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Cerco judicial limita radicalismo de bolsonaristas no feriado

Convocações para atos deste feriado focam na defesa da liberdade de expressão e evitam pautas golpistas, como o fechamento do STF

Manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro são esperadas em todo o país.
Manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro são esperadas em todo o país. -

Da Redação

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Apoiadores do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), pretendem atender a seu chamado e encher as ruas das maiores cidades brasileiras neste feriado da Independência. Críticas ao sistema eleitoral e ao Poder Judiciário fazem parte da pauta dos militantes, mas os ataques abertos a autoridades e ameaças de ruptura democrática estão sendo evitados pelas lideranças conservadoras.

O tom adotado pelos influenciadores que promovem os atos indica que o país deve sediar manifestações menos radicalizadas do que as do ano passado, quando o próprio Bolsonaro ameaçou deixar de cumprir decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e foi obrigado a recuar nos dias seguintes, diante da repercussão ruim.

A luta pela liberdade de expressão e as críticas ao que os bolsonaristas consideram ativismo judiciário e abuso de autoridade devem ser as principais bandeiras dos atos, que foram marcados para cidades de todas as regiões, mas terão foco principalmente em Brasília e Rio de Janeiro, cidades onde Bolsonaro garantiu presença, e São Paulo, onde seus apoiadores vão se reunir na Avenida Paulista.

Motivos para a mudança de tom

Aliados de Bolsonaro da ala política têm insistido com o presidente para evitar a radicalização com o argumento de que o tom raivoso tira votos em um momento no qual o candidato, estacionado no segundo lugar nas pesquisas, precisa deles. Na ala ideológica de militantes, nem todos concordam com essa tese, mas a capacidade de mobilização desse grupo foi fortemente afetada pelo cerco judicial que se formou como resposta às ameaças golpistas do presidente e de apoiadores radicalizados.

Neste ano, não há nas redes convocações de tom golpista como as feitas pelo caminhoneiro Zé Trovão e pelo cantor Sergio Reis em 2021. Ambos, aliás, seguem enrolados na Justiça, investigados em inquérito no STF por promover atos antidemocráticos. Trovão, que tenta uma vaga na Câmara dos Deputados, nem pode falar, pois teve suas redes sociais bloqueadas e cumpre prisão domiciliar, após ter chegado a fugir para o México para tentar escapar da Justiça brasileira.

Um bolsonarista radical que tem tido sucesso em fugir é o jornalista Allan dos Santos, fundador do extinto site Terça Livre, que tem ordem de prisão expedida pelo Supremo desde outubro de 2021, mas vive nos Estados Unidos. Falar, por outro lado, tem sido um desafio para Santos. Apesar de tentar burlar as decisões que bloquearam suas redes sociais criando outros perfis, o militante perdeu visibilidade e hoje já não consegue se comunicar com grandes audiências.

Além das ações do STF, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contribuiu para o cerco aos radicais ao desmonetizar dezenas de canais em sites como YouTube e Instagram sob a acusação de propagação de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas e até o Tribunal de Contas da União (TCU) tem investigação aberta para apurar possível uso de recursos públicos na convocação, divulgação e organização das manifestações com pautas antidemocráticas.

Empresários que defenderam golpe em caso de vitória de Lula

Numa ação mais recente, e que está sendo usada como combustível para inflamar a militância contra o ativismo judicial, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, atendeu pedido da Polícia Federal e determinou medidas contra empresários que se manifestaram, em grupo fechado no WhatsApp, dizendo preferir um golpe a aceitar uma vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais.

O caso foi revelado pelo colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, e a resposta da Justiça tirou o poder de mobilização de militantes como o empresário Luciano Hang, fundador da Havan, que teve suas redes sociais bloqueadas.

Consequências

Diante do cenário adverso, mesmo militantes que não se tornaram alvo da Justiça resolveram mudar de comportamento. O pastor Silas Malafaia, por exemplo, adiantou que irá recuar na postura agressiva que vinha mantendo, de ataques contra o STF e o ministro Alexandre de Moraes. Nas manifestações desta quarta-feira, Malafaia acompanhará Bolsonaro no ato no Rio de Janeiro e disse que vai centrar sua fala em críticas ao PT e a Lula.

O economista Rodrigo Constantino afirmou, em transmissão por suas redes sociais na véspera do feriado, que “o que estamos tentando defender aqui é a liberdade, que está ameaçada”. Já o influenciador digital Leandro Ruschel, representante dos seguidores do extremista Olavo de Carvalho, disse em suas redes que é preciso ir às ruas “de forma pacífica, porém firme”, para “lutar por liberdade e autodeterminação do nosso povo”.

Inimigos da desradicalização

Nem todos os aliados de Bolsonaro, porém, concordam em recuar do tom radical neste 7 de Setembro. Impedido pela Justiça Eleitoral de se candidatar à Presidência e cumprindo prisão domiciliar, o ex-deputado Roberto Jefferson fez circular, na última segunda (5/9), vídeo conclamando Bolsonaro a usar as Forças Armadas para prender agentes da PM do DF que, segundo ele, haviam sido convocados pelo ministro Alexandre de Moraes para intimidar os bolsonaristas. Trata-se de uma notícia falsa. Os snipers da PM fazem parte de um protocolo de segurança definido pela Secretaria de Segurança do DF, sob o comando do governador Ibaneis Rocha (MDB), um aliado de Bolsonaro.

As respostas ao apelo de Jefferson nas redes bolsonaristas monitoradas pela reportagem, porém, foram majoritariamente de repúdio, mostrando que a vontade da maioria dos que se manifestam são atos de apoio a Bolsonaro, mas sem pedir a ruptura do regime democrático. O que não quer dizer, claro, que não haja grupos que defendem medidas como a intervenção militar e o fechamento do Supremo e do Congresso.

O maior medo da ala política neste feriado é que Bolsonaro decida acenar para essa franja mais radical, como fez no ano passado, em São Paulo. Apesar de ter moderado seu discurso nas últimas semanas, o presidente escorregou em alguns momentos, como no último dia 3, quando chamou de “vagabundo” quem deu “canetada” contra seus aliados empresários, numa crítica direta a Moraes, e na sabatina para a Jovem Pan no dia 6, quando voltou a defender o voto impresso e a desacreditar as urnas eletrônicas.

Com informações do Portal Metrópoles

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