Coluna Fragmentos: O fogão, a lenha e os hábitos alimentares nos Campos Gerais | aRede
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Coluna Fragmentos: O fogão, a lenha e os hábitos alimentares nos Campos Gerais

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Propaganda dos fogões Marumby, publicada no JM em 18 de janeiro de 1956
Propaganda dos fogões Marumby, publicada no JM em 18 de janeiro de 1956 -

João Gabriel Vieira

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Até pouco tempo o fogão a lenha era um utensílio fundamental na composição do cenário das cozinhas nos Campos Gerais. Nos últimos anos, com a popularização do fogão a gás, dos fornos elétricos e do microondas, o velho fogão a lenha perdeu espaço e gradativamente foi se tornando cada vez mais raro.

Mesmo assim, ainda é possível encontrá-lo, principalmente no sul do Brasil onde o inverno faz com que as pessoas o utilizem não só para o preparo de alimentos, mas como fonte de calor, o que propicia tradicionais momentos de sociabilidade. Aquecer-se em grupo ao redor do fogão a lenha e ao mesmo tempo matear, tomar café, sapecar pinhão, contar causos ou apenas conversar, é uma imagem que certamente tem espaço na memória coletiva de muitos que moram em Ponta Grossa ou nos Campos Gerais.

No Brasil o fogão a lenha é uma derivação daquilo que os tupi-guaranis chamavam de bingas ou tucurubas, e que nada mais eram do que amontoados de pedras que cercavam o fogo feito diretamente no chão e sobre o qual se assentavam as vasilhas de barro.

Ao longo do período colonial (XVI – XVIII) a matriz indígena foi sendo adaptada, dando origem aos grandes fogões a lenha das cozinhas das Casas-Grandes. No lugar do amontoado de pedras fizeram-se bases de argila sobre a quais se colocaram chapas de ferro trazidas da Europa. Com o passar do tempo os fogões foram se aproximando da aparência que possuem atualmente, sendo feitos em alvenaria ou metal, contando com serpentinas e aquecedores de água.

Mais do que uma necessidade fisiológica, os hábitos alimentares, bem como os suportes ou utensílios usados para produção de alimentos, refletem a diversidade cultural e a identidade de um povo. Desta forma, a alimentação varia de acordo com a região, as técnicas de produção, as tradições, a religião e, até mesmo, os padrões estéticos específicos de uma sociedade. Ou seja: as escolhas alimentares não se dão apenas por características nutricionais ou biológicas. É na soma de um conjunto de elementos, como os citados, que entendemos o porque da existência das cozinhas regionais ou locais.

No caso dos Campos Gerais, região que desde suas origens foi caracterizada por trocas culturais permanentes, encontramos uma cultura alimentar múltipla, que inclui influências indígenas, portuguesas, espanholas, alemãs, polonesas, ucraínas, italianas, sírias etc. Tal multiplicidade étnica e cultural foi decisiva para a formação da identidade regional. Nesse sentido, a culinária, as técnicas alimentares e o uso do fogão a lenha resultam e exprimem tal multiplicidade.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 17 de fevereiro de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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