Agro alerta: etanol brasileiro pode virar moeda de troca com EUA
Caso o governo ceda, impacto pode ser expressivo em investimentos, empregos e economia regional
Publicado: 05/08/2025, 16:57

O etanol brasileiro — embora seja apenas uma pequena fração das exportações para os Estados Unidos — pode acabar servindo de coringa nas negociações para evitar o tarifaço de 50% dos EUA. Caso o governo ceda e reduza a tarifa de entrada do combustível americano no Brasil, hoje em 18%, o impacto sobre o setor pode ser expressivo, principalmente em termos de empregos e economia regional.
Reduzir essa tarifa, alertam especialistas do segmento, seria um gesto bilateral crítico, com implicações estratégicas e políticas. O etanol foi o único produto citado nominalmente pelos EUA como exemplo de prática comercial “injusta”. Para seguir com as negociações e reduzir as tarifas sobre as exportações brasileiras, os americanos teriam interesse em uma contrapartida: a redução da tarifa de importação do etanol norte americano pelo Brasil, que hoje é de 18% - porcentual praticado em todo o Mercosul.
IMPACTOS - Fontes do setor ouvidas pela CNN Brasil, dizem que a possibilidade de o governo brasileiro ceder nesse ponto é “bastante provável”. Caso isso aconteça, as perdas podem afetar centenas ou milhares de empregos em polos como o Nordeste e Centro-Sul, com risco aos produtores de etanol e à cadeia sucroalcooleira.
Empresas e analistas afirmam que Trump também estuda estabelecer tarifas recíprocas sobre produtos naturais brasileiros — como milho, açúcar e terras raras — até mesmo vinculando sua pressão a questões estratégicas e geopolíticas. Ainda que o etanol brasileiro seja foco das negociações, ele representa pouco mais de 1% do total da produção nacional (cerca de 38 bilhões de litros ao ano), com cerca de 400–500 milhões de litros exportados aos EUA. Por isso, especialistas apontam que, mesmo com redução das tarifas, o impacto no preço interno ao consumidor seria limitado.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e Bioenergia Brasil alertam que taxar o etanol brasileiro como retaliação e sem considerar suas credenciais ambientais seria contraditório, afastando o país das metas globais de descarbonização. A carta das instituições ressalta que o Brasil promove o biocombustível como reforço à mitigação das mudanças climáticas — posição que não foi considerada pelos EUA.
O governo brasileiro avalia reduzir a alíquota de importação sobre etanol como moeda de troca, o que poderia facilitar concessões dos EUA nos demais produtos. No entanto, a proposta enfrenta forte oposição no setor e tem implicações tanto econômicas quanto políticas.
PREÇO - Julho marcou a menor média nacional dos preços do ano para gasolina (R$ 6,35) e etanol (R$ 4,36). O etanol mais barato foi verificado no estado de São Paulo (R$ 4,08 na média). A queda é generalizada, mas os maiores beneficiados foram os consumidores do Sudeste e Centro‑Oeste. O etanol ainda é competitivo em poucos estados, mas tem apelo ambiental importante.
Com informações da Agrofy News.