Excesso de chuvas reduz qualidade e produção de trigo na região
Apenas 14% da área plantada na região foi colhida. Umidade prejudica a qualidade do grão e está causando a proliferação de doenças. Algumas áreas foram afetadas de forma irreversível
Publicado: 20/10/2022, 18:39
A expectativa de colher quase 640 mil toneladas de trigo na região dos Campos Gerais foi frustrada e já não vai mais acontecer. O excesso de chuvas na região, registra há algumas semanas, já impactou na qualidade do trigo no campo, especialmente o que já era para estar colhido e ainda segue no campo, e isso causou uma redução na perspectiva de rendimento por hectare. Além disso, doenças são observadas nas plantações. Pelo momento do avanço do desenvolvimento e colheita, ainda é precipitado fazer qualquer projeção mais sólida, mas já há quem diga que a redução na região pode girar na casa dos 10%.
No momento atual, 14% dos 168,3 mil hectares de trigo plantados nos municípios dos Campos Gerais já foram colhidos. Dos 86% que faltam, metade está em fase de frutificação (que é a formação de grãos), e a outra metade está em maturação. A particularidade do trigo é que se trata de um cultivar bastante sensível quando está no ponto da colheita, que não pode apresentar muita umidade, para que não haja a perda de qualidade. Além disso, se houver muita umidade e o tempo passar, o grão começa a germinar na própria planta, antes da colheita.
Algumas áreas na região já eram para estar colhidas, mas o solo enxarcado está impedindo que as máquinas entrem no campo. “Nos municípios do norte da regional, onde o plantio ocorre mais cedo, já houve colheita, mas agora, no restante, nos últimos dias, está paralisado. E o pessoal está preocupado, porque nessas áreas prontas para serem colhidas, provavelmente podem estar com germinação na espiga, que é o que vai baixar a qualidade e vão colher com alta umidade, quando o solo permitir a entrada de máquina”, revelou Luiz Alberto Vantroba, economista do núcleo regional do Departamento de Economia Rural (Deral) em Ponta Grossa.
Além disso, o excesso de água nas espigas está reduzindo a qualidade do trigo. Dois índices de referências são os principais usados no trigo: o Peso Hectolitro (PH) e o Falling Number (ou índice de queda, que verifica os danos causados no grão de trigo). Enquanto o primeiro tem o valor de referência mínimo ideal de 78 kg/hl, o segundo tem 300 como ideal, sendo entre 250 e 300 segundos tolerável. Mas no momento, na região, tem produtor informando que o PH está na casa dos 73, e o Falling Number em 180. Sem os índices mínimos, o valor médio de mercado não é pago ao produtor e o produto não é destinado para a panificação.
As reais dimensões das perdas só poderão ser avaliadas após a colheita de toda a área, que deve ocorrer até 20 de novembro. “Temos alguns relatos de perda de 10% na produtividade e na qualidade. Mas é cedo ainda. Porém, tem áreas que a perda está consolidada e é irreversível. Já as áreas em fase de frutificação, pode melhorar o PH, porque ainda está na formação de grãos”, informa Vantroba.
Doenças
De acordo com Vantroba, a umidade tem ocasionado doenças severas nas plantações que estão na fase de enchimento de grãos. “O clima chuvoso está provocando o aumento de doenças como a giberela, mal do pé e bacteriose. Tem ainda outras, como a mancha, enfim, são várias doenças que estão afetando a cultura, o que também deve impactar na produtividade”, completa Vantroba.
Paraná
No Paraná, 12% das lavouras de trigo estão em condições ruins (contra 7% da semana anterior), com redução de 69% para 60% daquelas consideradas boas e aumento de 24% para 28% das que estão em situação mediana. Nesta semana, 54% da área paranaense foi colhido, o que mostra um atraso em relação a 2021 - no ano passado, nesta mesma 42ª semana, a área colhida já chegava a 74%.