Coluna MSN: Preparando uma viagem
“Gente que vem da roça gosta de Fusca”
Publicado: 22/02/2023, 08:00

Há muitas razões para a pessoa comprar carros antigos, todas ligadas a algum tipo de memória afetiva. Quando comprei o Bastião, um Fusca 1972 1300, primeira série, faróis olho de boi, eu tinha meus motivos. No início daquela década, a família toda foi a Aparecida do Norte em um Fusquinha. Meus irmãos e eu nos revezávamos no chiqueirinho, que é a parte de trás do banco dos Fuscas.
Para a compra, coloquei algumas exigências. Queria um carro que nunca tivesse sido reformado. Tinha que ser azul. Devia vir de alguém da área rural. Não podia ter muitos podres.
Achei um em Ipiranga. Mostrei fotos e vídeos a entendidos e todos me aconselharam veementemente a não comprar. Um péssimo negócio. Muita coisa a ser feita.
Não tive dúvidas, comprei. E vim com ele fumaceando de Ipiranga até aqui.
Foram dois anos arrumando o que deu para arrumar. Primeiro a parte mecânica. Motor retificado, essas coisas. Depois a lataria. Em seguida, toda a elétrica e, por fim, o estofamento e os pneus novos, estilo linguiça. Como luxo, mandei cromar as calotas.
Estava ali um dublê de carro zero. Primeira coisa que parou de funcionar foi o alternador. Tive que trocar. Daí foi a vez dos limpadores de para-brisa durante uma chuva muito intensa. Em seguida, a embreagem. Coloquei uma nova. Neste final de semana, o freio de mão saiu inteiro quando o puxei. E há um vazamento homeopático no motor que insiste em desafiar os especialistas.
Quando me perguntam como me sinto por possuir um carro antigo, respondo que é como estar em um relacionamento sério com mecânicos.
Mas nem cogito me desfazer destes problemas, isto é, deste carro. Estou testando na cidade a resistência das peças ainda não substituídas e tenho na carteira o contato de um guincho 24 horas. Bastião já rodou quase 2 mil quilômetros comigo. Em breve, faremos uma viagem a Aparecida do Norte.
Ele tem a mesma cor do manto de Nossa Senhora.
O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt