Câmara homenageia equipe da UEPG que desenvolveu manual científico indígena
A homenagem foi proposta pelo vereador Dr. Erick e aprovada por unanimidade pelos demais vereadores de PG; projeto é inédito no país
Publicado: 22/08/2025, 11:01

A Câmara Municipal de Ponta Grossa conferiu uma Moção de Aplauso para os executores e participantes do “Manual Indígena de normalização bibliográfica para trabalhos científicos nos idiomas Kaingang e Português”, editado pela Biblioteca Central Prof. Faris Michaele, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A iniciativa é a primeira do tipo no Brasil. A cerimônia foi na última quarta-feira (20).
A homenagem foi proposta pelo vereador Dr. Erick e aprovada por unanimidade pelos demais vereadores presentes na sessão de 04 de agosto de 2025. O manual produzido na UEPG atende a uma demanda expressa há anos pelos coletivos dos povos indígenas que estudam na instituição. O protagonismo na tradução e adequação do conteúdo foi integralmente dos primeiros paranaenses. O material pode ser baixado gratuitamente clicando aqui.
O proponente da honraria, Dr. Erick, parabenizou a equipe pelo trabalho e se disse “muito feliz” por ver os indígenas ocupando os espaços e desenvolvendo trabalhos científicos na universidade pública. Ele afirmou também que a moção “é apenas um gesto simbólico que nós precisamos multiplicar na nossa cidade e no nosso país, porque o nosso país é indígena”. “Nós crescemos em cima de uma terra construída com trabalho indígena. Então, é o mínimo que podemos fazer”, declarou.
A diretora da Biblioteca Central Professor Faris Michaele (Bicen), Maria Lúcia Madruga, agradeceu o tributo. “Em nome da Biblioteca e da UEPG, agradeço pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido em benefício dos povos originários. Como diretora da biblioteca, fico e estou muito feliz, pois sempre digo e acredito que temos que ter uma visão social e humana. Uma nova norma de normalização bibliográfica para trabalhos científicos nos idiomas Kaingang e Guarani, materializa essa convicção”, afirmou.
Rosilene Gynprag Abreu, pedagoga kaingang da Terra Indígena de Faxinal, falou representando os colegas que trabalharam na escrita, tradução e revisão do material. “A UEPG abriu portas para mim, para fazer esse trabalho tão lindo que foram essas normas da ABNT com a tradução da língua Kaingang. Porque, para nós indígenas, falantes de outra língua, é muito difícil entender e compreender a língua portuguesa. Então, para mim foi um desafio muito grande. Mas, nós conseguimos”, destaca.

As homenagens
Foram homenageados Alexandre Kauaray de Quadros, Andressa Marcondes, Angela Maria de Oliveira, Bruna Taina Pó Tanh Paliano, Clodoaldo KrónKrónh Lucas, Cristiane Gonçalves de Souza, Daniele Aparecida Marcondes Krueger, Eunice Silva de Novais, Fátima Koyo Lucas, Felipe Coelho, Ione da Silva Jovino, Ivani da Silva, Janaina dos Santos, Joseani Maria Ferro, Karoline Aparecida Jorge, Leticia Fraga, Lislei Teresinha Preuss, Luiza Bittencourt Krainski, Marco Aurélio Martins Wrobel, Maria Lúcia Cazarin Bezerra Madruga, Maria Luzia Fernandes Bertholino dos Santos, Mateus Henrique Matias Claudino, Odair Sygtan Brasilio, Regina Aparecida Kosi dos Santos, Renato Pereira, Rosilene Gynprag Abreu, Simão Lucas, Willian Maciel.
Idiomas indígenas no Brasil
Quando os europeus desembarcaram no Brasil, em 1500, estima-se que moravam no território nacional entre dois e cinco milhões de pessoas, falantes de aproximadamente 1.200 idiomas e dialetos diferentes. O processo de ocupação do território nos séculos seguintes levou à morte de grande parte da população original do país. As causas foram diversas, incluindo doenças trazidas pelos recém-chegados, guerras, escravização, deslocamentos forçados e outras formas de violência. Como resultado, atualmente, estima-se que existam aproximadamente 274 línguas indígenas, preservadas por 305 povos, somando um total de 896,9 mil indivíduos.
Pelo menos até a metade do século XVIII, o tupi antigo com suas variações (principalmente a Língua Geral Paulista e a Língua Geral Amazônica/Nheengatu) era a principal forma de comunicação entre os habitantes do território. Foi o “Alvará de 28 de junho de 1758”, assinado por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, na época Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra na corte portuguesa, que proibiu o uso das línguas gerais indígenas no ensino e nos atos oficiais, impondo o português no Brasil.
O idioma português foi tomando o lugar das línguas indígenas ao longo do tempo e só se tornou oficial, do ponto de vista legal, com a Constituição de 1988. Foi essa mesma Constituição que garantiu o direito de falar e ser ensinado nos idiomas indígenas em todo o país, um direito que foi reforçado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/1996) e reafirmado pela Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais, de 2004, da qual o Brasil é signatário.
No Paraná, as duas línguas indígenas mais faladas são o Kaingang e o Guarani Mbya, uma vez que o idioma Xetá é considerado pela maioria dos linguistas dormente ou criticamente ameaçado, por apresentar um número reduzido de falantes (menos de 10 pessoas).
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Com informações: Assessoria de Imprensa .