Egressos da UEPG encontram a maior caverna de ‘tubos’ do planeta
Com dois quilômetros de comprimento, 'La Liebre' fica localizada na Argentina
Publicado: 18/08/2025, 15:57

Dois egressos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) são destaque internacional na área de espeleologia. O geógrafo Heder Leandro Rocha e a bióloga Daniella Franzoia Moss ganharam o prêmio da União Internacional de Espeleologia (UIS); considerado o mais importante da área no mundo; por terem encontrado e mapeado a maior caverna de piping (tubos) do planeta, com 2 km de comprimento, localizada na Argentina. A premiação ocorreu em julho deste ano.
O reconhecimento veio na 'categoria 1', ‘The most significant cave discovery/exploration’ (Descoberta/exploração de caverna mais significativa, em português). O trabalho apresentado no evento contou os principais resultados da expedição realizada em 2023, na província de San Juan, no noroeste argentino - atividade de onde veio a descoberta. “Receber o prêmio foi uma surpresa absoluta, já que é uma espécie de Nobel da Espeleologia. Pensar que a UIS considerou que o nosso trabalho resultou na descoberta/expedição mais significativa dos últimos quatro anos em todo o mundo, é de arrepiar”, conta a dupla.
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A expedição contou com uma equipe de 15 pessoas, vindas de quatro países diferentes: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, coordenada pelos espeleólogos argentinos Dino e Guillermo Mendy. O principal objetivo da viagem a época era realizar a topografia completa da caverna de La Liebre, além de explorar e prospectar cavernas próximas e suas possíveis conexões. “As cavernas ficam localizadas em uma zona montanhosa nas proximidades da localidade de Rodeo, que faz parte do município de Iglesia, na Provincia de San Juan. É uma zona de transição entre a pré-cordilheira e a parte frontal da cordilheira dos Andes e está a mais ou menos 2,5 mil metros de altitude”, conta Heder. De Ponta Grossa, a distância do local chega a cerca de 2,4 mil km.
MAPEAMENTO - As cavernas são formadas por tubos (piping), ricos em argila, limonitas e arenitos, formados no período Neógeno, da Era Cenozóica (entre 23 a 2,5 milhões de anos atrás). “A formação desses depósitos se relaciona com o processo de soerguimento [elevação de superfície] dos Andes e na sua posterior erosão, mas também com atividades tectônicas que seguem operando na região, com diferentes níveis de intensidade”, explica Heder.
Todo o local ainda tem abalos sísmicos recorrentes, com clima desértico quente - altas temperaturas no verão e baixas no inverno. “Em outubro de 2023, foi de 40ºC na área próxima a uma das cavernas, com a umidade relativa do ar em 3,4%, e havia alertas pela possibilidade de ocorrer o vento ‘zonda’, que é um vento quente e seco, típico dos Andes, e que carrega muita poeira já que desce a cordilheira no sentido L”, acrescenta.
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LEGADO DA UEPG - Como geógrafo, Heder foi líder de topografia e mapeamento na expedição, além de realizar o tratamento de dados e a produção do mapa final da caverna. Já Daniella é bióloga, e atuou na prospecção e exploração das novas cavidades, como a questão burocrática para licenças ambientais e coleta bioespeoleológica no local. Ambos carregam o que aprenderam na UEPG nos trabalhos de campo. “A formação que tivemos na UEPG, seja acadêmica, na pesquisa e extensão, e na política, foi central para a realização de trabalhos de cooperação científica internacional como esse”, explica o casal.
Para Daniella, a formação em 2011 no curso de Bacharelado em Ciências Biológicas a auxiliou a entender a relação das cavernas e o seu entorno, “seja do ponto de vista ecológico, de interesse zoológico ou ainda, no contexto da biodiversidade e geodiversidade da região”, conta. Desde os primeiros anos de curso, ambos já integravam projetos de iniciação científica, e destacam a forte influência dos professores Mario Cesar Lopes e Gilson Burigo Guimarães, pelo interesse no mundo das cavernas - Gilson orientou o TCC de Heder e auxiliou no estágio de doutorado de Daniella.
“A espeleologia é um saber e uma ciência transdisciplinar, e o curso de Bacharelado em Geografia [concluído em 2010] proporcionou na minha formação as ferramentas metodológicas e conceituais que hoje acabo por sintetizar no trabalho como espeleólogo”, sintetiza Heder, sobre o curso. O egresso ainda realizou o Mestrado em Gestão do Território pela UEPG, em 2013.
PRÓXIMAS ATIVIDADES - Em novembro deste ano, a equipe planeja uma nova expedição, agora de 15 dias, para continuar a exploração de cavidades na área, além de buscar outras áreas que apresentaram grande potencial para a ocorrência de cavidades. “Essa análise foi feita inicialmente em imagens de satélite, agora precisamos verificar em campo esses pontos de interesse, só que o acesso é bem mais complicado, pois estão em áreas de montanha, onde algumas superam os 3 mil metros, e cujo acesso se dá unicamente com mulas”.
Com informações: Assessoria de Imprensa.