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Coluna MSN: Com quem mais se aprende

“É preciso buscar uma sabedoria cidadã”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Na minha pavorosa infância, criança não existia para o mundo adulto, principalmente em situações públicas. Eram seres invisíveis, que ganhavam materialidade apenas na hora em que cometiam algo tido como errado. Eu fazia uma pergunta a meu padrasto e ele continuava se dirigindo aos amigos como se eu não estivesse ali ao lado deles. Quando se irritava com minha presença, expelia em sua linguagem rústica: Foge já daqui, moleque.

Conversa de adulto era conversa de adulto. Vivíamos em um exílio geracional até começarmos a trabalhar. Então ingressávamos, aos 12 ou 13 anos, no mundo dos homens. Nesta fase produtiva, estávamos menos sujeitos a tapas e cintadas, que ainda aconteciam quando se ousava discordar de alguma ordem.

Por ter padecido desta educação, sempre paro para ouvir crianças e outros indivíduos que a sociedade insiste em não ver. Simone Weil dizia: “Há muito pouca gente, no final das contas, que sabe que os outros existem”. Estivesse com quem estivesse, questionado pelos meus infantes, eu lhes dava toda a atenção, explicava dúvidas, buscava ajudar. Tentamos dar a eles uma formação horizontal, em que todos podem se manifestar a qualquer momento e sobre qualquer assunto, com o amplo direito de nos interromper e discordar.

Ouvir a todos como indivíduos plenos é obrigação de qualquer pessoa que não se queira em um plano superior, autoritário e egocêntrico. Além de ser uma oportunidade de aprendizagem permanente. Não há uma única pessoa que não possua algo para nos ensinar, com o qual não possamos ter uma melhor compreensão da existência que nos foi imposta misteriosamente.

Não falo aqui em sabedoria popular, mas em uma sabedoria cidadã, aquela que nos vem de nossa capacidade de interagir com boa vontade com todos os grupos e extratos sociais. Para isso, primeiro é preciso treinar os olhos. Olhar as pessoas em todos os ambientes como iguais. Depois, uma disposição mental para absorver pontos de vista que nos negam e refletir sobre eles.

O menino que fui ainda tem muitas perguntas. Mas agora ele também tem que dar respostas. Por isso mantém-se atento aos mais frágeis.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt

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