Coluna MSN: Reitor e Poeta
“A UEPG nasceu sob o signo da literatura”
Publicado: 01/03/2023, 08:00
Pouca gente sabe que o primeiro reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Alvaro Augusto Cunha Rocha (1924-1992), era poeta. A Editora da UEPG vai relançar este ano o volume “O espírito do tempo”, com os seus16 poemas. Caso raro entre os poetas brasileiros, Alvaro deixou uma produção pequena e bem cuidada, que trata das questões essenciais, centradas na consciência da força destruidora do tempo, que nos tira o vivido e ao mesmo tempo o devolve pela lembrança.
Nascido em 1924, a sua percepção poética do mundo e da linguagem vem da negação do Modernismo Paulista. Histórica e estilisticamente, ele pertence ao que se convencionou chamar “Geração de 45”, que agregou poetas que recusavam o excesso de nacionalismo, tanto temático quanto de linguagem, para buscar as fontes eternas da poesia lírica. Nota-se no livro uma temática com ressonâncias clássicas, tendência para o filosófico, um uso de termos mais tradicionais, a força de um lirismo que fala do mar, da morte, do horizonte místico, do sonho. Esta poesia vinha com um apelo universal, focada no humano e não em um eu individualizado, autobiográfico. Com tal universalidade das preocupações e da linguagem, Alvaro se filiava à visão nascida no pós Segunda Guerra Mundial, que o marcou para sempre pela forma de compreender um mundo sem barreiras, sem nomes próprios, sem colorido local, elementos de nosso nacionalismo literário.
A sua não é, portanto, uma poesia musical nem oral. Prevalecem a reflexão e o exercício da humanidade pela palavra. Autor bissexto, na expressão de Manuel Bandeira (de quem Alvaro foi aluno no Rio de Janeiro), ou seja, autor que escreveu muito ocasionalmente, ele foi um poeta pleno e que evitava ver o mundo com barreiras.
Justamente por esta índole conciliadora, quando da fundação da UEPG (1969), momento em que ainda não havia eleições diretas, seu nome acabou escolhido para representar todas as faculdades isoladas. Foi sob sua gestão que nasceu o Festival Nacional de Teatro, mostrando que o reitor era antes de tudo um intelectual.