Safra de inverno chega ao fim com alta na produção de trigo
Região dos Campos Gerais ampliou o plantio e aumentou a produção de inverno em quase 25% em comparação com 2021. Trigo, aveia e cevada lideram a preferência dos agricultores
Publicado: 15/12/2022, 15:38
Produtores da região dos Campos Gerais aumentaram a área plantada e a produção foi maior nesta safra de inverno em 2022. Somados os principais cultivos desenvolvidos nos municípios da regional de Ponta Grossa do Departamento de Economia Rural (Deral), foram colhidos 833,1 mil toneladas, em uma área de 254,3 mil hectares. Essa produção é 24,7% superior às 668 mil toneladas retiradas de áreas que somaram 225 mil hectares em 2021 entre trigo, cevada, aveia, triticale e centeio.
Toda essa produção foi obtida mesmo sem as condições mais favoráveis no final do ciclo, com o excesso de chuvas entre setembro e novembro, que fez com que as culturas tivessem atraso no desenvolvimento e até mesmo a perda de produtividade e redução na qualidade dos cultivares. Ainda assim, em média na região, o rendimento por hectare foi maior que o registrado no ano passado nos principais produtos.
No caso do trigo, foi a maior área plantada dos últimos sete anos. O total ocupado com esse cultivar foi de 173,9 mil hectares em 2022, área 11,7% maior que os 155,4 mil hectares ocupados na safra anterior, resultando no segundo maior valor de colheita dos últimos 15 anos, devendo atingir 625,8 mil toneladas. “No caso do trigo, esse aumento aconteceu devido ao mercado. O preço estava bom, vinha de boa safra anterior, e com a guerra entre Rússia e Ucrânia, houve maior intenção de plantio”, recorda o economista do Deral em Ponta Grossa, Luiz Alberto Vantroba. Como a Ucrânia é um dos maiores exportadores de trigo, houve alta no valor desse produto no mercado internacional, devido à redução da oferta. Na cevada, o incremento foi ainda maior, na casa dos 45%, vindo a atingir uma área de 29,2 mil hectares, valor nunca alcançado antes na região.
QUALIDADE
A estimativa inicial na região era de um rendimento de 3,9 mil quilos de trigo por hectare, valor que não foi alcançado, mas ainda assim deve ficar com um rendimento 7% superior à safra anterior. “O trigo deve ficar na casa de 3,5 mil a 3,6 mil quilos por hectare, menor se comparado com a estimativa inicial. Isso ocorreu em função do clima chuvoso e nublado, com temperaturas baixas e amenas quando se precisava de calor. Tudo isso repercutiu na qualidade: o ‘top’ seria PH (Peso Hectolítrico) 78 (kg) e falling number acima de 240, mas somente em torno de 30% da produção atingiu essa meta desejada”, explica Vantroba.
PERDAS
O empresário rural Marcio Krzyuy, que comanda a CT Agro, holding rural agrícola que administra a fazenda Campina do Tigre, confirma perdas nos cultivares. No caso do trigo, a redução na produção foi superior a 20%. “Foi um ano difícil, com muita chuva. As previsões eram de um agosto seco, então direcionamos a safra de inverno para as áreas mais úmidas, e isso prejudicou um pouco. Colhemos 165 sacas líquidas por alqueire (cerca de 4.090 quilos por hectare); no ano passado foram 212 sacas (cerca de 5,25 mil kg/ha). Não tinha sol para fazer fotossíntese e o ciclo se estendeu - a colheita atrasou 25 dias pelas chuvas”, disse. Ainda assim, toda a produção passou com qualidade para panificação, sendo 50% de primeira qualidade e 50% de segunda. “E a safra de inverno faz uma palha muito boa. Então mesmo que empate os custos, você ganha, porque a cobertura boa traz um resultado muito positivo para a safra de verão”, completa.
TRITICALE É OPÇÃO
Parte dos produtores opta por triticale no inverno. Neste ano, 2.250 hectares foram ocupados com esse produto na região, o quinto mais plantado no período. “O triticale é um produto com custo menor de produção, e o preço dele é, mais ou menos, 70% do preço do trigo normal, então proporcionalmente dá uma produção maior que o trigo”, explicou Marcio Krzyuy, da CT Agro. Contudo, as chuvas impactaram negativamente na produção da fazenda. “O triticale rendeu cerca de 105 sacas por alqueire (cerca de 2,6 mil quilos por hectare). E o preço dele, agora ao final da colheita, está girando entre R$ 78 e R$ 82 a saca”, informou. O Deral estima uma média de 2,9 mil quilos por hectare na região.
Rendimento da cevada supera 100 mil toneladas
Na cevada, mesmo com as condições adversas, a produção média cresceu na região. Neste ano, nos 29,2 mil hectares plantados, a estimativa de rendimento é de 3.903 quilos por hectare, contra 3.850 da safra anterior. O resultado previsto é de 114,1 mil toneladas, o que significa a maior colheita de cevada já registrada na região. “Estávamos estimando uma média de 4,2 mil quilos por hectare, mas agora já trabalhamos em torno de 3,9 mil quilos por hectare. Também reduziu pelos mesmos fatores climáticos. A cevada tem três classificações, sendo as duas primeiras destinadas para produção de malte. Entre 80% e 90% passou para produção de malte, e o restante, vai para forrageira”, informou Vantroba.
Na CT Agro, Marcio Krzyuy informa que as perdas foram maiores na cevada, girando em torno de 40%. E sem falar na qualidade, com metade da produção não podendo ir para a produção cervejeira, que é o principal objetivo dos produtores. “No ano passado batemos recorde de produção, colhendo 248 sacas por alqueire (cerca de 6,1 mil quilos por hectare), e nesse ano, colhemos 145 (cerca de 3,6 mil quilos por hectare). Nós investimos muito na lavoura, então nossos custos são mais altos, para produzir mais. Mas tivemos muita chuva e cerca de 50% vai para produção cervejeira e 50% para forrageira”, ressaltou.
AVEIA
PRODUÇÃO
A aveia é o terceiro produto mais plantado no inverno na região. A área de aveia preta aumentou em 360 hectares, totalizando 25,4 mil hectares, com perspectiva de colheita de 30,4 mil toneladas. Já a área plantada da variedade branca alcançou 22,8 mil hectares, após crescer 7%, e a perspectiva é de uma colheita de 54 mil toneladas nesta safra.
DESTINAÇÃO
Cada variedade tem uma destinação específica. “A aveia branca tem como destino alimentação humana e animal”, informa Vantroba. Já a aveia preta é mais utilizada para a cobertura de solo. “Ela é muito usada para produção de palhada. Uma pequena parte se colhe e guarda para o ano que vem, para o plantio”, completa o economista.