planeja a relação que terá com uma Assembleia que vem de uma grande desaprovação, que se caracterizou por obstruir o trabalho do governo, e da qual ele próprio fez parte."

O prognóstico do jornalista é que Noboa "legislará negociando apenas os aspectos essenciais da lei e apresentará projetos de lei de urgência todo mês para pressionar a Assembleia."

Isso confirmaria, segundo ele, que o novo presidente está plenamente consciente de que tem apenas um ano e meio para enfrentar o desafiador objetivo de resolver os numerosos e cada vez mais graves problemas políticos, econômicos e, acima de tudo, de segurança que o Equador enfrenta.

De qualquer forma, ele espera estender seu mandato. "Se vencermos, buscarei a reeleição em 2025", confirmou alguns dias antes das eleições.

Informações: g1

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