Estudante acusado de apologia ao nazismo é expulso pela UFPR
'A gente é branco, branco verdadeiro, gene alemão', diz trecho de áudio atribuído ao então estudante; universidade afirma que conduta é 'incompatível com a moralidade'
Publicado: 30/09/2023, 11:42
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) decidiu nesta sexta-feira (29) expulsar o estudante José Almir da Luz Júnior do curso de Direito. Ele chegou a ser afastado da instituição em março, após acusações de apologia ao nazismo e homofobia, como mostrou a Banda B à época. O caso era investigado desde então.
Em portaria publicada nesta sexta, a UFPR afirmou que o então estudante cometeu infrações incompatíveis com a moralidade. ” […] Descumprimento dos deveres de manter conduta compatível com a moralidade, de observar as normas legais e regulamentares e de tratar com civilidade as pessoas, bem como ter cometido as infrações de importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor; ofender a integridade física, moral ou a saúde de outrem”, diz trecho do documento obtido pela reportagem.
A universidade também citou a reincidência de José Almir “diante da penalidade suspensiva aplicada em 19 de maio de 2023”. Procurada pela Banda B para comentar a decisão, a superintendência de comunicação da UFPR informou que “o processo tramitou dentro das instâncias pertinentes e garantiu o amplo direito de defesa e contraditório”. A reportagem também tenta contato com José Almir.
As acusações
A denúncia dos crimes citados foi feita pela deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT) em uma rede social. Em seu perfil, ela expôs áudios atribuídos ao então estudante que estava no quinto ano do curso. O conteúdo teria sido enviado a um membro de um grupo de estudos da universidade.
“É uma ação reiterada. Ele já tem um histórico de outras ações como essa na universidade. É um absurdo o que aconteceu. A universidade tomou uma medida acertada ao afastá-lo enquanto apura a situação”, disse a deputada, que afirmou ter sido procurada por estudantes da instituição para denunciar o caso naquele mês.
“Boa noite. Eu gostaria de pedir um favor: já que vocês são monarquistas e de extrema-direita, parem de se comportar feito umas bichonas, tomadora de esperma, passivinha, chupadora de pint*, filha da put*… Porque está parecendo bichona do caralh* ficar indo em LinkedIn. E tudo gente velha que já se formou na universidade, múmia, né. […] Não quero saber de bichona nos meus perfis [sic]”, diz o áudio divulgado pela deputada.
Em seguida, após o receptor responder à mensagem afirmando que homofobia é crime, o jovem diz: “Homofobia é crime só se você for viado. Você é viadão? Se você não for viado, não é crime. Tá ligado? E depende muito de quem direcionou o xingamento. Cínico, lixoso. Eu tenho dó de vocês, sabia? […] Vocês ficam querendo bancar monarquista. Olhe na internet ‘família Beckhäuser no Brasil’. Tem lá a genealogia, o nome do meu pai e da minha mãe. A gente é branco. Branco verdadeiro. Gene alemão. Aí fico olhando vocês aí… Pardinho, misturadinho”.
Procurada pela Banda B à época para comentar o caso, a UFPR afirmou não tolerar “qualquer tipo de discriminação ou violência, seja física, verbal ou simbólica”.
A defesa
Em entrevista concedida à Banda B em março, o então estudante afirmou ser vítima de “preconceito” por ser homossexual e perseguição na universidade. De acordo com ele, que também diz ser objeto de uma “armação”, os áudios foram tirados de contexto. O jovem relatou que o caso teve início após ele divulgar em seu perfil no LinkedIn — plataforma focada em negócios e emprego — que havia sido aprovado em um concurso.
“Eu coloquei que havia passado em uma prova. O cara que nem me conhece foi na minha publicação e escreveu que eu não ia ter êxito profissional, ser promovido e outras babozeiras. Eu fiquei tão ofendido que fui no perfil do Instagram do GELD [Grupo de Estudos Liberalismo e Democracia] e disse: ‘Você é monarquista. Não pode ser nazista porque o Brasil é um país de negros e indígenas. Como as pessoas querem ser monarquistas num país como o nosso!?”, mencionou José Almir.
O estudante foi nomeado em um cargo de técnico administrativo na Prefeitura de Almirante Tamandaré, na região metropolitana de Curitiba.
“Eles estão distorcendo. Eu sou cotista, tenho 37 anos, sou homossexual, meu pai sofre de Alzheimer e ainda tenho que ficar aguentando humilhação para terminar essa faculdade. Eles riem da pobreza da gente”, disse ele.
A versão
Um membro do grupo de estudos alvo das ofensas supostamente proferidas por José Almir da Luz Júnior, que preferiu não se identificar, lamentou a exposição do caso. O grupo, diz ele, possui “ideias liberais mais voltadas à direita”, e José Almir é um dos opositores ao círculo.
“Ele [José Almir] foi aprovado em um concurso em Almirante Tamandaré para técnico-administrativo e estava divulgando nas redes sociais que, por meio deste cargo, poderia ser promovido a procurador municipal. Isso é proibido pela legislação. Um membro do nosso grupo comentou no post do LinkedIn do Almir que não é assim que acontece. Explicou que há uma súmula do STF [Superior Tribunal Federal] que proíbe esse tipo de progressão de cargo. Foi uma mensagem respeitosa”, afirmou aluno, sob condição de anonimato.
Após o comentário, o estudante de direito teria direcionado os áudios com ofensas à página do GELD no Instagram. O conteúdo, afirmou o integrante do grupo, não deveria ter sido exposto porque “a repercussão nacional poderia ocasionar uma tragédia”.
Segundo apurou a Banda B, o jovem foi alvo de pelo menos duas denúncias de ameaças nos últimos anos.