Coluna MSN: Onde pago IPTU

Acho que enfim me tornei ponta-grossense. Estive esses dias em Maringá e uma pessoa, ao saber em que município pago IPTU, foi zombeteiro: que cidade feia é Ponta Grossa! Fiquei desconcertado.

Em um primeiro momento, falei que a topografia era desafiadora, a zona urbana restara muito espalhada e entrecortada por arroios e vales. Ele elogiou as ruas largas, a arborização e os prédios novos e imponentes de Maringá. Para rebater, argumentei que aqui vivemos um surto de desenvolvimento, nossas indústrias estão atraindo uma população muito variada, de outros estados e países. E quando percebi estava cantando as belezas naturais, a mistura cultural, a riqueza geológica.

Eu falava como alguém com raízes profundas aqui, embora tenha testemunhado apenas 15% dos 200 anos de nossa (data venia) cidade. Neste período, tentei entender o que nos caraterizou enquanto uma cultura à parte no Paraná. Mantivemos hábitos mais formais do que o resto do estado, com uma tendência para a sociabilidade, guardamos tradições dos muitos imigrantes, não destruímos a Escarpa Devoniana que tanto nos orgulha, nem as matas, ausentes em um Norte do Paraná tomado apenas por lavouras e pastos.

Eu estava defendendo uma ideia de conservacionismo, que aqui ainda é possível. Dizia um amigo que o lado positivo de ser conservadora nos hábitos é que Ponta Grossa manteve muitas áreas de matas nativas, que correm risco hoje com a expansão das lavouras de soja e milho. Quando quiseram desmatar, a legislação já não permitia. E assim podemos contemplar capões de araucárias e outras espécies nativas, apesar do pínus invasor, que se espraia incontrolado em muitas regiões de preservação.

O fato é que me sinto pertencer a esta cidade, à sua história ferroviária, aos seus campos, aos recantos naturais e às ruas estreitas e íngremes. Ponta Grossa não foi uma cidade projetada, mantendo uma feição meio século XIX. Na minha defesa, falei até de nosso cemitério São José, com seus túmulos imponentes. Embora pequeno, comparável aos mais belos do mundo.

Ele anuncia uma densidade histórica, talvez nosso patrimônio maior.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt