Pesquisas eleitorais distorcidas ganham espaço nas redes
Institutos de pesquisa estão sendo atacados e alvos de fake news sobre o assunto
Publicado: 17/07/2022, 09:23
Institutos de pesquisa estão sendo atacados e alvos de fake news sobre o assunto
Pesquisas eleitorais e empresas do setor tornaram-se alvos preferenciais nas redes sociais da base do presidente Jair Bolsonaro (PL), pré-candidato à reeleição. A tática, que ganha força à medida que o pleito se aproxima, passa pela circulação de dados falsos sobre intenções de voto, ataques diretos à credibilidade dos institutos e pela divulgação de enquetes sem valor estatístico e fotos de multidões como forma de medir a popularidade do presidente. Em paralelo, em menor número, políticos de diferentes partidos já começam a exibir resultados distorcidos para favorecer aliados e suas pré-candidaturas.
Um caso recente é o de uma pesquisa falsa atribuída ao Paraná Pesquisas apontando Bolsonaro com mais de 70% das intenções de votos em oito dos 27 estados — os resultados foram desmentidos pelo próprio instituto. A publicação, que se espalhou em aplicativos de mensagens, afirma que Bolsonaro venceria no primeiro turno.
Um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV) aponta que, entre 1° de junho e 5 de julho, a mensagem apareceu 35 vezes em 25 grupos de WhatsApp, em um universo de 172 grupos públicos monitorados. Além disso, 91,4% das aparições ocorreram nas duas últimas semanas.
Diretor de análises públicas da FGV, Marco Aurélio Ruediger alerta para o componente emocional da distorção de dados. "Os números não estão ali para serem precisos, mas para mexer com a emoção das pessoas. Não é para fazer o eleitor pensar, é para que ele pegue essa informação falsa, acredite e compartilhe com os amigos", ressalta.
Em outro episódio, o Datafolha apareceu como fonte em uma postagem falsa compartilhada pelo WhatsApp que apontava Lula atrás de Bolsonaro no Estado do Rio, o oposto do resultado verdadeiro. No mês passado, também circularam mensagens enganosas sobre um áudio atribuído a Mauro Paulino, ex-diretor do instituto, no qual ele confessaria um plano para fraudar as urnas eletrônicas. O áudio, na verdade, foi gravado por um canal humorístico.
‘Não tem como controlar’
Dados da DAPP/FGV revelam também que há alta circulação no Facebook de posts com links de enquetes enviesadas sobre a disputa presidencial. Embora não tenham a proposta de se equiparar a uma pesquisa eleitoral e façam esse alerta em suas páginas, os levantamentos on-line vêm sendo divulgados como forma de contestar os institutos. Um deles, a do site Eleições ao Vivo, já gerou mais de 1 milhão de curtidas, compartilhamentos e comentários desde que foi lançado, em 2020. O resultado da enquete, atualizada em tempo real e compartilhada majoritariamente por apoiadores do presidente, aponta Bolsonaro com 70% dos votos. O Datafolha mais recente mostrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 47% das intenções de voto, contra 28% de Jair Bolsonaro.
Outro site de enquete é o Realidade do Povo, que somou 480 mil interações nos últimos dois meses, segundo a DAPP/FGV. Administrador da plataforma, Márcio Santine diz que não é responsável pela circulação tendenciosa nas redes. "Está bem claro que são enquetes. Sabemos que há todo um estudo científico por trás das pesquisas. Infelizmente, não tem como controlar. Até fotos são usadas para medir apoio", explica.
Presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), Duilio Novaes diz que o instrumento é a 'bola da vez' nas redes de fake news. Ele explica que, no caso das enquetes, não há preocupação com a representatividade da amostra, ou seja, com o perfil de quem responde à consulta on-line e, por isso, elas não têm validade estatística.
O uso de imagens também faz parte da narrativa de desconstrução dos levantamentos. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por exemplo, comparou fotos de atos a favor do presidente e de Lula, reproduzindo ironicamente os percentuais da última pesquisa de um instituto: “Datafolha? Pode confiar!”.
Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) fez, há duas semanas, uma live na qual mirou uma pesquisa Genial/Quaest. Na publicação, ele teceu críticas sem fundamentos à metodologia da empresa, argumentando que foram escolhidos locais do Maranhão em que Bolsonaro não venceu nas eleições de 2018.