Diversificação traz melhorias ao solo e eleva os ganhos no campo
Rotação de diferentes culturas na mesma área enriquece o solo e garante a melhoria na produtividade. Ação também é recomendada para quebrar o ciclo de doenças, reduzindo os custos de produção e aumentando a rentabilidade
Publicado: 15/12/2022, 16:11
Soja e trigo são, disparados, os produtos mais plantados na região, nas safras de verão e de inverno, respectivamente. A soja, por exemplo, tem uma área cinco vezes maior que a soma dos outros produtos (milho e feijão) no período. Porém, sempre ocupar as mesmas áreas com os mesmos produtos (por exemplo, plantar soja no verão, trigo no inverno, por vários anos seguidos no mesmo talhão do terreno), não é recomendável, pois traz perdas de produtividade. Por esse motivo, para ampliar os ganhos, reduzir custos e trazer benefícios ao meio ambiente, a recomendação é sempre fazer a rotatividade de culturas, prática que é, em boa parte, seguida por produtores rurais da região.
Jullian Luiz Stülp, engenheiro agrônomo que ocupou o cargo de inspetor do Conselho de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR) por dois mandatos, destaca três aspectos que mostram a relevância da rotatividade e o fato de não deixar o solo em pousio: conservação do solo, ciclagem de nutrientes e prevenção de pragas. “Quando se tem um solo com maior incremento de palhada, com matéria orgânica de outras culturas, se tem um solo mais protegido, facilitando o sistema de plantio direto. Ele segura mais umidade, o que faz com que a planta tenha mais resistência à seca. Com isso, se tem maior disponibilidade de adubação, e a possibilidade de uma melhoria na microbiota do solo, que é a riqueza de nutrientes gerada pelos microrganismos. E sem contar que, com o mínimo de remoção do solo, evita riscos de erosão”, disse.
Manter o plantio sobre plantio, de diferentes culturas, não vai ‘empobrecer’ o solo pelo consumo de nutrientes. Pelo contrário, explica o engenheiro. “Quando se rotaciona uma cultura agrícola, principalmente com características distintas, como leguminosa em uma safra e a seguinte com gramínea, se tem plantas de características distintas que fazem com que a safra seguinte aproveite a matéria orgânica da anterior, realize a ciclagem de nutrientes e aumente a produtividade”, relata Stülp. E, para encerrar, o agrônomo detalha a prevenção de pragas e doenças. “Ao não continuar uma mesma cultura, se tem a quebra ciclo de desenvolvimento de pragas, reduzindo a população dos mesmos e, com isso, reduzindo os custos de controle”, completa, reafirmando que a rotação é possível em todo o ramo agrícola, bastando adequar o tipo de exploração econômica.
QUALIDADE
O produtor rural Edilson Gorte, diretor de agronegócio da Acipg, que também já ocupou o cargo de presidente da Sociedade Rural dos Campos Gerais, ressalta a importância da rotatividade de culturas. “Quando faz rotação de culturas, melhora muito as terras. não se deve deixar a terra descoberta, para não ter incidência direta de chuva e sol. Deixando restos culturais, faz com que a matéria orgânica se incorpore e a microbiota traga mais qualidade. Em nossas terras, até os agrônomos se impressionam com o tanto de minhocas, porque nunca deixamos a terra descoberta. Meu solo é meu patrimônio maior, e o solo tem que ter vida para gerar vida”, pontou, lembrando que os Campos Gerais é o berço do plantio direto. “Na nossa região, nos primórdios, era só gado. E hoje olha o que virou: uma das áreas mais produtivas do país, principalmente em milho, porque tem se adaptado e modernizando”, acrescenta.
Bioativação traz melhorias ao solo
Além da rotatividade de culturas, que propicia uma boa palhada e favorece o plantio direto, o investimento na qualidade do solo também é realizado pelos produtores rurais, como explica o empresário rural Marcio Krzyuy, da fazenda Campina do Tigre (CT Agro), localizada em Teixeira Soares. “Fazemos um trabalho diferenciado e usamos a estratégia da bioativação há quatro anos. São investimentos no que chamamos de ‘perfil de solo’, investimos bastante, mas sempre percebemos bons resultados”, diz. Com isso, explica Krzyuy, se opta pela linha de biológicos e reduz bastante o uso de produtos químicos, aumentando a produtividade e trazendo ganhos para o meio ambiente.
Agricultor inova ao rotacionar cultivares não comuns na região
Edilson Gorte leva ao pé da letra a ideia de diversificar e rotacionar as culturas. A prova é que, ao invés de quatro ou cinco culturas, ele utiliza mais de quinze em suas áreas. “Eu faço 16 culturas. No verão fiz soja, milho e feijão; no inverno centeio, triticale, aveia branca, trigo e linhaça; e no outono fiz girassol e milheto. E sem falar cártamo e grão de bico. Faço milho um ano e dois de soja, feijão de quatro em quatro anos na mesma área, e o trigo alterno ano sim e ano não”, informa.
Para ampliar essa rotatividade, Gorte resolveu inovar neste ano: plantar girassol no outono. “Ninguém planta girassol na região. E no outono porque não tem nada para plantar, só se faz cobertura. Então optei por ela para fazer um teste, por parecer economicamente viável, que poderia dar retorno”, disse. O primeiro resultado, informou, foi a colheita de alegria e sorrisos das pessoas que transitavam pela PR-151 entre Ponta Grossa e Palmeira, na época que o girassol floresceu, se tornando um ponto turístico de fotos, no mês de junho. Depois, com a colheita, o resultado foi satisfatório. “Tinha ideia de colher 1,1 mil quilos por hectare, e acabei colhendo 950. Foi uma safra boa, porque o valor do girassol anda junto com o da soja - e não fiz nada diferente: usei a máquina do plantio de milho e a máquina de colher de milho. Ninguém conhecia na região, e neste primeiro ano, deu retorno” disse. Tão positiva a ponto de já querer repetir o plantio em 2023, porém algumas semanas antes, em cima da primeira lavoura de milho.
Outro teste que Gorte fez no outono foi o plantio de trigo. “Nosso trigo é plantado no inverno. Então plantei em março e colhi, no final de junho, 50 sacas por hectare. Depois, plantei trigo novamente em cima, com tratamento para fungos e doenças, e somando as duas safras, colhi 110 sacas por hectare. Em uma área normal, em média, se produz 65 sacas, então eu quase colhi o dobro, e não foi quase o dobro de custo, porque no outono usei menos fungicida”, disse. “Temos que procurar alternativas, porque o custo das principais culturas está ficando elevado. Então ao lidar com outras culturas, intercalar no outono, por mais que não renda muito, você não deixa a terra desprevenida e ainda tem algumas receitas a mais”.