Grupo busca soluções para o Parque Nacional dos Campos Gerais na Inglaterra
A viagem foi realizada através de emenda parlamentar do deputado federal Aliel Machado, que permitiu montar uma equipe para o desenvolvimento do projeto
Publicado: 06/11/2025, 15:35

Uma comitiva multidisciplinar composta por professores, membros da associação comercial e do agronegócio, além de um representante do legislativo paranaense, visitou a Universidade de York, na Inglaterra, para aprofundar os conhecimentos sobre a gestão de parques nacionais no país e estudar modelos de contribuição para aplicar no Parque Nacional dos Campos Gerais. A visita aconteceu durante o mês de outubro, entre os dias 20 e 23, e faz parte do projeto “Repensando Estratégias de Conservação: Lições dos Parques Nacionais do Reino Unido para os Campos Gerais do Paraná”, do professor Carlos Hugo Rocha, do Departamento de Ciências do Solo e Engenharia Agrícola.
A viagem foi realizada através de emenda parlamentar do deputado federal Aliel Machado, que permitiu montar uma equipe para o desenvolvimento do projeto. A visita teve três dias para conhecer os Parques Nacionais de North York Moors e Yorkshire Dales e um quarto dia de reuniões e apresentações na Universidade. “O foco do trabalho é o desenvolvimento de um projeto com a Universidade de York para captação de recursos a nível Europa, que possam ser investidos em pesquisa ecológica, crie parcerias e encontre meios de acordo com os interesses dos proprietários de terra”, explica o professor Carlos Hugo.
Para ele, a criação do Parque Nacional dos Campos Gerais teve desafios e é a primeira vez que se abre uma perspectiva harmônica entre os diferentes atores. A proposta é investir na conservação do ponto de vista do turismo e da biodiversidade. “Quando o Parque foi criado, houve um conflito muito grande: ambientalistas versus produtores rurais, o que não é real. Queremos fazer uma situação ganha-ganha: deve ser interessante para os agricultores, mas fundamentalmente importante para garantir a conservação”, explica o professor.
Os primeiros passos para a implantação de um novo modelo já estão sendo dados. Furnas, Buraco do Padre e Cachoeira da Mariquinha são espaços em que já existe um trabalho para levantar potenciais, identificar problemas de manejo de recurso natural e traçar parcerias para melhorar processos de conservação e manejo de turistas e visitantes. “Nós trabalhamos muito com isso na agronomia e nas parcerias na agricultura familiar. Tivemos bastante sucesso fazendo esse tipo de parceria com foco na agroecologia. Aprendemos esse modelo com os pequenos produtores e a ideia é transplantar essa ideia para o Parque Nacional. Um diálogo com médias e grandes propriedades para criar oportunidades econômicas, garantir a conservação e o proprietário manter seus ganhos”, defende o professor.
Atualmente, no Brasil, a gestão dos parques nacionais segue um modelo americano, com foco na exploração e desapropriação da terra. O entendimento dos envolvidos no projeto é que o modelo inglês pode ser mais produtivo para ser aplicado na região. Os parques visitados na Inglaterra são compostos entre 80% e 85% de terras privadas e o agricultor que adere a políticas de conservação é remunerado para contribuir na conservação e manejo da área de um parque nacional. “A área é importante para conservação da água, ou de uma espécie? Isso é avaliado e abre possibilidades de agregar valor à propriedade para que a atividade agrícola não seja a única opção”, explica o professor Carlos Hugo. Para o professor, o sistema britânico permite que comunidades, produtores rurais e órgãos públicos compartilhem responsabilidades pela conservação.
Ricardo Daniel Kossatz, administrador da Fazenda Morro do Castelo, integrou a missão e considerou a experiência uma alternativa de gestão para os desafios do Parque Nacional dos Campos Gerais, que reconhece e valoriza os proprietários rurais como atores e parceiros na conservação. “É evidente que a realidade inglesa é diversa da nossa, mas transformar o parque num território dinâmico, vivo, que gere oportunidades concretas através de renda sustentável, do fomento a um turismo de base local e da educação ambiental integrada pode ser uma saída factível se pudermos fazer a adaptação ao sistema brasileiro de parques nacionais, unindo o que de melhor temos em ambos os sistemas”, defende Ricardo.
PARQUE - O Parque Nacional dos Campos Gerais foi criado em 2006, se estende pelos municípios de Ponta Grossa, Castro e Carambeí e é considerado a maior área de floresta de araucária protegida do mundo, com 21.298 hectares. A Unidade de Conservação (UC) está numa transição de biomas, com parte na Mata Atlântica e outra no Cerrado, o que proporciona maior biodiversidade à região. A composição do Parque é de Campos Nativos, Floresta com Araucária e Áreas de Várzea. “Temos um ligeiro crescimento da área florestal do Parque nos últimos 40 anos, mas os outros dois ecossistemas perdemos muito. A área campestre caiu pela metade”, explica o professor Carlos Hugo.
Desde sua criação, nenhuma área do Parque foi desapropriada. “Continuam sendo áreas privadas. A desapropriação é um processo lento, burocrático e ruim para o proprietário, que não desenvolve investimentos e não cria uma conservação efetiva”, destaca. Para o professor, os parques da Inglaterra representam uma possibilidade de aprendizado, pois foram concebidos na década de 50, com foco em criar oportunidades econômicas e de desenvolvimento sustentável para agricultores que estão nos parques.
COMITIVA - A comitiva foi composta por seis pessoas. Representando a UEPG, o professor Carlos Hugo Rocha e a professora Jasmine Moreira, do Departamento de Turismo. Integraram o grupo o também professor Abel Azeredo, diretor-geral do campus da UTFPR Ponta Grossa; Ricardo Daniel Kossatz, administrador da Fazenda Morro do Castelo; Alberto Kossatz, representante da Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG); e o deputado estadual Goura.
Durante a visita, os professores Carlos Hugo e Jasmine tiveram a oportunidade de apresentar seus trabalhos para os colegas da Universidade de York. “Desenvolvemos ferramentas práticas e acessíveis, tais como os meios interpretativos e educativos. Apresentamos exemplos que desenvolvemos no Labtan: guias de campo, cartilhas e um jogo da memória que foi entregue para as escolas, destinados ao público infantil. Esses materiais podem fomentar uma mudança cultural geracional significativa na forma como as novas gerações se relacionam com os Parques Nacionais”, explica a professora Jasmine. “Para estimular a economia local de forma sustentável, comentamos sobre nosso novo projeto, que engloba a realização de um livro infantil e fantoches que representam espécies-chave da nossa região, como a onça-parda e o lobo-guará”, conta a professora.
Ricardo Kossatz destacou que a visita foi uma demonstração prática da viabilidade de harmonizar conservação ambiental com produção econômica e bem-estar das comunidades. “Impressionou saber que mais de 90% das terras dentro dos parques britânicos são de propriedade privada e, mesmo assim, todo o sistema opera com notável equilíbrio, com base de cooperação efetiva entre os diversos agentes e, claro, planejamento com visão de longo prazo”, explica Ricardo. Para ele, a missão trouxe a certeza que o diálogo aberto e a gestão colaborativa são os caminhos para a construção de um modelo brasileiro de conservação justo, eficiente e duradouro.
O site da Universidade de York destacou o evento com participação dos professores da UEPG e resumiu os aprendizados a serem compartilhados: “Embora o contexto local e o apoio das partes interessadas sejam fundamentais, as estratégias do modelo britânico, como agricultura regenerativa, gestão de pastagens, restauração de habitats e áreas ribeirinhas, turismo comunitário e governança participativa, oferecem políticas viáveis e adaptáveis localmente para o manejo sustentável da terra nos Campos Gerais. Essa mudança é fundamental para combater a rápida fragmentação ecológica e apoiar o patrimônio natural e arqueológico único da região”.
O próximo passo do projeto é a continuidade: cada um tem uma tarefa a ser executada nos próximos meses. “Não é um projeto da UEPG, mas um projeto comunitário. Vai ser fundamentado na ciência e no conhecimento e trazer um caráter municipal para avançar na perspectiva de conservação”, defende o professor. Ele segue na Universidade de York até fevereiro de 2026 estudando modelos para a governança de parques nacionais no Brasil. Suas atividades são desenvolvidas junto ao Yesi (York Enviromental Sustainability Institute) – Instituto de Meio Ambiente e Sustentabilidade de York.
Com informações: UEPG.





















